Os moços da turma

A minha turma de primeira série ginasial de 1962. em Pitangui, MG, chegava na chamada ao número 44. Eu era o número 38, entre o Paulo Roberto e o Sander. Uns dois ou três alunos , admitidos depois do encerramento das matrículas, embora alfabeticamente qualificáveis para números mais baixos, foram adicionados depois do último da lista regular, que era o Wellington de Oliveira Lima, mais conhecido por Cabrito.

Coisa de meia dúzia, ou um pouco mais, era de repetentes, facilmente reconhecíveis por suas calças de uniforme de brim cáqui já um tanto desbotadas e, naturalmente, pega-frangas...ou seja, com a barra já bem acima dos tornozelos... e eram também mais desembaraçados no trato social, ou seja, mais ativos no bullying dos mais vulneráveis...

O grosso da turma era composto de pre-adolescentes, e adolescentes já titulares, com voz grossa, espinhas e progressivos buços...Antônio era o nome mais frequente: eram seis, mais um bom número de Joãos e Josés... E o número 24, normalmente outro alvo de gozações era o Lindenberg Libério Lobato que, por já rapazinho e bem musculoso, passou infenso às zoações.

Compridões mesmo eram dois, Antônio Carlos, o Nico, e o Mozart Teixeira, o Ratão. Mas tamanho, ou gordura, à parte, já havia quatro moços formados, jovens adultos, de minhas lembranças: o Antônio Teixeira Lemos, o Benedito Vicente de Paula, o José Nazareno das Mercês e o Maurício, que não era residente na cidade, e chegava sempre a cavalo.

Esses quatro, dos quais só um cavaleiro, mas nenhum do apocalipse, não se envolviam nas estripulias da turma e, sem se pretenderem lideranças, eram respeitados, porque também já trabalhavam. E se barbeavam. O Teixeira, por exemplo, além de aluno exemplar, já fumava, trabalhava e namorava, e não sei como tempo para isso tudo ele achava. Vai ver que é porque não fosse tão fã do futebol, ou da sinuca... O Bené, filho do Brumado, como eu, longilíneo e com o arremedo de um cavanhaque, passara entre os primeiros no tardio curso de admissão, e já militava no conserto de rádio (https://www.recantodasletras.com.br/infantil/6516870). Um pouco mais sobre ele está no link citado...Tinha na turma um irmão menor, mas só uns dois centímetros, o Concesso, também muito inteligente, e fã do futebol... Já José Nazareno, o Leno - não confundi-lo com o outro Nazareno, o José Nazareno de Freitas Bahia, vulgo aceito com relutância, Bolão - bem, o Leno deveria ser o mais velho da turma, filho de um Senhor Wilson que todo mundo conhecia somente por Sêo Virso, já era pedreiro e, se não me engano, casado então...

Pois, Zezé, do quatro falta um: justamente o cavaleiro Maurício, cujo sobrenome até esqueci...Era um moço bem apanhado de porte e aparência mas um tanto recluso, a ponto de ser refratário às iniciativas de convívio, ou mesmo de papo. Duma feita, o Marcos Ribeiro, o canhotinha Fifi, amigo de todos, comentou comigo sobre uma frustrada tentativa de aproximação com o recalcitrante Maurício. E não demorou muito, Maurício nos deixou também, sem que sua origem ou rumo soubesse ninguém...

Desse quarteto, somente o Teixeira prosseguiu conosco nos quatro anos que nos esperavam, aprovado sem necessitar de exames finais em razão de seu excelente aproveitamento.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 26/01/2021
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