A RAINHA ESTHER
A rainha esther, 27/6/2018
William lagos, conforme texto bíblico
A RAINHA ESTHER I
Hoje em dia é bem sabido que o Irã
se tornou férreo inimigo de Israel,
pelo poder que tem cada Ayatollah.
Contudo, isto conforma uma inversão
das relações da mais antiga tradição;
velha amizade que hoje se fez vã,
por se tornarem inimigos sem quartel,
na interpretação das leis da Shariyah.
Mas não mais que há cinquenta anos,
muito bem se recordavam Iranianos
que a sua luta por Judeus fora apoiada,
para assim ser Babilônia conquistada.
De fato, os Judeus haviam indicado
a quem então fora apenas o seu rei,
maneira mais fácil de tomar a fortaleza.
Passava o rio através da capital,
por fortes grades contido seu fluvial.
O fluxo duplamente era cortado,
interrompido como agora lhes direi,
mas inspeção ali havia com certeza,
duas passagens nas extremidades,
pelas quais se retirarem sujidades
que contra as grades se acumulassem
e a passagem da água atrapalhassem.
Pela jusante entrava água potável,
abastecendo as cisternas da cidade;
pela vazante os esgotos despejavam
e assim escravos, quase diariamente,
desobstruiam as águas da nascente,
permitindo terem fluxo saudável
e do outro lado recolhiam a sujidade
que contra as grades ali se acumulavam,
uma tarefa perigosa e até malsã,
muitos escravos afogados neste afã,
para evitar contaminações supernas
das águas destinadas às cisternas.
Também havia do lado superior
uma passagem que julgavam ser secreta,
já que a limpeza era ali feita por fora;
mas sempre havia a possibilidade
de algo passar para dentro da cidade
e quando ressumbrava algum fedor,
nova turma para o rio encontra a meta,
a retirar os empecilhos sem demora;
também aqui ocorria afogamento,
mas o trabalho era bem menos nojento
e o material recolhido dessas poças
durante a noite transportavam em carroças.
Quando possível, esta tarefa era noturna,
assim chamando menos atenção,
escravos mortos lançados para o rio,
de preferência por cima da muralha,
para evitar-se assim alguma falha;
de outros escravos tal ação soturna,
muitos Judeus curtindo ali a escravidão,
mas das passagens conhecendo o fio;
e como em Babilônia eles sofriam,
aos inimigos bem rápido se aliam;
durante as noites de mais lenta correnteza,
iam as grades limando com firmeza...
A RAINHA ESTHER II
É até possível que já planeassem evasão,
mas vendo o exército dos Persas e dos Medas,
sob apertado sítio a cidade colocando,
seus emissários entraram em contato
com o Rei Cyro, no maior recato
e combinaram sua própria rebelião.
(O nome Cyro, é preciso que concedas,
é o grego Kyros, “Senhor” significando,
seu próprio nome sujeito a discussão).
Mas entre as grades cortadas na ocasião
entrou um grupo de soldados escolhidos,
portões abriram, foram os locais submetidos.
Reinando Cyro sobre a Terra Entre os Dois Rios,
não se esqueceu da promessa que fizera
e permitiu reedificarem Jerusalém,
conforme o Livro de Esdras nos relata;
porém o tempo foi passando e, noutra data,
não mais lembravam novos reis tais lios,
só que aos Judeus não mais escravizaram,
vivendo livres pelo Império além,
com outros povos de costume mais pagão;
na maioria a obedecer suas leis estão
e ali viviam como bons trabalhadores,
cambistas, camponeses, mercadores...
Ora, ocorreu que o Império se expandiu
e de províncias tinha cento e vinte e sete,
da Índia à Etiópia se estendendo,
já conquistado o milenar Egito,
um bom governo realizado sem conflito,
quando Ashavero a seu trono subiu.
(E novamente um nome grego se intromete,
seu título Khshayarshah de fato sendo,
ou seja, “Rei dos Reis. Também não há
certeza do nome deste “xainxá”,
como é mais fácil no Brasil se pronunciar:
por “Assuero” também se pode mencionar).
Já entre os Persas predominava o Mitraísmo,
religião em que se opunham Bem e Mal,
Ahriman o deus das trevas, Mithra o da luz,
mas sendo um povo bastante esclarecido,
por religião ninguém era perseguido;
os Medas seguiam ainda o Zoroastrismo,
em que o Fogo era a divindade universal,
que a Terra, a Água e o Ar em si conduz;
deles herdamos até hoje o Dualismo,
que se opõe ao monoteísta Judaísmo;
mas toleravam os costumes dos Judeus,
a insistir na existência de um só Deus.
E aconteceu que Ashavero, no terceiro
ano glorioso da instalação de seu reinado,
o qual em Susa assentara a capital,
para um banquete seus sátrapas chamou, (*)
todos os príncipes e embaixadores conclamou,
suas riquezas a exibir, muito altaneiro,
por cento e oitenta dias o esplendor tendo durado,
com muita pompa e a circunstância mais regal!
E para encerrar com magnífico festim,
fez realizar novo banquete no jardim,
dosséis de linho, de púrpura e algodão,
argolas de prata presas com áureo cordão.
