Capítulo 3 - Ela partiu – De novo


 
Acordei com um carinho no cabelo que me fez sorrir mesmo de olhos fechados. Segurei a mão dela e beijei seus dedos.

- Bom dia, Hassenback!

- Hassenback? - Quando abri os olhos, quem me olhava surpresa e meio brava era Mariah. Sentei-me rapidamente. – Quem é essa, Ander?

- Mariah o que você está fazendo aqui? - Pulei da cama, nervoso.
Se a Mariah está aqui, cadê a Lana?” – Você me disse que voltaria só no mês que vem!


- É, mas cancelaram a apresentação do trabalho e eu consegui voltar antes. Não está feliz em me ver?

- Estou, mas... – Abri a porta do meu quarto e a fechei rapidamente. – Eu preciso sair daqui a pouco, podemos conversar mais tarde?

- Quem é Hassenback?

- Hã?

- Você acordou chamando por Hassenback. Quem é ela?

- Mariah, eu realmente... – Ela parou na minha frente. Sua expressão era séria. – Você sabe muito bem que nosso lance era totalmente casual.

- Engraçado, não parecia nada casual quando eu viajei.

- Não parecia, mas era. Eu nunca te prometi nada.

- É aquela tal de Lana, não é? A paulista!

E nesse momento, para piorar o que parecia impossível de ser piorado, Lana entrou no quarto. Primeiro ela me olhou, sorridente e depois notou Mariah numa pose nada amistosa. O clima fechou no mesmo instante.

- Desculpa, eu não sabia que... – As duas se encararam. Mariah era morena, de cabelos curtos e muito cacheados e ostentava um olhar de quem parecia estar sempre atenta com as coisas a sua volta, já Lana, manteve-se extremamente serena. Irritantemente serena. Como sempre. – Bem, eu vou sair.

- Então é você a famosa Lana Hassenback? – Lana não respondeu, apenas a olhou. – Sabia que ele estava comigo antes de eu viajar? Agora, por sua causa, está agindo como se não tivéssemos nada!

- MARIAH! – Exclamei, segurando-a pelos ombros. – Lana, não é nada disso que você está pensando. – Ela me olhou confusa e decepcionada demais para me responder.

Bastou olhar para seus olhos e eu soube exatamente o que pensava.

- Com licença. – Disse, antes de sair as pressas. Eu soltei Mariah, ignorando seus chamados e corri atrás de Lana. – Ander, não.

- Ela está mentindo, Lana! Pelo o amor de deus, acredita em mim! - Consegui segurá-la na escada, mas ela não me olhava. – Olha pra mim, Lana! – E nada. Ela baixava a cabeça, parecendo, na verdade, envergonhada por estar prestes a chorar. – Lana! - E quando me olhou, tinha muita decepção em seu olhar. – Será que você pode me ouvir?

- Eu só quero ir embora.

- Não, Lana! Não faz isso de novo! Não me tira da sua vida assim.

- Eu acho que nós nunca ficaremos juntos, Ander... Parece algo impossível de acontecer.

- Não fala isso! Eu não estava com ela! – E por maiores que fossem as minhas tentativas de reverter aquele mal-entendido, Lana só me olhava desolada e totalmente distante. Eu vou perde-la de novo. – Lana, por favor, fala alguma coisa. Por favor, Lana! – Segurei o rosto dela, desesperado.

- Eu preciso ir embora.

Quando a soltei, ela seguiu pela calçada fungando alto, mas segurando o choro. Era orgulhosa. Ser como Lana era totalmente inadmissível. Sentir e não falar? Por que? Sentimento tem que ser dito, tem que ser sentido. As coisas precisam ser faladas. A gente tem que falar o que sente. Para que serve o sentir se você não puder falar?

Movido por essa fé inabalável que nem eu mesmo sei de onde surgiu, corri em sua direção e a abracei por trás. Enquanto ela segurava a vontade de chorar, eu, o idiota passional já sentia as lágrimas quentes descerem pelas minhas bochechas. Não. Isso não pode estar acontecendo. De novo não.

- Eu estou te implorando, Lana. Não faz isso, não vai embora assim. – As pessoas que passavam pela rua começavam a nos olhar. – Me dá uma chance, eu posso explicar. - Ela balançou a cabeça negativamente. – Não deixa o seu orgulho nos afastar!

E aconteceu de novo. Ela estava partindo e nada do que eu dissesse a faria mudar de ideia.

- Acabou, Ander. Adeus.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 20/02/2020
Reeditado em 30/10/2022
Código do texto: T6870851
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