Capítulo 24 - Com quem ela quer estar
Leonardo teve que aprender a resistir aos encantos de Marine. Depois da última noite no quarto dela, teve que evitá-la com maior veemência. Era uma manhã de terça-feira quando ele recebeu uma ligação dela pedindo uma carona, pois sua amiga teve que resolver um problema e não iria a aula.
- Olá! - Ela o cumprimentou, jovial. Entrou no carro com sua habitual mochila e pastas. Leo respirou fundo e tentou levar aquela situação de modo normal. Embora visse um ar de provocação na garota. – Como vai?
- Estou bem, e você?
- Bem. Espero que não tenha problema para você me dar uma carona.
- Não, sem problemas! Eu já estava indo para o trabalho mesmo.
- Sim. E acho que naquele dia tudo ficou muito claro a respeito da nossa amizade. – A ironia nas palavras dela cutucaram Leonardo, que se manteve impassível. – Não é?
- Você não me deixa pensar direito. – Resmungou, sério. Ela deu um risinho. – Continuo pensando do mesmo modo, só que... – A olhou de soslaio. – Acabo vacilando perto de ti.
- Sinto muito, vou tentar controlar os meus desejos. Isso é tão possível, não é?
- Marine...
- Ok, “amigo”.
Estacionaram em frente a faculdade, como ainda estava cedo para cada um iniciar seus afazeres, ficaram no carro, em silêncio. Marine sabia que conseguira provoca-lo na outra noite e gostou de saber disso. Gostou de saber como o enlouquecia.
- O que eu faço com você, hein?
- Tenho várias coisas na mente, mas nada muito apropriado para às 8h da manhã.
- Marine!
- Não há nada o que fazer, Leo. É o que é. O único problema é que você está decidido a não se permitir sentir.
- Engraçado... Você falando parece entender como as coisas são na teoria. Na prática não.
- Eu nunca disse que facilitaria.
- Não vou entrar nessa conversa de novo.
- Eu também não. – Ela colocou a mão na coxa dele, arranhando levemente a virilha. A mão tomava um caminho muito perigoso. – Talvez eu te faça entender que algumas coisas têm que ser sentidas, independente da bagagem que cada um carrega.
Antes que ele pudesse responde-la, saltou do carro rumo a porta de entrada da faculdade. Mal sabia Marine que Leo sabia disso tudo, mas ele nunca conseguiria ser o que ela realmente merecia.
Na hora da saída Marine encontrou Leo na porta ao lado de uma garota. E a julgar pela mochila que carregava, tratava-se de uma aluna da faculdade. Bem mais alta que ela, morena e de cabelos enrolados, na altura do ombro, tinha todo um ar alegre e descontraído. Marine sentiu algo azedo descendo quebrado em sua garganta, mas continuou andando em direção ao carro.
- Ei! – Leo a cumprimentou com um sorriso. – Essa é a Priscila, estuda Psicologia aqui.
Ela olhou para a garota e deu um sorriso em cumprimento.
- Oi. – A garota disse, simpática.
- Oi. Vamos? – Leonardo percebeu o desconforto em Marine e tratou de finalizar aquela estranha situação.
Despediu-se de Priscila com um abraço e nesse momento Marine ouviu uma frase que fez um inesperado sentimento borbulhar dentro dela.
- Eu te ligo para falarmos sobre aquela exposição de arte.
- Ah, eu aguardo, hein!
Marine entrou no carro, em silêncio. Leo a olhou de soslaio, temendo o que podia vir daquele estranho momento.
- Ei! E como foi a aula?
- Boa.
- Ah...
Ele ligou o carro e deu partida. Nenhuma de suas diversas tentativas de conversar com Marine deu certo. Ela nunca havia sentido aquilo antes, era um desconforto que queimava no estomago e ia até a garganta. Imaginou a tão bonita Priscila saindo com Leo e teve vontade de dar um soco nele. Não passou vontade.
Esperou o carro ser estacionado em frente à casa dela.
- Ai! – Ela deu um soco na perna dele. – O que foi isso?
- MAS QUAL É O TEU PROBLEMA? VOCÊ VAI SAIR COM A GAROTA ALTA E BONITA DA MINHA FACULDADE?
- Não! – Ele se sentiu acuado diante daquele ataque de ciúme. – Eu não vou sair com ela.
- E aquilo foi o que? Simpatia?
- Sim. Ela foi tão educada comigo que eu não soube dizer não!
Marine bufou, com raiva. Estava enciumada e não sabia como evitar aquilo. Na verdade, não sabia nem se queria evitar. Leo não era nada dela, somente amigo. Embora eles transassem e uma estranha e conturbada relação tivesse criado forma ela não podia ter ciúme dele.
- Vamos lá em casa, eu te dou sorvete e você se acalma.
Leo observou uma raivosa Marine enfiar a colher no sorvete. Sentou ao lado dela, calmamente. Saber que ela tinha ciúme causava duas sensações contraditórias: prazer e medo. O medo era o sentimento mais racional para ele. E era por essa linha que seguiria.
- Eu não estou calma.
- Eu sei.