(*) Governadores das províncias ou “Satrapias”.
A RAINHA ESTHER III
Erguiam colunas de alabastro as coberturas,
leitos de ouro, de pórfiro cabeceiras,
o pavimento todo de mármore marchetado,
com pedrarias e as pepitas mais preciosas,
sendo servidas iguarias deliciosas
e o vinho rubro das vindimas puras,
mais vinho branco das terras estrangeiras,
em taças de prata e ouro trabalhado;
e ao mesmo tempo, Vashti, sua rainha,
servia banquete para as damas que ali tinha,
mulheres reunidas em diferente pavilhão,
pois com os homens não podia haver junção.
Mas no sétimo dia, já avinhado,
o rei seus sete eunucos enviou,
Mehuman, Bigthah, Harmona e Bishthah,
Abagte, Karbash e enfim, Zethar,
para sua formosa rainha convocar:
mostrar queria a cada convidado,
como era bela a mulher que desposou:
“Beleza igual em meu reino não há!”
Isso era contra a ordem estabelecida
e Vashti se sentiu muito ofendida;
recusou vir à presença de seu rei:
“Ele que venha me buscar e o seguirei!”
Os eunucos se prostraram ante o rei
e amedrontados, a resposta transmitiram;
o Rei Ashavero assaz se enfureceu,
mas como era um homem ponderado,
seu ânimo foi em breve controlado:
Meus Sete Sábios eu consultarei...
O seu chamado todos sete ouviram
e o rei falou-lhes do que sucedeu.
Eram Sethar, Admetha, Karsena,
Tarshish, Meresh e enfim Marsena;
seu chefe, Memukan, era famoso
e o rei os consultou, ainda furioso.
De fato, todos presentes já se achavam,
os Sete Sábios dos Persas e dos Medas,
que se assentavam na mesa principal.
“Para Vashti, a rainha, a nossa lei
o que indica deva fazer o rei...?”
Logo os sete uns aos outros consultavam
e Memukan tomou a palavra sem enredas:
“Rei dos Reis, não é a pena capital,
mas a rainha não ofendeu só a Majestade,
porém ao reino inteiro, na verdade:
todos os príncipes foram ofendidos,
todos os homens pelo reino distribuídos...”
“A notícia desse crime da rainha
rapidamente há de chegar aos ouvidos
de todas as mulheres; e os maridos
serão por elas em breve desprezados,
por toda parte os maus exemplos imitados;
logo as princesas transmitirão a ladainha,
todos os sátrapas serão desobedecidos,
iguais agravos por todo o reino repetidos,
até aos homens menores deste Império,
que não hão de aceitar tal despautério,
surgirão brigas e muitas dissensões,
ou morticínios de graves proporções!”
A RAINHA ESTHER IV
“Pois caso um homem exerça o seu direito
de matar uma mulher desobediente,
seu pai e seus irmãos o matarão!
Não, Rei dos Reis, não pode ser assim,
que a indignação não chegará a ter fim;
mas o castigo que nos dará proveito
menor deve ser que a morte, realmente,
seus familiares se revoltarão!
Mas siga o rei o que a lei ordena:
destituição e divórcio a clara pena;
que seja Vashti em público humilhada
e para a casa de seus pais seja enviada!”
De sua esposa Ashavero tinha orgulho;
se a amava, não revela a narrativa;
se bem, de fato, nem pensara em a matar...
mas a vaidade de Vashti já ofendera
a toda a corte e em seu ódio já incorrera
e Memukan usou o pretexto para o esbulho:
“Que se escreva nos anais, com letra viva,
pois jamais perto do rei deve tornar,
conforme as leis que não se pode revogar!
Melhor esposa pode em breve o rei achar
e quando se transmitir o real edito,
se abrandará em toda parte tal conflito!”
“Quando as mulheres ouvirem que a rainha
foi destituída porque desobedeceu,
todas darão mais honra a seus maridos.
E por cumprir-se uma lei já registrada,
a sua tribo não poderá ser revoltada;
basta mostrar nos registros que se tinha
que uma esposa que antigo rei ofendeu
seus privilégios teve envilecidos.”
Então o rei seus arautos enviou,
a cada povo comunicar o que ordenou,
segundo a língua e o modo de escrever
que cada ramo de seu reino fosse ter.
Acrescentou-se que onde mistura houvesse,
que cada homem fosse o senhor da própria casa
e que ali a língua de seu povo se falasse!
O rei possuía mil escravas, realmente,
certo consolo ali encontrando, facilmente,
mas como por nenhuma amor tivesse,
sentia por Vashti certa saudade rasa,
porém depois que um decreto se assinasse
na Pérsia e Média, não se podia revogar:
da orgulhosa rainha se precisara divorciar,
mas concubinas não o satisfaziam,
embora todos seus desejos atendiam.
E começando a mandá-las castigar
por um motivo fútil de desdém,
algumas delas reuniram mais coragem:
“Rei dos Reis, de novas jovens nceessita,
de boa estirpe, para acalmar a sua desdita;
por todo o reino faça determinar
que tragam virgens para o seu harém;
Haggai, o eunuco-chefe, fará a triagem;
Só as mais belas chegarão diante do rei,
a quem se entregarão, segundo a lei
e algumas delas certamente o agradarão,
mulheres livres sem sofrer escravidão!”
