Quando será nosso?
A formiga (mero inseto?), na verdade, é o inseto! Membro de sociedade perene composta por rainha, machos e operárias, simboliza ser trabalhador, diligente, econômico.
O carcará, ave de rapina da família dos falcões, habita o centro e o sul de toda América do Sul. Bicho solitário de alvo certeiro, ilustra poder e sedução. Discreto, reservado, elegante, misterioso, altivo. Cônscio da fascinação que exerce, é boa gente quando quer. Quer?
Prefere aparecer, de quando em vez, acompanhado da hiena cangaceira (“capanga”). Diógenes já explicara o fenômeno: “Entre os animais ferozes, o de mais perigosa mordedura é o delator; entre os animais domésticos, o adulador”. Carcará, excepcionalmente sozinho, questiona formiga:
- Tem uma nascente d’água nas terras da tribo inimiga. Estão represando água. Isso está certo?
Formiga articulou todo o seu arsenal de conhecimentos e soltou o verbo:
- Não! A ninguém é dado impedir o fluxo das águas. Trata-se de grave questão ambiental. Por que não representa ao lobo solitário? É a autoridade com atribuições para agir e tomar as providências pertinentes!
Lobo solitário, mamífero do gênero canis, sobrevivente da era do gelo, data de 300 mil anos. Não raras vezes, sua inteligência apresenta sentidos antagônicos. Para o bem, expressa astúcia. Não obstante, pode ser cruel e ambicioso. Carcará pensou, pensou e soltou a pérola:
- Por quê? Se não está a afetar o meu jardim?
Formiga compreendeu: Carcará acha possuir jardim. Mal sabe ele que mais valem os tesouros d’alma! Para carcará, só importa seu jardim. Não importa a nascente, não importa o rio, não importam vidas. Apenas sua vida importa.
Formiga lembrou-se do pensamento atribuído ao grande Raul: “Meu egoísmo é tão egoísta que o auge do meu egoísmo é querer ajudar”. Recolheu-se à insignificância e concluiu: o meu, o seu... O vosso não é nosso. Feliz da tribo que compreende o valor do nosso.