A Cidade dos Corvos - É Hora de Acordar

Eu estava morto, destruído, não conseguia mover nenhum músculo,o corpo estava cansado,e a mente muito mais ainda. Lindsay continuou o trabalho dela de me encher de livros pesados, e a cada treino mais e mais eu pensava se era exatamente aquilo que eu tinha que fazer, e se adiantava alguma coisa. Apesar dos treinos cansativos,meu corpo estava começando a ficar mais rígido, mais duro e mais firme,mas eu ainda sentia dores.

Alguém bateu na porta do sótão, e eu não conseguia nem me mover naquele sofá duro, mas era aquilo que eu tinha no momento, os treinos estavam já na segunda semana,e se cada alma pesar os pesos dos livros,eu estou ferrado!

-TOM! LEVANTA! HORA DE TREINAR! -Gritou Lindsay do outro lado da porta do porão.

Eu suspirei….. não aguentava mais aquilo…duas semanas com esse peso horrível nos ombros..duas semanas de um treino bizarro…. certamente se eu tiver mais um treinamento eu vou morrer.

-ESTOU INDO LINDSAY! -gritei de volta enquanto procurava criar coragem para levantar.

Respirei fundo, e então, com um pouco de coragem, me levantei, o meu corpo estalou,eu realmente estava morto…..não literalmente…..Ah vocês entenderam.!... Fui subindo as escadas, e quando abri a porta, Lindsay estava ali sorrindo para mim com um bandeja nas mãos.

-Eu sei que você está cansado mas sabe como é né?! Somos parceiros. Toma. Aqui está a bandeja. - sorriu ela oferecendo a bandeja para mim e eu peguei e fomos caminhando até a cozinha.

-Onde está o James?! - falei curioso.

-Ah obviamente trabalhando…..ele só sabe fazer aquilo - sorriu ela.

Ela estava estranha….. totalmente diferente… parecia estar com um brilho nos olhos.

-O que há de errado com você?! -perguntei enquanto comia o pão com presunto e queijo.

-O que?! - ela falou distraída - nada….não há nada. Hoje o treino vai ser puxado. - ela desconversou.

-Tem certeza que não é nada? Porque para mim tem alguma coisa aí que você não quer falar. - falei erguendo a sobrancelha.

-Ai tá! Você é um porre sabia? - falou ela meia irritada.

-Ta! Agora me fala o que aconteceu? - perguntei com a boca cheia.

-Argh! Tá bom eu falo…...eu consegui finalmente namorar com alguém, com o um carinha aí que eu tô gostando. - falou Lindsay sorrindo animada com os olhos brilhando.

-ahn….então é isso….mas isso faz você ficar com cara de besta? -falei tomando um gole de suco de laranja.

-Eu não estou com cara de besta não viu?! Já acabou? Lava a louça. - falou ela levantando e mudando o semblante.

Ela estava sim com cara de besta, só ela que não conseguia ver aquilo.

Após lavar a louça, fui caminhando até a porta como sempre fazia, e indo para os fundos da casa, e lá estava a prateleira e lá também estava os livros malditos, e também lá estava a bendita árvore que ficava alguns metros de distância da casa. Ao ver aquele cenário eu suspirei, e já imaginei que alguma coisa não daria certo naquele momento, Lindsay me deu o líquido, e eu bebi, e então, fui amarrado na corda novamente, e comecei a puxar, enquanto Lindsay foi colocando os livros dentro da prateleira que ficava com as portas para cima, e enquanto fui puxando lentamente, minha visão escureceu, e eu achei aquilo totalmente estranho e diferente. Mas continuei, continuei puxando a prateleira,e novamente tudo ficou rodando, respirei fundo e parei, fechei os olhos e eu vi uma garotinha loira na minha frente, eu levei um susto, e senti um baque do meu corpo caindo no chão, e tudo ficou escuro.

A menina loira estava me olhando com um olhar desesperada, e soltou um grito agudo, tão agudo que me fez eco dentro da minha cabeça.

Ela pedia por socorro, e grunhiu de tanta dor, e tudo ficou Escuro.

Eu abri os olhos, e uma luz branca veio nos meus olhos, incomodado eu fechei novamente, e ouvi um som, um som de alguém chorando,e logo reconheci de quem era….era a minha mãe.

Eu abri os olhos, e a vi encostada no pé da minha cama, chorando e rezando.

-Querido Senhor…..por favor…...não deixe o meu menino morrer…..por favor…..não o leve da minha vida….não o tire da minha vida….- e as lágrimas escorrendo do seu rostinho.