A RAINHA ESTHER V
Como o conselho das escravas lhe agradava,
mandou arautos por todo o reino proclamar
que as virgens mais belas lhe trouxessem.
Alguma delas talvez mesmo o agradasse
e assim no trono de Vashti a colocasse...
Na cidadela de Susa se encontrava
certo judeu benjamita, por nome a adotar
Mordekai ou Mardoqueu, para que o conhecessem;
de fato, com tal nome disfarçava
a sua origem, que a Marduk homenageava,
deus babilônico, o grão-senhor da guerra,
cujo culto se celebrava em toda a terra.
Seu pai era um judeu cujo nome era Jair,
filho de Shimei e de Kish um neto.
deportados após a queda de Jerusalém
perante as tropas de Nabucodonosor;
ele comprara a liberdade a seu senhor,
como escriba e mercador em seu agir,
na sociedade se alçara, muito quieto,
sem a atenção chamar de mais ninguém
e assim granjeara casas e riquezas,
sem ostentar aparatos de nobrezas,
mas tinha servos e contratara mercenários
em proteção de sua casa e numerários.
Não tinha filhos, mas por qualquer doença,
seu tio Avihail e a tia haviam falecido,
deixando órfã uma bela menina,
que ele criara como sendo o tio,
de fato sendo sua prima, em honra e brio,
uma virgem formosa de aparência,
inteligente, que até mesmo havia aprendido
a ler e a escrever, para mulher bem rara sina;
seu nome era Hadassa ou “Murta”, em hebraico, (*)
seu padrasto, porém, com argúcia de judaico,
como Esther desde jovem a chamara
e a deusa-lua, Ishtar, destarte honrara.
(*) Uma planta de flores brancas muito perfumadas.
E quando o edito do rei foi divulgado,
foi denunciada de Esther a formosura;
Haggai, o eunuco, em sua casa a foi buscar,
Mardoqueu sendo tomado de surpresa,
mas não podia impedi-lo, com certeza;
da jovem o enxoval foi preparado
e aconselhou à sua enteada, com finura,
que ser judia a ninguém fosse revelar
e assim Esther não declarou a sua linhagem
nem parentela na casa de passagem
e por um ano teve os melhores tratamentos:
seis meses de perfumes, seis de unguentos.
Mardoqueu a cada dia passava
diante do Pavilhão das Reais Mulheres,
para da saúde da filha se informar;
o meda e o persa Esther dominava,
porém em babilônio conversava;
Shaashgaz, o guarda eunuco, assim pensava
ser babilônia, por seus procederes,
sem de hebraico uma palavra pronunciar;
e como era gentil e muito bela,
também o eunuco se interessou por ela
e lhe passava os bálsamos melhores,
a aconselhava, prestava-lhe favores...
A RAINHA ESTHER VI
Ora, o costume entre as convocadas
era que fossem à presença do rei
só depois de por um ano preparadas;
elas levavam as melhores vestimentas,
os seus cosméticos e jóias opulentas,
por uma noite pelo rei experimentadas,
depois passando a pertencer à grei
das concubinas do rei, também guardadas
por Shaashgaz e os eunucos auxiliares,
sem retornar aos imperiais lugares,
salvo se o rei por nome as convocasse,
se de uma delas com mais gosto se agradasse.
Hadassa, filha de Avihail, o tio de Mardoqueu,
que a criara como sendo a própria filha,
finalmente foi chamada à real presença.
Haggai e Shaashgaz a aconselharam,
com adereços mínimos a levaram
do calendário no décimo mês judeu,
o mês de Thebez, enquanto se partilha
de Ashavero o sétimo ano em governança;
e conforme os eunucos já esperavam,
os simples dotes de Esther mais agradavam,
a um ponto tal superando a quantas tinha
que sobre o trono de Vashti a fez rainha!
Então o rei ordenou grande banquete
para honrar a sua recente investidura
e fez Esther assentar-se do seu lado,
sem intenção de repelir o uso antigo
de conservá-la fechada em seu abrigo;
nenhum dos sábios o contraria dentre os sete,
contemplando de Hadassa a formosura:
com suas maneiras havia a todos encantado.
O rei ordenou vasta comemoração,
das províncias abatendo a taxação,
todos brindando com ricos presentes
e dando a Esther as atenções mais persistentes.
Mas a rainha não engravidava,
embora o rei tivesse filhos às dezenas
com as escravas que mantinha em seu castelo;
e antes de serem talvez prejudicados,
os Sete Sábios sugeriram, com cuidados,
que outro decreto se recomendava,
novas virgens convocadas às centenas,
até que o rei encontrasse um rosto belo,
mas de familia boa e ideal linhagem,
que um herdeiro trouxesse à real paragem,
”Eu amo Esther e não a pretendo destituir.”
“Só, Majestade, para a dinastia garantir...”
“De outro modo, em algum ponto do futuro,
permitam os deuses ser muito distante,
disputa surge entre os filhos das escravas...”
O rei assentiu a contragosto e novamente
a virginal convocação se fez assente.