Ela terminou o sorvete e o colocou na mesinha da frente. Leo continuou observando a garota, tentando entender porque vê-la com ciúme também lhe dava prazer. “Meu Deus, eu estou ficando louco?”.
- Para de me olhar como se eu fosse um curioso monstrinho, Leonardo.
- Você é um monstrinho raivoso, Marine. – Ela revirou os olhos. – Um lindo monstrinho raivoso.
- Ha, ha, ha! – Beliscou o ombro dele, que riu, se desviando do ataque. – Idiota.
- Ai!
- Nossa.
- O que?
- Como é horrível ter ciúme. Eu nem me lembrava mais o que era sentir isso.
Ele sorriu de canto, mas sentia-se realmente confuso com toda aquela situação. A mão dela tocou a dele, até os dedos se entrelaçarem. Ela o olhou, se perguntando se ele também sentia aquela coisa estranha e mágica que rolava quando os dois se tocavam, até da forma mais genuína. Marine sentiu quando seus dedos foram carinhosamente apertados.
- Eu também sinto isso quando a gente se toca. – Ele declarou, numa voz quase inaudível e angustiada. – Desde que nos tocamos pela primeira vez. - Marine deitou a cabeça em seu ombro e logo o cheiro dele a invadiu e foi impossível evitar o que veio em seguida. Ela deixou um beijo em seu pescoço. Parecia tão pouco. Queria mais. – Eu não consigo ficar longe de você e não consigo te fazer compreender o que realmente somos.
Marine a essa altura já estava no colo dele. Como quem não dava real importância ao que acontecia, direcionou as mãos dele para a sua cintura.
- Eu nunca senti tanta vontade de ser de alguém como sinto vontade de ser sua. – Ele abriu a boca, mas ela o silenciou com um beijo. – Não me diga que não devo sentir isso. Não me diga o que devo ou não sentir.
- Quando foi que nos tornamos isso?
- Não sei. Acho que já estava meio que destinado.
Leo não acreditava em destino, mas havia algo que realmente se entrelaçava entre eles.
- E eu que achei que você me odiaria para sempre por aquele dia na piscina. – Eles sorriram um para o outro, nostálgicos.
- E eu odeio, quem disse que não? Ainda estou com raiva por você ter dado em cima daquela garota.
- Eu nã.. – Marine o interrompeu com um beijo. – Dei... – Outro beijo. Ele tentou se desviar. – Você está fazendo isso de novo. - Ela então tirou a própria camiseta, estava sem sutiã. Leo rapidamente fechou os olhos. – Eu não vou olhar. - Pegou as mãos masculinas e os colocou em seus seios. – Para com isso! – Pediu, mas sem olhá-la. Levantou a saia na altura da cintura e estrategicamente rebolou em cima dele. – Você joga muito baixo, mas eu vou resistir. – Embora relutasse, as mãos continuavam acariciando Marine. – Eu estou resistindo.
- Abre os olhos, Leonardo.
- Não! Eu vou continuar resistindo.
- Ok!
Rebolou com maior intensidade, para enlouquece-lo. As unhas dela entraram em seus cabelos, puxando-os com força. Beijou a testa dele, tomando caminho pelo nariz, até chegar aos lábios. Ele gemeu rouco, sentindo o corpo incapaz de não reagir aquilo tudo. A língua dela acariciava a dele, tão sensual e atraente. Abriu os olhos e viu um par de olhos azulados, intensos e apaixonados o encarando. A mão foi para a coxa, até encontrar a calcinha dela e a puxou, com agressividade. Ele perdeu o controle, os sentidos e mergulhou no mais profundo prazer que o corpo dela proporcionava. O prazer se misturou ao sentimento, o sentimento se uniu a intensidade resultando numa química inigualável.
Não podia mais lutar contra aquilo, não podia mais negar o que sentia por Marine. Não sabia como seria daqui para frente, mas nada importava, porque eles estavam ali, juntos. Aquilo era tudo.
(...)
- Marine... – Ela sentiu o hálito quente de Leonardo em seu pescoço. Tateou o corpo dele e mesmo de olhos fechados, conseguiu puxá-lo ao seu encontro. – Não, mulher! Meu Deus, como é que pode isso. – Ela riu, beijando o rosto dele. – Nem abriu os olhos e já está me agarrando assim. – Leo apoiou a mão no sofá, para não cair sob o corpo de Marine. Ela impulsou o corpo, até estar sentada no colo dele. – Marine!
- Só um pouquinho? – Pediu, no pé do ouvido dele. Era um pedido verdadeiro e até porque não dizer, meio desesperado. Marine não tinha medidas, não tinha limites e muito menos medo quando estava com Leonardo. Ela o beijou, de forma casta. Leonardo apenas a olhava, se perguntando mentalmente quando foi que ela passou a vê-lo desse jeito. Tinha dificuldade em acreditar no que vivia com Marine e isso nada mais era consequência do terrível relacionamento com Cristina. – No que você está pensando?
- Em como tudo tomou uma proporção imensa. Em como isso pode ac.. – Ela o beijou, para calá-lo. – Marine, eu to... – Outro beijo. – Falando sério!