Eu não me contive, uma lágrima escorreu do meu rosto, e eu segurei em sua mão e ela me olhou e debulhou em lágrimas novamente e eu chorei junto com ela.

-Filho?.... -falou ela com voz de choro.

Eu tentei falar,mas eu estava entubado, não conseguia mas chamei ela em pensamento.

-Filho…..você consegue me entender? - perguntou ela com um olhar desesperado.

Eu confirmei com a cabeça e apertei a sua mão.

-Graças ao meu bom Jesus! Vou chamar o médico, fique acordado. Por favor. - falou ela desesperada e correu passando pela porta.

O meu estômago embrulhou não senti vontade de vomitar,algo muito novo e que nunca aconteceu desde agora, o médico veio apressadamente, e ao me ver, ficou surpreso.

-Eu…..eu confesso que isso….isso é impossível! - falou ele realmente muito surpreso.

-Doutor….ele está lúcido…..consegue responder…..ele me respondeu. -falou minha mãe.

-Tom? Você consegue me ouvir? - falou o doutor muito sério.

Eu confirmei com a cabeça.

-Consegue me responder? - perguntou ele.

Novamente eu confirmei com a cabeça.

-e poderia me responder escrevendo?- falou ele pegando uma lousa e uma caneta.

Eu confirmei novamente.

Porque ele estava me perguntando aquilo? Era óbvio que eu conseguia escrever, fui alfabetizado.

O doutor colocou a lousa no meu colo,e colocou a caneta nas minha mão esquerda. Limpou a garganta e então, começou a perguntar:

-Poderia escrever o seu nome?-perguntou o doutor.

Eu assenti.

E escrevi : TOMÁS RIVERS.

-Otimo…..Muito bem Tom. Isso aí. Muito bem. - falou o doutor. -Agora, poderia escrever o nome da sua mãe?- perguntou ele.

Eu assenti.

E escrevi: ANDRESSA MARIE RIVERS.

Minha mãe deu um gritinho baixo de felicidade.

-Ótimo tom….isso é ótimo….agora….escreva para mim o primeiro sentimento que está sentindo nesse exato momento. -falou ele.

Eu respirei fundo, descrever todos esses sentimentos que eu estava sentindo era muito complexo, e então, procurei um único sentimento apesar de não estar sentindo somente aquele.

E quando eu encontrei o sentimento, eu respirei fundo e escrevi:

FOME. EU SINTO FOME.

Minha mãe sorriu para mim e enxugou as lágrimas do rosto, esse era o único sentimento que eu tinha no momento, só sabia sentir fome, só queria ir para casa e ficar com a minha família e amigos, eu não queria mais nada na minha vida. Não queria ficar mais nenhum momento aqui nesse hospital. Não aguentava mais. Eu só quero voltar para casa.

-Muito bem Tom, nós vamos tirar o tubo de respiração e vamos te dar algo para comer. Só espere um momento. - falou ele.

E ele saiu da sala e ele saiu do quarto e veio logo em seguida trazendo duas enfermeiras, a enfermeira tirou o tubo da minha garganta o que foi uma sensação que me incomodou, mas também, que foi de um baita alívio. Eu respirei fundo, e finalmente abri a boca e falei:

-Muito bem,e agora, cadê o rango? - falei com a voz meia rouca.

A segunda enfermeira veio trazendo uma bandeja, muito parecida com a bandeja que Lindsay havia me dado, eu comi aquela comida e pude respirar aliviado, porque eu sabia que eu estava ficando bem e a fome sumiu. O doutor assim que eu acabei de comer, sorriu para mim,e disse:

-Bem Tom, vou ser sincero,não esperávamos que você fosse retornar. Você ficou em coma por muito tempo, tempo o suficiente que eu achei que você estava entrando no modo vegetativo, e quando, achamos que que você havia morrido novamente, você revive e nos mostra ao contrário. Vamos fazer um exame, para ver se está tudo bem, e eu quero te dar alta daqui,talvez, se estiver tudo bem é claro, talvez, se você estiver bem nos exames. Por isso, aguenta mais um pouco, que logo logo estará em casa. - falou o médico. - seus exames, serão feitos hoje e até sexta feira estarão prontos e eu te darei alta. - sorriu o médico.

-Se Deus quiser! - falou minha mãe e me beijou na testa.

E eu me senti em casa novamente,essa sensação era tão boa. Eu estava sentindo falta dessa realidade tão anormal.