Para Mardoqueu, pareceu golpe bem duro,
mas o amor do rei por Esther era constante
e a alternância com as outras penas bravas!
Mas Mardoqueu à porta do rei sentava,
notícias recebia e igualmente negociava
e foi assim que a dois eunucos escutou:
Bigthah com um certo Teresh conspirou.
A RAINHA ESTHER VII
A narrativa não revela o seu motivo,
mas assassinar Ashavero pretendiam
fazendo planos sem saber ser escutados;
e ao perceber essa infiel conspiração,
Mardoqueu fê-la saber, com discrição
para Esther e esta, de modo proativo,
levou-a ao rei. Aos dois logo prendiam
e após seus planos serem confessados,
ao patíbulo foram levados sem demora
e enforcados os dois na mesma hora;
e então nas crônicas do rei foi registrado
que Mardoqueu o complô havia revelado.
Passou-se o tempo e um nobre do castelo,
Haman, filho de Hammedatha, amalequita,
da linhagem de Agag, rei dos beduínos,
as boas graças de Ashavero conquistou,
sobre os demais, como vizir o elevou (*)
e comandou, mas sem apor o real selo,
que todos reverenciassem o agagita
e o tratassem com os modos mais finos.
Perante ele então todos se curvavam,
exceto Mardoqueu e o reprovavam:
“Por que transgrides tu a ordem do rei?”
“Porque não foi registrada como lei.”
(*) Primeiro-ministro.
“Não obstante, publicamente ele o ordenou!”
“Contudo, eu temo de Javé o mandamento
e não me curvo perante homem algum!”
Surpresos, indagaram: “És tu um dos Judeus?”
E respondeu: “Só me curvo ante meu Deus!”
Foi um intrigante a Haman e lhe contou
e ainda explicou por que tal procedimento.
Haman se enfureceu: “Ele é só um,
a morte quero de todos que são de Jeová,
inimigos piores para mim não há:
por seu feiticeiro Samuel foi assassinado
Agag de Amalek, meu antepassado!”
“Eternamente são nossos inimigos
esses Judeus e têm de ser exterminados!”
Perante ele lançaram as Purim,
as pedrinhas que revelam nossa sorte,
de um dia determinando traço e porte...
“Nesse dia, reunirei os meus amigos
e esses malditos serão todos massacrados!”
Mas é preciso que o rei o aprove assim!
E se achando com o rei em boa cordura,
lançou-lhe Haman certa mentira impura:
“Existe um povo pelas províncias espalhado,
que as leis do rei sempre tem desrespeitado!”
Eles só obedecem as próprias leis
e dessacram até nossos santuários,
comem crianças em seus rituais malditos
e nossos poços planejam envenenar!”
“Isso é verdade?” – chegou o rei a se espantar.
“Sim, Majestade! E têm seus próprios reis,
de funcionários assassinaram vários,
seus crimes são reais e infinitos!
Com meus homens os posso exterminar,
no dia propício para o executar,
nem é preciso envolver tropas reais,
tenho comigo dez mil homens leais!”
A RAINHA ESTHER VIII
Embora o rei em seu vizir confiasse,
mesmo assim, era um homem ponderado:
“Que interesse tem você em tal empresa?”
“Penso somente no interesse da nação:
dez mil talentos por tais mortes pagarão!”
Mas o rei não aceitou que ele pagasse:
“Meu amigo, se está assim influenciado,
guarde sua prata e execute a sua proeza!”
Então o rei tirou o anel do dedo:
“Que o decreto se redija amanhã cedo!”
E foi deitar-se com sua nova concubina,
sem dar a mínima para tal terrível sina!
Chamou o vizir velozmente os secretários,
foram as ordens depressa redigidas
e sobre elas apôs Haman o real sinete.
Memukan se sentiu desprestigiado:
De outra feita, serei eu o condenado!
E dirigiu-se aos íntimos sacrários
a quem só poucos eram admitidos,
a ponderar: “Sabeis vós quantos afeta
essa proposta por Haman apresentada?
Muita gente irá ser assassinada;
Esses Judeus na maioria são leais,
Sejam julgados pelos sátrapas reais!...”
“Que sejam mortos apenas os culpados!
Veja que Haman fez uma ordem abrangente:
moços, velhos, mulheres e crianças!”
“Mas não foi essa a ordem que lhe dei,
que executasse os inimigos só do rei;
esses decretos devem ser mais ponderados!”
“Porém Haman, com sua ordem aparente,
os decretos já registrou sem esperanças!”
“Se isso é verdade, nada mais posso fazer,
as leis da Pérsia e Média, como tal deve saber,
não poderão jamais ser revogadas,
depois que forem nas crônicas grafadas!”
“Mas foi Haman que em seu nome as assinou!”
“Memukan, ele tem a minha confiança,
se assim o fez, foi por achar correto.”
Saiu o sábio sem mais nada discutir;
com os outros seis as leis foi perquirir...
Porém Haman muito rápido ordenou
mensagens por sua própria liderança,
o território a abranger completo,
levando as cartas com tal ordenança,
aos sátrapas entregues em tardança,
que no dia treze do duodécimo mês
cumprido fosse o decreto que ele fez!”
