Diário arregalado da Carolina
Hoje é o primeiro dia de mim mesma. Sou uma menina. Nossa, que legal poder dizer isso. Uma menina, sabe, com todos os grilos e incertezas dados pela vida. Assim, sem querer ser melhor ou pior que ninguém, mas com uma vontade de dizer o que sinto e tenho vontade para os outros e para as outras que sempre me olham atravessado
Eu? Tou nem aí. Sou uma menina. Descobrir isso é muito massa. Sentir o que estou dizendo me livra de tantas obrigações dadas sem necessidade a uma pessoa da minha idade. Nossa, uma vontade de pegar meu batom e rabiscar todas as paredes do meu quarto: sou uma menina, se ligue aí!
Carolina, sem enfeites. Direta, plena, com a vontade de viver desenhada nas palmas de minhas mãos. É só olhar com um pouco de atenção e perceber o que estou dizendo.
Hoje posso dizer que não sou triste nem alegre. A poesia, a própria poesia de mim mesma, porque tenho uma luz tão ofuscante de incomodar o olhar dos curiosos ou dos focos atravessados, tombados na energia negativa com desejo de me tombar.
Quero nem perder tempo com esses pensamentos sem valor nenhum. Sou uma menina, hoje é o primeiro dia dessa emancipação dada a mim, por mim. Já até desenhei bem aqui, na porta do meu guarda-roupa, meu nome bem vivo: Carolina.
Adoro meu quarto. Aqui é o meu universo. Nele, sou quem sou e ninguém para me impedir. Tenho tudo e tudo me sobra: tenho a felicidade plena de ser quem sou.
No meu quarto, calço todos os saltos e me visto de todas as fantasias de sentir de mim. Dou asas aos meus desejos, pego meus lençóis e faço no meu coro todas as roupas possíveis. Eu sou uma estrela, uma popstar.
Mas não pense que tudo isso é somente flores não. Aqui, nesse meu universo, também tenho meus desencantos: vivo minhas dúvidas, penso nas minha incertezas, sinto faltas de amizades mais reais, sofro de amores por boys indelicados, incapazes de perceber o olhar de cobiça de uma menina.
Às vezes tenho altas crises de choro ecacho a vida um saco. Sei lá, as pessoas ao meu redor choram e reclamam mais que conseguem sorrir e vibrar um alto astral mais legal. Também não tenho todas as respostas para todas minhas dúvidas, acredito em uma vida mais light, sem os grilos dos adultos de oombros tão pesados, corpos infelizes e línguas tão vingativas.
Outro dia ouvi tanta reclamação do lado de fora do meu quarto, uma poluição sonora de palavrões e revoltas saídos da boca dos adultos de minha casa que meu coração disparou de medo de crescer. Acho que não quero passear dessa fase de ser menina. Pronto, crescer até aqui já basta, parece que ter responsabilidades é doloroso demais.
Eita, nunca pensei em escrever tento nesse primeiro dia de mim mesma, e veja que estou só começando. Ainda nem falei quem sou ou o que quero ser amanhã pela manhã.
Porque o dia hoje foi de expectativas. Gostei de passar um tempo na frente do espelho de escutar a minha própria imagem. Ela me dizia coisas maneiras, sobre mim, coisas conhecidas e desconhecidas. Passei a enxergar o mundo ao meu redor maior que eu mesma. Abre até possibilidades de me perder só para ter a desculpa de me procurar. Parece esquisito, mas não é, é que precisamos sair, vez por outra, dessa coisa que enfiam a gente, só assim as ideias vão se desenvolvendo e a gente vai percebendo as todas dadas pelo mundo.
Só para ter uma ideia, eu andei perdida por muito tempo, sempre acreditando nas verdades ditas pelos outros. Os outros decidiam tudo de mim: quem eu era, meu nome, meu comportamento, a maneira como deveria me vestir... Tudo isso me incomodava muito, não ajudava a eu ser eu de verdade. Eu era a vontade dos outros, do jeito que me mildavam.
Aí eu aprendi a escancara a boca, sorrir mostrando os dentes. Depois percebi a vodtsira de enfiar o dedo no nariz, tirar melecas e passar um bom tempo brincando de nada.
Os outros me relrovavam, diziam ser repugnante essa brincadeira tola. Eu não achava isso, continuava a fazer, só que ganhei o apelido de melecão e ninguém mais gostava de sentar perto de mim e de apertar na minha mão.
Parece que as pessoas não tem dimensão da maldade. Ela desenvolceram o prazer de deram chatas, incovenientes, reguladoras dos desejos dos outros. Daí descobri a fta de naturalidade e o direito de ter liberdade de escolha nesse vida. A vida parecia uma receita de bolo, e ruim, obrigado a ser engolido a força.
Não sabiam meus amigos e amigas do meu desejo mais secreto: comprar um bolo de padaria com uma cobertura enorme, chame todos e todas para comemorar o eu niver e depois dos parabéns, sem que ninguém esperasse, eu enfiar minha cara no glacê e depois ficar olhando para as caras de panacas dos que me olhavam.
Quem me lê falando da vida talvez tenha a impressão que eu não tenha prazer em viver, não é isso. Tenho o maior prazer de descobrir minha vivacidade e a certeza de ser uma menina. São verdades maravilhosas. Só não posso esquecer a dor de descobrir isso longe das verdades dos outros. Os outros pensam que somos objetos ou massa de modelar, mas não somos.
Somos o principio da liberdade, descobrir isso é bom demais.
Esse diario arregalado de Carolina é para isso, para eu ter o direito de falar abertsembte de mim, sem as receitas dada por adultos sem criativa de perceber as rodadas dadas pelo mundo.
Eu não sou uma menina de há cem anos atrás, sou desse tempo, dessas mudanças, desse mundo tão maluco e diverso.
Daqui a pouco eu volto para dizer outras coordenadas de mim. Por agora, eu só queria testar o meu poder de registar um pouco de mim. Nessa primeira página, já cheguei chegando, como disse lá por cima: sou poesia.
Que me entender? Pois decifre os meus enigmas.
O que sou? Uma menina...Carolina.