A Cidade dos Corvos - Medusa
-Senhor bento, essa tal mulher aí é uma espécie de bruxa? - perguntei enquanto caminhávamos lentamente na estrada.
-O que? Bruxa? Moleque você é piradinho. Claro que não, não. Claro que não. Ela é apenas alguém vivido. - falou o Sr Bento rapidamente.
-Vivido? É uma velha então?! - perguntei e parei.
-Não fale assim moleque se não vai receber uns chacoalhões. A juventude de hoje não tem mais respeito com os mais velhos mesmo. - falou o Sr Bento olhando para baixo e balançando a cabeça negativamente.
-Ah Sr Bento pega leve, eu só estou curioso. É uma forma de falar. - falei em minha defesa.
-Ela é uma pessoa expediente, que veio antes de mim, ou seja, já viu muita coisa por aqui. E certamente, já conversou com algum porta-voz como você. Por isso, fica de boca fechada. - falou ele.
-Vai demorar muito? Tipo, estou com fome. - falei colocando a mão na barriga.
Meu estômago estava roncando.
-Você só reclama moleque, não temos comida. Terá que aguardar. Enquanto isso, vai pensando aí em qualquer coisa. - falou o Sr Bento.
-Mas no que? - falei sem saber exatamente o que eu iria pensar.
-Oras….sei lá…..o que vocês jovens pensam hoje em dia? Fliperama? - perguntou o Sr Bento.
-fliperama? O que é isso? - falei intrigado.
-Oh céus! Como vocês sobrevivem sem fliperama? Eu não acredito. Então o que vocês fazem? - perguntou ele.
-Eu jogo videogame, e saio com os meus amigos, e mexo no Twitter. - falei erguendo a sobrancelha como se fosse algo óbvio.
-Twitter? Mas que raios é twitter?! - falou o Sr me olhando sem entender.
-Senhor……..
-Vocês jovens não sabem aproveita o melhor dessa terra. Tecnologia ainda vai matar vocês e….
-Senhor…...olha …
-e vai secar o cérebro de vocês como tomates cozidos……
-Não Senhor…..olha …..
-Escuta moleque tua mãe não te ensinou a ouvir a mais velhos? Quando um burro fala , o outro baixa orelha. Sabia não?!
-Senhor…..presta atenção naquilo!
-Oras vocês não tem mesmo solução, já podia vir o aquecimento global lá na terra para acabar com essa geração filha da p….oh céus!....moleque agacha e corre para dentro das árvores agora!..... - falou o senhor baixinho e eu obedeci. - isso não é bom….não é bom….não é bom mesmo.! - o Sr continuou o caminho, deu alguns passos e um barulho de cavalos soou.
Os cavalos chegaram bem perto do Sr Bento e ele deu um passo para trás.
-Ora ora ora! Quem eu vejo por aqui. Não é o Senhor Roberto Doug?! Achei que já estava morto - gargalhou uma voz fria e nada agradável.
-hahahahaha' bela piada….você é muito humorista sabia? Agora, por favor, se não for incomodar eu preciso continuar o meu percurso. - falou. O Sr Bento e ele cerrou as mãos.
-Onde pensa que vai? Hein?! Você não vai a lugar nenhum até me dizer para onde que você vai! - falou a voz medonha.
-me esqueci que deveria dar satisfações a você Medusa. Pois bem vou até a cidade, comprar alguns artigos de jardinagem, estou com pestes em volta da minha terra e eu não vou sofrer com elas comendo o meu jardim. E o lago, o lago precisa aparar o mato. - falou o Sr seriamente.
-O lago?! Hmmmm….e como ele está? - perguntou a medusa.
-Ele está precisando aparar o mato. - falou firmemente o Sr Bento e olhando fixo para os olhos daquela coisa.
-Sem ironia Sr Bento, não banque o irônico para cima de mim. Me esforço para deixar as coisas em ordem, e só não te mandei para Losan porque eu precisava de alguém que ficasse de olho no lago.- falou a medusa.
-Sim, é , eu sei. Muita gentileza da Vossa Senhoria, agora, preciso ir. Até mais. - o Senhor deu um passo para frente e outro para o lado saindo da rota da cavalaria e então, a Medusa partiu.
Sai do mato respirando fundo, e só quando eu apareci do lado dele, ele conseguiu respirar.
-Quem é ela Sr? - perguntei curioso.
-Medusa é tipo de uma rainha, é a Deusa da Morte. Ela comanda a cidade e todo o campo, nada escapa das mãos dela. - falou o Sr Bento que estava pálido.
-E o Sr trata a Medusa daquela forma? Não tem medo de……
-Morrer? - sorriu o Sr Bento. - a mim ela não pode fazer nada, a não ser, me tirar da minha casa. Já você, ela pode muito bem te condenar aqui. Por isso, Bico calado e preste atenção, os capangas dela estão por todas as partes. - falou o Sr Bento. -Vamos, temos que ir antes que ela retorne. - ele segurou o meu braço e então continuamos a caminhar.
-O Sr acha mesmo que essa tal Senhora poderosa pode me ajudar a retornar para casa? - perguntei depois de muito tempo em silêncio.
-Honestamente? Eu quero crer que sim. Mas se não ajudar, vamos procurar um jeito. - falou o Sr Bento determinado.
-O Sr não pode se arriscar por mim, eu fui rejeitado pelo lago, e, se for perigoso, por favor, o senhor pode voltar para a cabana. - falei sendo muito sincero.
-Você já falou muita coisa burra desde o dia que bateu na minha porta, mas essa foi a maior se todas moleque. Você não pode estar falando sério, você apareceu na minha porta, molhado, confuso, perdido e com fome, usou o meu banheiro e gastou do meu sabonete e usou roupas minhas, e acha mesmo que eu vou te largar simplesmente assim? Não seja idiota. Você com certeza ficará melhor de boca fechada. - falou o Sr Bento e ficou olhando para todos os cantos.
-Vai demorar muito Sr? Eu realmente estou com fome. - falei com o meu estômago doendo.
-Já disse que estamos chegando Moleque, tem que esperar. - falou ele.
Continuamos a caminhar, a mata ficou mais alta,e a estrada de terra se transformou em asfalto, e o dia continuava cinza, e do nada uma pergunta surgiu na minha mente.
-Sr, como que o Sr morreu? - perguntou ele.
Ele parou. Respirou fundo. E então falou:
-Bem, foi aqui na minha cabana mesmo moleque,eu tinha 63 anos, meu filho e minha esposa haviam sido mortos, por uma vingança idiota. Jorge Hells, o grande Idiota, acabou matando a minha família, a cabana foi dada como herança para mim, e Jorge simplesmente não aceitou isso. - falou ele abaixando a cabeça.
-E o que esse Jorge teria de motivos para matar a sua família Sr Bento? - falei realmente curioso.
-Ele é o meu irmão Tom, o segundo filho,sou o primogênito, e eu por direito fiquei com a cabana e ele para se vingar,matou a minha família. - falou o Sr Bento baixinho e tirou um colar do pescoço.
-Senhor, eu sinto muito pela sua perda. - falei e toquei no seu braço.
E o Sr afastou o braço da minha mão.
-Tanto faz, não importa mais, eu não ligo. Morri quando fui me vingar dele, ele acabou atirando em mim e eu nele. Ele deve estar por aí fazendo alguma porcaria. Mas enfim, vamos seguir. Senão o próximo morto é você. - falou ele seriamente.
E continuamos a nossa jornada.