A cada povo em sua língua redigido,
a cada um em sua forma de escrever,
nas cento e vinte e sete satrapias:
que nesse dia reunissem os judeus
e exterminassem quantos fossem seus,
em velhos e moços o edito a ser cumprido,
mulheres e crianças por igual a perecer!
E acrescentava, para ter mais garantias,
que fossem as tropas do rei ali envolvidas,
e proibidos de defender as próprias vidas!
Aos interessados, grande oferta de pilhagem
de todos os bens que encontrassem na paragem!
A RAINHA ESTHER IX
E um pouco mais ainda extrapolou:
que se fizesse seu recenseamento,
fugir do Império que fossem impedidos!
Mas para os sátrapas e altos funcionários,
tais atos sobremodo atrabiliários
eram contrários à orientação que funcionou
por todo o Império para bom contento.
“Pois que não sejam eles perseguidos,
até que chegue a tal data marcada!”
Mas a gente que a Haman era associada
se encarregou de marcar as moradias
e nas fronteiras controlar todas as vias!
Por todo o Império houve perplexidade,
nunca se ouvira falar de coisa assim,
mas com o saque a ralé entusiasmou-se!
Mardoqueu se encheu de desespero,
rasgou as vestes, se vestiu de saco inteiro,
saiu gritando pelas ruas da cidade,
todo coberto de cinza e de picuim,
diante da porta por horas lastimou-se,
porque entrar no palácio era vedado
a qualquer um em estamenha enrolado;
ao mesmo tempo, pelo Império na extensão
só se escutavam choro e lamentação.
Vários meses para a data ainda faltavam,
mas os judeus já se vestiam de estamenha
e sobre estopa e cinzas se deitavam.
Um dos eunucos avisou a rainha Esther:
“Teu pai está à porta, mas não sei o que ele quer.”
Pelas escravas logo roupas lhe mandavam,
que à presença da rainha logo venha,
depois que os trajos de aniagem lhe trocavam,
mas Mardoqueu as roupas recusou
e ao próprio Haggai a rainha Esther mandou,
que foi com ele na praça conversar,
para saber por que se achava a lamentar.
Mas Mardoqueu não parava de chorar
cansou-se Haggai e acabou por retornar:
“Senhora, ele não quer falar comigo.”
Então Esther chamou o eunuco Hathah,
em cuja maior habilidade confiará,
ainda sem sua origem revelar,
que com seu pai fosse confabular,
com discrição. “Minha boca é um jazigo,”
disse o eunuco e o levou, meio em segredo,
para um canto escondido, em certo medo,
até Mardoqueu finalmente convencer:
“Só a rainha por mim irá saber!”
Mardoqueu não só o motivo lhe falou,
como ainda revelou toda a quantia
que Haman para o tesouro transportara
e lhe entregou uma cópia do decreto,
que a essa altura nada tinha de secreto,
mas no castelo não se proclamou;
ninguém sabia que a rainha era judia;
dez mil talentos de prata ele enviara,
após notar do rei a má-vontade
por exagerar em sua animosidade;
e lhe pediu que falasse com o rei,
que de algum modo revogasse a lei.
A RAINHA ESTHER X
Hathah voltou à rainha, consternado;
com a notícia, ela quase desmaiou,
mandou insistir que Mardoqueu entrasse,
mas este com sua estopa continou,
por vestimentas melhores não a trocou.
Mandou-lhe então Esther outro recado:
“Sem ser chamado, qualquer um que penetrou
na câmara do rei sem que o chamasse,
foi condenado à pena de morte;
mulher ou homem, não terá outra sorte,
a não ser que o cetro o rei estenda,
concedendo ao invasor da vida a prenda.”
“Mas existe ainda um problema bem maior,
as leis do reino são irrevogáveis,
uma vez incluídas nos Anais;
que adiantaria arriscar minha vida,
se essa graça não pode ser pedida?”
Com este Hathah Mardoqueu achou favor
e lhe fez revelações irreparáveis,
contrariando as próprias ordens paternais:
“Diz à rainha que não pense escapará
desse decreto que contra os Judeus há;
ainda morando no palácio real,
alvo será do mesmo edito fatal!...”
“Porque se agora te calares ante o rei,
de outro modo nos chegará a salvação,
sem que Jeová vá abandonar seu povo,
tu porém, perecerás de tal castigo,
bem perto estás da adaga do inimigo;
quem sabe não foi para tal que te criei?
Este o motivo da tua coroação:
Jeová plantou em ti nosso renovo!”
Então volta e diz a Mardoqueu
que reúna a seu redor todo o judeu
que habita em Susa e então rezem
três dias e três noites em jejuar se lesem!...”
“Há um mês que pelo rei não sou chamada,
mas irei à sua presença mesmo assim
e se tiver de perecer, perecerei.”
E ao terceiro dia, revestiu-se Esther
de seus trajos reais e, sem temer,
foi à assembleia real que fora convocada
e junto à porta, parou Esther, por fim,
até ali ser percebida pelo rei,
que prontamente o áureo cetro lhe estendeu,
divertido pelo aliviado riso que correu:
“Minha nova esposa também é atrevida,
mas ordem minha não foi desobedecida!”
