A Cidade dos Corvos - O Sangue
Desci as escadas correndo, suspirando, suando, fechei a porta do meu quarto e fiquei ali quieto parado,imóvel,só esperando os passos se aproximando mas não houve barulho nenhum. O baú estava na minha mão, estava tremendo,e ela estava suando, foi então que eu coloquei o baú em cima da minha cama, e tentei puxar com todas as minhas forças,usei a espada, joguei no chão, pulei em cima,e nada de abrir, tentei de todas as forças abrir, e nada.
-Anda…..sua…...porcaria! - chutei o baú.
Missão fracassada. O baú não queria abrir.
Exausto, o sono bateu, e eu me joguei na cama e peguei no sono,sonhei um sonho, um sonho muito real, havia uma velhinha de cabelos brancos,deitada em uma cama, e escrevendo em um pergaminho, tudo era bem velho, a Senhora,assim que terminou o pergaminho,colocou dentro do baú, espetou o dedo e deixou o seu sangue cair no baú, e ficou lacrado, a velha deitou-se na cama e acabou dormindo...mas ela ficou pálida…...ela estava morta!. Tudo ficou escuro. E então, clareou-se de novo, e apareceu a Senhora novamente, o pergaminho ainda não havia sido escrito ela apontou o dedo para a minha direção, e então disse:
-Meu Querido…...eu….estou partindo…...sei o quanto você sentirá a minha falta. Por favor, não chore….não….não...não….por favor….
Não chore! - a Senhora falou suplicando para mim. - Virá alguém muito importante para todos nós,que compensará todo o nosso sacrifício. Acalme-se…..não precisa chorar. - falou a Senhora.
Ela permaneceu em silêncio mas logo quebrou ele dizendo:
-Meu Querido…..não fica assim…. - falou ela com lágrimas nos olhos.
-Senhora…..desculpe….mas não estou entendendo nada….. não te conheço…..sinto muito mas não te conheço não. - falei meio sem jeito.
-Ei….por favor…..não chore!.....eu estarei bem aqui…dentro do seu coração…..eu….. John…...eu posso ver…..ora posso ver!......- a Senhora sorriu e pegou a caneta e começou a escrever no pergaminho. - John…..vira algo incrível na sua família!....não perca as esperanças….ora não perca as esperanças! - bradou a Senhora.
O silêncio novamente.
E aconteceu a mesma cena que antes, só que diferente: a Senhora apertou a mão de alguém, e então disse:
-Johnatan você será um grande homem! E quem virá após você também. Não se esqueça disso! - falou a Senhora.
-Johnatan?! Não….Senhora….não me chamo desse nome não. - falei ainda meio confuso.
E o sonho acabou. E eu acordei com o barulho da porta, era a empregada, ela estava desesperada, foi abrindo as cortinas e se virou para mim e disse:
-O que foi que você aprontou?! - falou ela parecendo uma mãe com as mãos na cintura.
-Ah...bom dia para você também. - falei revirando os olhos.
-Diga….o que foi que você aprontou?! -falou ela seria.
-Mas….porque?! Porque está me perguntando isso?! - falei sem entender.
-Medusa está uma fera! Falou para mim vir aqui te acordar. E estou aqui!..agora….diga o que você fez?! - falou ela que parecia impaciente.
-Eu não fiz nada! Nadinha! - falei e debaixo do cobertor cruzei os dedos.
-Mentiroso! Essa mulher é maligna! É má Tom! Seja-la o que você fez, por favor, trate de desfazer. Você ouvir bem?! Agora, trate de descer, pois, ela está lá embaixo te esperando. - falou a empregada que bateu a porta com tudo e eu revirei os olhos e suspirei de saco cheio mesmo.
Vesti a pantufa, e fui descendo as escadas, cheguei bem na hora que Medusa estava bufando ela se virou para mim e os seus olhos ficaram vermelhos vivos, eu engoli a seco, eu abri a boca para falar mas ela foi logo me interrompendo.
-Cale-se!!!!!.... Foi você que entrou no meu quarto esta noite e pegou um baú?! - questionou ela ferozmente.
-Baú?! Que baú sua doida?! Sei nem onde você dorme. - falei revirando os olhos.
-Não me zomba moleque! - ela bufou e segurou o meu pescoço novamente, e quando estava sem voz quase eu coloquei a mão no bolso e tirei a espada, ela me soltou rapidamente e eu falei ainda retomando o ar.
-Se você encostar a mão de novo em mim, eu juro pelo o meu pai mortinho que eu arranco a sua cabeça fora! Está me entendendo?! - falei suspirando mas ao mesmo tempo procurando manter a calma.
E sai correndo do lugar e subi as escadas e fechei a porta do meu quarto. Fui até debaixo da cama e peguei o baú, e tremendo tentei abrir novamente, não deu certo. E sentado na cama frustrado, fechei os olhos e então me lembrei do que a Senhora me falou no sonho: ela chamou o garoto de Johnatan!.
-Johnatan…..só pode ser…..só pode ser o meu avô! Será que era o meu avô?! Então aquela era…...era…...Ah só pode estar de brincadeira!.....- peguei a espada e espetei o meu dedo e o sangue logo veio e então, eu coloquei no baú, o baú logo se abriu e eu fiquei surpreso, não imaginava que aquilo seria possível. Olhei dentro do baú e continha o pergaminho enrolado lá dentro exatamente como eu havia sonhado, eu peguei, e desenrolei ele e então eu li:
" -E Esse será, o escolhido, entre gerações seguintes,ele terá algo especial, algo que ninguém jamais terá: A Morte fugirá dele.
Ele não morrerá, antes que o solstício acabe,ele ouvirá vozes que o pedirão ajuda, que gritarão o seu nome. Pois, uma montanha virá, e tentará cobrir o sol…...mas o sol…. brilhará mais reluzente que uma estrela.
Não se pode fugir da morte, nós sabemos, mas ele tem algo que o protege, e será para sempre lembrado. Será memorável. Quando ele chegar e abalar a montanha do lugar, não sobrará pedra por pedra. Montanha por montanha. E o sol brilhará novamente. - "
Mas não entendi nada do que havia escrito, sem pensar duas vezes, eu peguei o pergaminho, enrolei, e então coloquei no bolso, e peguei a meia que eu havia ido no banquete, enrolei e então coloquei dentro do baú, espetei o meu sangue novamente e o baú selou.
Dei risada. Adoraria ver a cara de Medusa quando visse o que havia dentro dela. Estava decidido, eu iria simplesmente devolver o baú do jeitinho como ele estava, e dito e feito, quando anoiteceu e o silêncio pairou sobre a casa, desci as escadas lentamente, e quando cheguei na porta de Medusa, eu suspirei e coloquei a mão já maçaneta, e então, eu abri, vi um embrulho na cama, pensei: "ela estava dormindo.", E foi eu virar para fechar a porta novamente, que a luz do quarto se acendeu e só ouvi uma voz atrás de mim:
-Não era você né?! - falou a voz que eu sabia de quem era e então engoli seco e o meu coração acelerou rapidamente de puro desespero.