Meninos de Hoje

Meninos de Hoje

Eu estudo na sétima série, na mesma sala que o meu irmão e na mesma escola. É num colégio estadual próximo à minha casa, porque os meus pais não tem condições para me colocar em outra instituição de ensino que seja pago. A maioria de meus colegas, mesmo os de outra sala de aula, são meus vizinhos ou conhecidos de futebol.

Hoje o dia amanheceu nublado, mais muito quente e teremos prova. Aliás, a semana será toda de prova para finalizarmos a unidade. Chegamos mais tarde porque a avaliação começará uma hora depois do horário normal da aula.

Tem alguns caras que são chatos e implicam comigo por qualquer coisa. Eles falam que são meus colegas, que são amigos, que chegam junto em qualquer ocasião, mais sei que é apenas “enfeite” *. Eles são uma coisa na frente da gente, para enganar o trouxa e por detrás são de outra forma. Não sou besta, ando de olho bem aberto e conheço muito bem quem são meus amigos de verdade. Mesmo assim eu me faço...Estes mesmos, tem umas brincadeiras pesadas, sabe? De bater na gente .Eu não gosto e fico logo de cara feia, olho bem pra cara dele e fico parado, só esperando a atitude que ele vai tomar. Fico bravo mesmo e digo que esta é uma atitude de pessoa infantil, porque homem que é homem não bate em outro homem.

Neste dia, era segunda feira, eu saí junto com o meu irmão para caminharmos até a escola juntos, pois queria lhe falar a sós. O assunto era sobre a nossa irmã que estava sendo assediada por um amigo de jogo de bola que estudava no mesmo colégio que nós. Tínhamos apenas esta irmã que era a mais nova, a caçula de casa. Ela não queria nada com ele e mesmo assim ele insistia, a ponto de ser ridículo. Passava a mão nela, a rodeava *por todos os lados, mandava recados. Ela ficava furiosa. No início foi tudo levado na brincadeira, mais agora, estava demais, com desrespeito à privacidade alheia e à nossa amizade, principalmente a uma menina que só tinha 14 anos e não suportava ele.

Resolvemos, eu e meu irmão, chama-lo para conversar no intervalo do lanche na escola. Foi o que fizemos. Ele? Ele foi moleque, não respeitou a minha irmã, disse que as mulheres são assim, que no início se fazem de difícil e que depois se sentem superiores, dona do pedaço e que já estava perto de pegar ela. Veja como foi:

“Terminou a aula, saí da minha sala com pressa, porque ainda tinha de merendar, fui correndo chamar meu irmão na sala dele”. Saímos à procura do indivíduo imprudente que depois de vasculharmos alguns cantos do recinto, o encontramos. Claro que só podia estar rodeado de colegas que tinham o mesmo comportamento que ele, infantis e devassos. O chamamos para conversar, mais ele resistiu de início, acho que desconfiado. Então, com diplomacia e embromação de político o convenci: - Parceiro é conversa de homem.

- Olha o que você vai dizer, hem! Ele falou. Então, o abraçando pelo pescoço o trouxe para perto do meu irmão onde sozinhos pudemos expor os nossos pontos de vistas.

- Minha irmã não está se sentindo bem com as suas investidas e eu vim aqui lhe pedi para que você se afaste dela, para evitar problemas futuros. Eu disse-lhe.

-Ka, ka, ka, ka! Vocês estão brincando comigo. A sua irmã vai ser minha. Disse ele.

- O que? Respondi “Eu e meu irmão não aceitamos esta imposição dele, de querer e de ter ,simplesmente porque ele acha que deve ser assim, do jeito dele , da forma dele, possessivamente. O garboso, o galante, o irresistível e dominador, dono das filhas dos outros, das irmãs dos outros. Levantei e fui pra cima dele o ameaçando que:- Se você chegar perto de minha irmã eu lhe quebro ao meio.

A reação do meu irmão foi violenta, já o acertando com um pontapé. Ele não falou nada, mais fez mímica o chamando para a briga, correndo para alcança-lo. Meu irmão é ágil e não conta conversa vai mesmo pra cima. Como estávamos dentro das dependências da escola, em hora, já de irmos para casa, pois a prova já havia terminado, lhe dissemos que na saída iríamos acertar as nossas contas.

Quando pegamos as nossas mochilas para sair, ele ficou dando piadinha*, dizendo que éramos fracotes*, dois manés*,que não éramos de nada. Saímos então na frente e esperamos por ele adiante, em frente da escola, porém, mais adiante, no caminho. Ele já vinha na dele, pensando errado, que estava tudo bem, era só ele. Pegamos o danado sem que ele esperasse. Eu estava com tanta raiva que não enxerguei mais nada, saí para cima dele com tudo, nem reparei que estava no meio da rua, cheio de gente passando ou no ponto de ônibus. Só importava-me em lhe dar uma lição pra que não bolisse *mais com a irmã de quem ele não conhece direito. Meu irmão bateu, bateu tanto que foi preciso que houvesse interferência alheia. Meu irmão era mais velho que eu e tinha mais massa muscular, além de que, já havia treinado capoeira. Eu ainda estava verde e contava apenas com a minha raiva. Com certeza sozinho eu não dava conta.

Um policial passava na hora da briga e tentou apartar, mais só conseguiu depois que puxou a sua arma da cintura, pois eu não ouvia meu irmão não obedecia e nem a vítima. Qual vítima? A prejudicada aqui era ela, a minha irmãzinha indefesa. Acho até que as pessoas que tentaram acabar com o agarramento apanhou também, até o policial, acabou usando a sua maior força: a arma. Acho que se não tivesse tanta gente na rua naquele momento o policial tinha atirado, porque a briga foi feia mesmo.

O representante da lei nos levou para a escola, pois era próxima dali e meus colegas que passavam paravam para fazer côro* e deduravam onde estudávamos o que facilitou a intervenção. Fomos aconselhados pela diretora da instituição de ensino que no próximo dia de aula retornássemos acompanhados dos nossos pais. Eu ainda disse que meu pai e a minha mãe não iria comparecer, pois trabalhavam e não tinham tempo para perder. A diretora retrucou que ela também não tinha tempo a perder, e por isso que eu só entraria na escola acompanhado.

No dia seguinte, sem ter comentado nada com os meus pais, fui à escola a fim de realizar a minha prova, para não ficar prejudicado mais do que já estava. Entrei escondido pela garagem e fui barrado novamente pela diretora que foi taxativa ao afirmar que eu não iria ter acesso para a prova sem a presença dos meus pais e eu lhe respondi: - você quer me impedi de fazer a prova, é? -Quer me prejudicar? E ela respondeu: - Claro que não, mais seus pais devem comparecer ao colégio para tomar conhecimento do que se passou com você e seu irmão. Então eu entrei e fui fazer a minha prova como se nada tivesse acontecido.

*Enfeite (mentira)

*Rodeava

*Dando piadinha

*Fracotes

*Manés

*Bolisse

*Fazer côro

2011

Leomaria Sobrinho
Enviado por Leomaria Sobrinho em 27/06/2019
Código do texto: T6683351
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