Ashavero lhe falou, meio a brincar:
“O que tens, Rainha Esther, qual petição?
Até metade de meu reino eu te darei...”
Esther curvou-se, sua graça demonstrando;
“Bem mais modesto é meu pedido...” – foi falando.
“Se hoje eu vim, é porque quero convidar
o rei e Haman para uma pobre refeição
que com minhas próprias mãos eu preparei...”
No rosto de Ashavero o prazer foi revelado
e Haman sentiu-se muito lisonjeado:
O seu prestígio iria agora recobrar,
depois de junto ao rei vê-lo murchar!
A RAINHA ESTHER XI
Após, falou o rei a Esther, já satisfeito:
“Dize, Rainha, qual é tua petição...”
“Senhor meu rei, eu apenas pedirei,
caso apreciou a refeição que preparei,
que aceite outra que amanhã eu servirei,
espero tê-lo então junto a meu peito,
seu bom amigo a acompanhá-lo na ocasião:
com suas presenças me satisfarei...”
Ficou o rei essa noite com a rainha,
mas por qualquer preocupação que tinha,
depois o sono não pôde conciliar
e terminou, afinal, por levantar.
“Dorme tranquila, querida companheira,
de um dever urgente recordei,
mas amanhã aqui de novo me terás...”
Partiu então para a câmara real,
mandando um escriba ler-lhe seu Anal.
Enquanto isso, ia Haman, marcha ligeira,
para gabar-se de seu favor diante do rei,
ante sua esposa, cujo nome era Zerash:
“Lembras que o rei amainara o seu favor,
porque no edito empreguei muito fervor?
Não havia motivo para preocupação,
pois nesta noite recobrei sua proteção!”
“E mais ainda: recebi o favor
inesperado da Rainha Esther!
com ela e o rei hoje nos banqueteamos
e mais ainda: outra vez me convidou
para amanhã e de “amigo” me chamou!
Mas nada disso apaga o meu rancor,
enquanto a Mardoqueu eu puder ver!
Só ao fim do ano os Judeus exterminamos...”
“Pois uma forca faz no pátio levantar
e pede ao rei permissão de pendurar
amanhã mesmo o teu terrível inimigo,”
Disse Zerash. “Não é o rei teu grande amigo?”
Porém enquanto estava a se gabar
e a planejar de Mardoqueu a morte,
a leitura ouvia o rei de seus Anais,
já que o sono não pudera conciliar
e escutara então a história se narrar
da conspirata, que se pudera evitar.
“Do denunciante, qual foi então a sorte?
Recebeu recompensas triunfais?”
“Não, Majestade, não há prêmio registrado.”
“Então agora deve ser recompensado.”
E finalmente foi dormir, mas não sabia
ao servidor qual prêmio se daria...
No dia seguinte, pelo meio-dia,
estava o rei já assentado no seu trono,
quando avisaram: “Haman está à espera.”
“Façam-no entrar!” – falou alegremente
e Haman foi logo entrando, bem contente.
Pedir a morte do judeu já pretendia,
porém o rei, antes disso, lhe dizia:
“Caro Haman, que recompensa devo dar
a um certo homem que pretendo honrar?”
Pensou Haman: Só poderá ser eu!
Mais tarde eu posso enforcar a Mardoqueu!
A RAINHA ESTHER XII
E foi falando, cheio de vaidade:
“O que fazer a quem o rei deseja honrar?
Que lhe emprestem ricas vestes reais,
sobre o cavalo do rei irá montar
e um diadema de ouro irá usar!...
E que a esse homem conduza na cidade
um dos nobres do rei, a segurar
a rédea do cavalo e, igual jograis,
em alto e bom som ir proclamar:
Este é o homem a quem o rei deseja honrar!
Não haverá melhor prêmio do que esse:
é a recompensa que um tal nobre merecesse!”
“Meu caro Haman, é excelente sugestão!
Toma tu mesmo os trajos e a coroa
e meu cavalo revestido do xairel! (*)
Manda chamar aquele leal judeu
que é chamado pelo nome Mardoqueu.
Com meus trajos o revestirás então,
em meu cavalo o montarás, nessa hora boa,
com meu diadema e as jóias de ouropel
e com essa voz que sei possuis tão forte
farás a proclamação de grande porte:
Este é o homem a quem o rei deseja honrar!
Por toda Susa o farás então passar!”
(*) Pano bordado que recobre as costas de um cavalo.
Haman mal podia acreditar,
mas se atreveu a indagar qual a razão.
“O rei não deve justificar-se com ninguém,
porém conspiração esse homem denunciou
e deste modo a própria vida me salvou!
Agora vai a tua missão executar!”
Haman curvou-se em total deprecação
e cada trecho da proposta ele também
executou, com lágrimas no olhar!...
Mardoqueu se limitou a cavalgar,
sem dar sinal de que o reconhecia,
em silêncio aonde quer que o conduzia...
E depois disso, a sua aniagem retomou
e foi sentar-se no pátio novamente;
Haman, porém, para casa foi correndo,
para a Zerash queixar-se amargamente,
humilhado perante a própria gente!