Ele a segurou pelo queixo, sem muita força, apenas para que ela o olhasse. Em resposta, ela sorriu, mordendo o dedo dele.
- Você não vai desistir, não é?
- Não. Eu não vou desistir de fazer você ser meu.
No momento em que a responderia, seu telefone tocou. Era Renan. Marine tirou o celular da mão dele e o jogou longe.
- Não ouse.
- Você está impossível, sério!
- Estou?
- Está! Eu vou tomar um banho e você vai ficar aí quietinha me esperando, ok?
- Ok!
Ela esperou 10 minutos e foi atrás de Leonardo no banheiro. Silenciosa, Leo não percebeu a presença dela até sentir um abraço apertado em sua cintura.
- Impressionante! – Ele disse, num tom de falsa indignação. Se virou e ganhou um beijo. – Eu tenho que ir trabalhar, é sério.
- Eu vou para a faculdade a tarde, temos tempo.
- Vai adiantar eu dizer o contrário?
- Não.
- Imaginei.
Ele a puxou pela cintura, depois a encostou no piso frio da parede. Ela fechou os olhos, prazerosamente. Não sabia até quando faria Leo passar por cima de seus desejos, mas continuaria lutando e aproveitando cada minuto como esse.
(...)
- Nossa, mas eu sabia que você faria eu me atrasar, Marine! - Leo exclamou, bravo. Ele andava de um lado para o outro, procurando roupa para vestir. – E para de rir!
- Eu só quis tomar banho com você, o restante foi por sua conta!
- Ah, é claro!
Ela se vestiu calmamente, o sorriso de orelha a orelha. Sentia-se tão feliz que tinha vontade de gritar aos quatro ventos.
“Leo? Está aí?”
Ao ouvirem a voz de Renan, se olharam, apreensivos.
- Eu vou na frente e digo que você está dormindo, pode ser? – Perguntou a Marine, que concordou. – Beleza.
O rapaz saiu correndo do quarto e encontrou Renan entrando na sala. Torcia para que nada acusasse o que realmente tinha acontecido na noite anterior.
- E aí, irmão! Marine dormiu aqui?
- Sim! Assistimos filme ontem e ela está dormindo lá no meu quarto.
- Ela está muito estranha, sério! – Leo viu o amigo sentar no sofá. Atrás dele, o sutiã de Marine. Engoliu seco. – Se bem que ela sempre foi estranha, mas não sei, tem algo de errado. Eu a conheço!
- Tipo o que?
- Não sei! – Leo aproveitou a distração de Renan e puxou o sutiã de Marine, jogando-o para bem longe. – Leo, sério! Ela briga com você. Quem é que briga com você?
- Eu acho que você está viajando, mas continua...
- Ela não me deixa nem chegar perto dela, é como se tivesse perdido o sentimento por mim.
- Mas você não ama a Cristina?
- Sim, amo! Mas ela é a minha prima, velho. Nós temos uma coisa mal resolvida. Você entende? Eu não amo ela, mas ela é minha.
- Isso é meio bizarro e doentio.
- SIM! Como o meu lance com a Marine!
Leo sentiu um embrulho no estômago tamanho o nojo que sentiu das palavras do melhor amigo. Era como ouvir uma versão masculina de Cristina.
- Então se ela aparecesse namorando com um cara, o que você faria?
- Confesso que ficaria puto. Eu sinto algo pela Marine. Não é amor, mas sei lá, nós temos algo que é forte. Ela está meio distante e isso está me incomodando. - Renan deu um suspiro, triste. Leo não sabia mais o que sentir em relação ao que ouvia. – Preciso da sua ajuda!
- Minha ajuda?
- Sim! Ela confia em você.
- Mas...
- Irmão, por favor! Eu acho que ela se apaixonou por alguém. Antes ela mal podia me ver que já era nítido o quanto me queria. Agora eu a vejo e...
- E...?
- Ela parece que está sempre querendo estar com outra pessoa. - Ele não soube mais o que dizer depois daquilo. – E aí, me ajuda?
- Eu vou ver o que posso fazer, ok?
- Beleza! A gente se vê mais tarde?
- Pode ser.
Depois que Renan foi embora, Leo sentou no sofá, silencioso. Marine apareceu na sala, totalmente tranquila, como se quisesse estar ali e com ele. A declaração do amigo veio aos seus ouvidos “ela parece que está sempre querendo estar com outra pessoa”. Ele estava certo.
- Estou pronta para irmos. – Ela parou na frente dele, colocando as mãos sob seu pescoço. Não havia nenhum resquício de preocupação por Renan ter passado ali. – Vamos?
- Vamos. - Antes de levantar, Marine o beijou, carinhosamente. Leo se levantou e a abraçou-a pela cintura. – Vamos antes que você me agarre novamente no sofá!
Seguirem rumo a porta, as mãos roçando, até que os dedos se entrelaçaram, numa incrível conexão de corpos e almas. Leo fingiu não ver o olhar de soslaio de Marine. O olhar que precedia o mesmo pensamento “será que ele sente o mesmo?”. E ele sentia. Sempre sentia.