Entre nós, sem trenós...
Era uma turma do boró encerado. Um dia, antes que a professora entrasse em aula, ele, sempre ele, foi ao quadro o escreveu, com toda a autoridade de seus doze anos, e com a sapiência de um Weitraub:
- Joãozinho tem pinto glande...
Mal a jovem e sedutora mestra adentrou a sala, diante daquele silêncio sepulcral, sua voz trovejou ameaçadora:
- Joãozinho, apague o quadro já, e prepare-se para um castigo estendido depois da aula!
A aula encerrava-se às 16:00 e só às 17:00 foi que Joãozinho saiu do educandário, trôpego, cabisbaixo, tentando afivelar o cinto. Os coleguinhas que haviam ficado escondidos na pracinha das imediações, logo rodearam-no, cheios de curiosidade, e a pergunta foi quase uníssona:
- Então, Joãozinho, como é que foi o castigo?
E a resposta, mais que surpreendente:
- Gente, cês não imaginam: a propoganda é mesmo a alma do negócio...
A partir dali, em meio à inveja e as esperanças generalizadas, foi organizada uma listinha para se definirem os próximos escritores. Zé Geraldo, já de voz grossa, espinhas no rosto, e taludo como era, e era de se esperar, preponderou, encabeçando a relação.
No dia seguinte, com a sua inscrição no quadro e a iminente chegada da mestra, já esfregava as mãos, resfolegante...E não deu outra: a promessa do castigo soou-lhe como uma bênção abundamentemente derramada...ou a se derramar aos borbotões...
Seu castigo porém, foi bem menos duradouro do que o do colega Joãozinho. E ainda esfregando os olhos foi que exibiu, a contragosto, o caderno de dever de casa à turma:
" Copiar mil vezes a frase seguinte, a título de exemplo
Não devo contar mentiras para a minha professora....Jamais!"