Disse Zerash: “Se teu inimigo o rei honrou
e se faz parte dos Judeus, bem certamente
dos teus planos te acabarás arrependendo!”
Mas ainda assim a esperança conservou
e para o jantar de Esther com o rei marchou,
que mal notara a sua perturbação,
nem pretendera lhe causar humilhação.
Durante o banquete se recuperou,
ao ver como a rainha lhe sorria
e então pensou: Nem tudo está perdido!
No fim do ano, terei a minha vingança,
não sobrará nem mulher e nem criança!
Mas no final da refeição, o rei falou
e de Esther novamente requeria:
“O teu desejo até agora está escondido,
pede o que queres, que te concederei
e até metade de meu reino te darei!”
E disse Esther: “Se bem vos parecer,
é a minha vida que vos peço conceder...”
A RAINHA ESTHER XIII
“Mas como assim?” – disse o rei, em sua surpresa.
“Não há motivo para pedires por tua vida!
De forma alguma ela se encontra ameaçada!”
“Senhor meu rei, minha vida foi comprada,
com a de meu povo será igual arrebatada!
Toda a minha gente massacrada, com certeza,
no fim do ano, se vossa ordem for cumprida,
Vossa Majestade, Rei dos Reis, foi ludibriada!
Se fôssemos apenas submetidos à escravidão,
nem pensaria em fazer tal petição,
mas é a morte para a nação judia
e tal sentença também a mim atingiria!”
“Mas quem foi esse homem?” – disse o rei,
logo movido por certa desconfiança,
ao ver o medo que Haman já demonstrava.
“É esse que tanto gozou de seu favor,
esse maldito Haman, vosso traidor!”
Pensou o rei: Mas como o punirei?
E em seu furor e até desesperança,
para o jardim cambaleando caminhava.
Haman, porém, foi rogar por sua vida,
vendo sua morte já estar sendo decidida;
e se prostrou sobre o leito em que se achava
a bela Esther, enquanto ainda suplicava!
Mas como o rei já estava ressentido,
sua atitude do pior modo interpretou:
“Esse vilão quer forçar a minha rainha,
em minha própria casa, esse infrator?
E proclamou: “Não há perdão para um traidor!”
Falou Harbona, o eunuco, que tudo tinha ouvido:
“Esse Haman uma forca levantou
e pretendia enforcar logo quem tinha
salvado a vida do Rei, nosso Senhor!”
“Está decidido! Pendurem o malfeitor
no patíbulo que destinou a meu amigo!”
E só então acalmou-se o rei consigo.
Mandou então chamar a Mardoqueu,
que no pátio a lamentar-se continuava:
“Vistam-no à força e o tragam até aqui!”
Disse-lhe Esther: “Majestade, ele é meu tio
e só lamento por saber que, por um fio,
está sua vida e a de qualquer judeu...”
“A própria rainha esse Haman me assassinava!”
E Mardoqueu foi conduzido até ali;
o rei as posses de Haman confiscou
e a Mardoqueu supervisor nomeou;
então, de novo, suplicou Esther,
que de Haman revogasse o mau mister!
“Querida, não é tão simples assim,
as nossas leis não se podem revogar,
esse Haman foi ardiloso em sua maldade,
mas em minha casa você está protegida...”
“Mas como posso pensar em minha vida,
quando meu povo encontrará seu fim?
Talvez meu tio o possa aconselhar,
ele conhece, com profundidade
as nossas leis e suas diferenças,
bem como as leis de muitas outras crenças...”
Foi Mardoqueu destarte assim chamado.
“Sei que o decreto não poderá ser revogado.”
A RAINHA ESTHER XIV
“Mas será que tudo que diz essa mensagem
foi nas reais crônicas registrado?”
Memukan falou não haver proibição
de que os Judeus suas vidas defendessem
ou em que outros países se escondessem.
Mardoqueu então armou-se de coragem:
“Ordene o rei que seja autorizado
aos Judeus que se defendam na ocasião.
Haverá tempo de nas armas se treinar,
antes do prazo final se completar...”
Falou Memukan: “Majestade, o seu Anal
a seus soldados não dá ordem real...”
Enfim Ashavero se tranquilizou
e mandou que outras cartas se expedissem,
na linguagem de cada povo desse Império
e nas escritas que se utilizavam
nas cento e vinte e sete satrapias que o formavam,
pelas quais aos Judeus autorizou
que armas tomassem e se defendessem,
seus inimigos a enfrentar de modo sério
e que daqueles por quem fossem atacados,
fossem depois todos os bens tomados,
tal qual no edito mal-intencionado
que por Haman fora antes enviado.
Porém Haman dez filhos havia gerado:
Dalfon, Adália, Aspatha, Pershandatha,
Poratha, Aridatha, os gêmeos Alisai e Aridai,
Farmashta e Vassatha, muito revoltados
porque seus bens haviam sido confiscados
e assim haviam seus partidários conclamado
para o massacre, na referida data;
por todo o Império a sua palavra vai;
porém o rei proibiu, terminantemente,
que qualquer mal fosse feito anteriormente
a nenhum súdito de todo o Império seu,
o seu anel emprestando a Mardoqueu.
