A Cidade dos Corvos - Mentiras
-Tom! O que aconteceu? Você vomitou aquela água de novo? E o seu nariz? - perguntou minha mãe desesperada.
-Mãe, não foi nada…...tá tudo bem…..isso acontece com frequência. - falei meio cansado.
-A Enfermeira falou que você saiu do quarto essa noite, e entrou em um outro e logo em seguida, a menina morreu. Tom,o que você fez? - perguntou minha mãe séria.
-O-oque? Eu não fiz nada mãe. Eu juro. Eu deveria estar sonâmbulo
- falei tentando passar verdade no meu olhar.
-Tom,desde quando você foi alguma vez sonâmbulo?! Filho…..me escuta….se tiver alguma coisa incomodando você….qualquer coisa…..pode me falar. - falou minha mãe preocupada.
-Mãe, fica tranquila. Eu prometo que vou contar. - mentira.
Era mentira.
-Hmmmmm….então tá bom - falou ela. - seus amigos vão passar aqui um pouco antes da escola. Por isso, se anima hein?? - falou minha mãe sorrindo.
-Jura?! Eles vão vir? Eu não acredito! Que saudades deles….da Jenny…..- falei e realmente fiquei mais animado.
-Uhun…..vão trazer "The Way Green." alguma coisa assim….. eles disseram que você precisava ficar por " dentro das coisas". - falou minha mãe.
-mãe é maravilhoso! Não vejo a hora de encontrar os meus amigos. - falei sorrindo.
Mais uma mentira.
Se o meu nariz começar a crescer, pode ter certeza, eu menti.
Não…..espera…..sobre o fato de estar ansioso para encontrar os meus amigos depois de 6 meses, era verdade, eu estava, mas não é a melhor notícia para mim. Eu não sei o porquê, mas a cada vez que eu lembro dos meus amigos, eu me lembro da minha realidade, e o pior, lembro do que me aconteceu e não consigo tirar essa sensação ruim dentro de mim.
"TOC TOC."
Alguém bate na porta, um homem, barrigudo, com barba mal feita, um chapéu de xerife,na plaquinha do nome estava escrito: Don Salvatore. E ele cheirava café.
-Bom dia Tom, como vai garotão? - ele estava falando com um tom muito animador,como se o garoto que estava na sua frente não fosse um garoto desaparecido por 6 meses.
-Ahm….bom dia Sr policial. Vou bem e o Sr? - perguntei meio sem jeito.
-Ora para quê….pode me chamar de Don Tom, não fique receoso. - sorriu ele. - então, deve imaginar o porquê da minha nobre visita não é? - perguntou o policial.
-Bem,na verdade não. Eu já sei o que o Sr vai vir fazer aqui. O Sr está investigando o meu desaparecimento. - falei com firmeza para que ele entendesse que eu não era idiota.
-Ora muito esperto, realmente Tom, eu estou investigando o seu caso, e se, puder me dizer o que aconteceu naquela manhã de Junho, eu agradeceria filho. - falou ele sorrindo e tirando o chapéu e pegando um bloquinho de anotação.
-Bem, eu estava na excursão da minha escola, e eu estava conversando com os meus amigos, e, eu fui para perto do lago porque eu achei interessante…..e…. .-fui interrompido.
-Achou interessante? Mesmo sabendo que ir para o lago era proibido? - perguntou o xerife.
-Sim, eu sabia que era proibido,mas eu só estava curioso. Sempre me dei bem em….. geografia - sorri fraquinho.
-Certo…..continue. - falou o xerife anotando tudo.
-Bem, eu me aproximei do lago e cai. E daí para frente não me lembro de mais nada. - falei imaginando ele escrevendo esse artigo idiota no computador dele.
-Certo….. - falou ele anotando mais algumas coisas - e você lembra se você foi empurrado? Sentiu umas mãos atrás de você? -, perguntou o xerife sem me olhar.
-Bem, não. Eu estava sozinho. Todos estavam dentro da cabana recebendo ordens do professor. - falei.
-Tom, sejamos francos, você não tinha interesse no lago. Alguém empurrou você filho, e eu preciso que confie em mim para fazer tal tarefa. - falou o xerife me olhando seriamente.
-Sr Xerife, eu juro, ninguém me empurrou. Eu estava sozinho. - falei levantando a mão.
-Está bem….não vou forçar a barra….- ele ergueu a mão como se ele estivesse sendo rendido.
Mentiras e mais mentiras.
E de repente, tudo ficou cinza novamente, e o tempo parou, e o enjôo veio, Ah não, de novo não….não quero vomitar aqui no papo reto com o policial.
-Você mentiu! - falou a vozinha de uma garota mais velha.
-Ora! E quem não fez isso uma vez na vida? -falei olhando sério.
-Você mentiu. Disse aquilo mas não disse a verdade. - ela falou e de repente eu fiquei bem bravo.
-Escuta aqui! Eu acho um baita desaforo você vir me afrontar garota.! Você pode estar morta mas eu não! - falei olhando sério para ela.
E de repente,eu percebi que ela não estava dando diretamente para mim,mas sim, para o homem que estava falando na minha frente alguma coisa que eu não faço a mínima ideia.
-Ele mentiu, disse que era aquela a verdade, mas não era. Ele mentiu. - falou ela. - diga para ele que, ele mentiu. - falou a garota apontando para ele.
-e quem seria você?! - olhei para ela e percebi o quanto isso era irritante.
-Eu sou a sua filha, e diga que ele mentiu. Diga pra ele dizer a verdade! Diga que não há nada de errado em dizer a verdade! Diga! Diga! - falou ela insistindo na coisa.
-Ta bom! Já vou falar garota.- falei meio invocado.
-Tom?! Terra chamando meu jovem - falou o policial estalando os dedos para mim.
-Ela disse…...ela disse que você mentiu. O porquê não disse a verdade? O porquê não contou a verdade?. - falei com os olhos fixos nele.
-O que? Tom…..você está bem? - perguntou o xerife confuso.
-Ela disse … porque não contou a verdade? Porque não disse a verdade? Vá e conte a verdade!.....ela disse…..porque não contou a verdade? Vá! E diga a verdade! - falei firmemente.
E o polícia ficou paralisado me olhando, parecia assustado, sem compreender exatamente o que eu estava dizendo….e o enjôo vindo…. E de repente, olhei para o lado, e a garota estava ali, próxima do xerife, e de repente, a minha boca deixou de ser a minha e se transformou a dela.
-Porque você não disse a verdade? Você mentiu….mentiu para eles!...eles precisavam saber…..eles precisavam ter o conhecimento… minha mãe….minha mãe…..você mentiu para ela também….. vá! E diga a verdade! - falei eu sendo induzido por ela.
E de repente, tudo ficou branco novamente, e o enjôo veio no meu corpo, e eu comecei a vomitar e a sair sangue pelos meus olhos, era como se eu estivesse chorando sangue. A garota, havia sumido, mentiras…..elas a princípio nos conforta, nos sacia, mas de repente, ela se transforma em ácido, e azedo, em cruel, e nos atormenta a cada momento.
Eu me lembro de vomitar aquela água escura novamente, e aquela sensação de ter um pulmão coberto com água, me atormentava,não bastava poder enxergar o mundo dos mortos, eu ainda tinha que enfrentar o mundo dos vivos, era assustador. As enfermeiras vieram correndo com os gritos do xerife,o cansaço veio certeiro em mim, e eu, não conseguia me mover. Apenas, só sabia vomitar,e sangrar e a dormir, nada mais do que isso.
Mentira.