Pequeno Teatro da Civilização Ocidental - III. Período Clássico, das leis à cultura

NARRADO

Das civilizações suméria e egípcia, passando pela união das cidades-Estado gregas, pelo império persa e a difusão da cultura helenística até chegar ao grande apogeu de Roma, o homem evoluiu de sua religiosidade e formas geometrizadas para a busca filosófica e naturalista. Nesse salto espetacular ele desenvolveu conceitos como cidadania, democracia e metafísica, chegando até mesmo a flertar com a teoria atômica e o heliocentrismo. Ao tentar descrever o seu mundo por meio da reflexão, o homem elevou a ciência, as artes e a cultura a níveis não superados nos quinze séculos seguintes.

Descrição da cena:

Cléripe debate com senadores uma proposta de escolha para os cargos públicos que fosse ainda mais democrática e justa que a eleição pelo voto.

CLÉRIPE

Senadores e demais homens livres aqui reunidos, fica a pergunta: como vamos resolver esse impasse?

CÍMON

Caro Cléripe, todos os senhores aqui presentes podem votar e ser votados. Não existe forma mais perfeita e mais democrática de escolha.

CLÉRIPE

Senador, não estamos dizendo que a escolha pelo voto seja ruim. Apenas mostrando que ela não é justa o suficiente.

CÍMON

Como não é justa? O próprio Clístenes não seria mais ousado! (indignado)

TESEFIÃO

Um momento senador Címon, deixe-o falar.

CLÉRIPE

Todos os homens livres, ricos e pobres, podem votar e ser votados. Porém, o poder político permanece sempre com as mesmas famílias.

CÍMON

A fortuna de algumas famílias não é motivo de desonra, é uma virtude que deve ser valorizada!

TESEFIÃO

Concordo, senador Címon, o poder e a riqueza de um homem não são motivo de desonra.

CÍMON

Obrigado, senador.

TESEFIÃO

Porém, a riqueza herdada ou adquirida tampouco é uma virtude, mas rende sempre muitos votos. Cléripe tem um ponto interessante.

CÍMON

Caro senador, está afirmando que eu não tenho virtude necessária para o cargo por ser de uma família aristocrática?

TESEFIÃO

De modo algum! Apenas recordei que a virtude que queremos é somente aquela adquirida pela prática recorrente da ética, quando se pratica o correto mesmo sem a obrigação de fazê-lo.

CLÉRIPE

Pelo mesmo motivo, não devemos votar em um bom pagador de impostos. Não existe virtude na ética passiva, quando se age involuntariamente ou por coerção.

CÍMON

E qual é a sua proposta, caro Cléripe? O que poderia ser melhor do que a escolha pelo voto??

CLÉRIPE

Caros senadores, eu proponho um método que trate a todos igualmente, sob as mesmas regras e sem distinção: um sorteio!

TESEFIÃO

É realmente uma proposta interessante, entretanto, como todos poderiam participar, não corremos o risco de escolher alguém sem a virtude necessária?

CLÉRIPE

Todos os homens livres podem participar do sorteio, mas, o escolhido deverá ser virtuoso e cumprir com os critérios atuais.

CÍMON

Não vai funcionar, podemos sortear alguém que more longe, no interior ou no litoral. Não podemos depender de alguém que ficará a maior parte do tempo ausente da assembleia...

TESEFIÃO

Todos os cidadãos têm o direito à palavra, à igualdade das leis e à participação política. Caso precise, podemos pensar em alguma forma de compensação financeira.

CLÉRIPE

Ninguém deverá ser penalizado em seu direto à plena democracia. Perfeito, senador! Acho que conseguimos.