Novas cartas fez selar e transmitir,
a toda pressa, já no terceiro mês,
que é Sivan, para que tempo houvesse,
sendo nomeado como vizir real,
com diadema, trajo e manto triunfal
túnica branca e azul celeste a vestir,
manto de ouro e púrpura, por sua vez
acima de todos os nobres que encontrasse.
Seus inimigos assaz se amedrontaram
e para o massacre mais se aparelharam,
dizendo: “Caso contrário, nos assassinarão:
esses Judeus inimigos nossos são!”
E no dia treze de Adar, duodécimo mês,
os Judeus resistiram aos atacantes,
quinhentos deles mortos só em Susa.
Falou o rei a Esther desse combate:
“Muito pior nas províncias tal abate!
Contudo, te direi mais uma vez
que acatarei o teu pedido como dantes
e o cumprirei, sem apresentar escusa.”
“Perante o rei, em sua bondade, então,
que sejam mortos os que ainda se acharão
e que os dez filhos de Haman, o Agagita,
também pendurem em sua forca maldita!”
A RAINHA ESTHER XV
Assim a luta, no dia quatorze, continuou,
sendo mortos em Susa outros trezentos,
mas os Judeus não tocaram no botim,
que ao tesouro real foi recolhido;
nas províncias o decreto foi cumprido:
setenta e cinco mil pelo Império se matou,
dos que assaltaram dos Judeus assentamentos;
realizado sendo após grande festim,
mas foi o espólio por inteiro confiscado
e para o real tesouro transportado:
ninguém dissesse que os Judeus enriqueceram
por artimanha que em segredo conceberam!
E os dez filhos que Haman havia gerado
Dalfon, Adália, Aspatha, Pershandatha,
Poratha, Aridatha, os gêmeos Alisai e Aridai,
Farmashta e Vassatha, que até com valentia
combatido haviam em seus assaltos,
na maioria a morrer em tais ressaltos,
na forca que seu pai havia levantado
foram todos pendurados nessa data,
vivos ou mortos e já abutres ali havia,
na intenção de devorar os enforcados;
os demais mortos, em geral, foram cremados,
sem haver tempo para enterramento,
nem parentes para carpir seu passamento.
Na realidade, as mulheres e crianças
pelos Judeus não foram massacradas,
como as suas os inimigos pretendiam,
mas os seus bens foram todos confiscados,
pequenos grupos foram exilados,
para as terras originais de suas andanças;
na maioria, contudo, sendo escravizadas
e nos leilões os feitores conseguiam
mais numerário para o imperial tesouro,
reunindo Ashavero assim bastante ouro,
que pela morte de seus súditos pagou
e com sua amada Esther depois se consolou.
Mardoqueu permaneceu como o vizir,
com os Sete Sábios em boas relações,
pois muito mais que a Haman o apreciavam;
e assim munido da real autoridade,
aos Judeus ordenou, em aldeia ou na cidade,
que desde então e até longo porvir
realizassem grandes celebrações
a treze e quatorze de Adar essas funções,
pelos pagãos contempladas com respeito,
embora nelas um não-judeu não fosse aceito
e como Haman sortes lançara assim,
comemoram até hoje o seu Purim.
Periodicamente ocorrem perseguições
contra os Judeus por seus costumes conservarem;
entre os Romanos, em geral, eram punidos
por nos Sábados todos os trabalhos recusarem
ou perante os deuses nunca se curvarem
e os Cristãos, para evitar a confusão,
o Dia Sétimo para o Domingo adiaram,
muitos deles sendo mortos por razões
diversas de praticarem o Cristianismo,
mas pela origem pertencerem ao Judaísmo,
com Pedro e Paulo, Jesus e até Maria,
doze Judeus na apostólica confraria.
A RAINHA ESTHER XVI
Mas depois que triunfou o Cristianismo
e os Judeus não se quiseram converter,
religiosa se tornou a perseguição;
periodicamente lendas rebrotavam
de que os poços os Judeus envenenavam,
crianças roubando antes de seu batismo
para em banquetes do seu Passach comer (*)
e massacrados em grande exaltação;
e quando foi a Espanha unificada,
por outro rei foi a maldade consagrada;
dos três milhões de Judeus que a Espanha tinha
para um terço a mortandade se avizinha.
(*) A Páscoa judaica.
Os Reis Católicos, Fernando e Isabel,
a seus padres se dispondo a dar ouvidos,
deram três meses para sua conversão
ou então, que seu reino abandonassem
e para trás bens de raiz deixassem;
ao batismo cerca de um terço foi fiel,
um outro terço até as fronteiras perseguidos,
porém um terço massacrado sem perdão;
e como dos despojos havia promessa,
o populacho se levantou depressa,
cada aldeão a assassinar os seus vizinhos,
mesmo as mulheres e os meninos, coitadinhos!
Já as meninas, no geral, foram poupadas
e “criadas” nos padrões da escravidão;
a Portugal dezenas de milhares acorreram
e sendo um povo menos sanguinário,
convertidos à força no sacrário,
levas de escravos ao Brasil foram mandadas;
das antigas família, a maior parte são
descendentes dos “degredados” que vieram,
forçados a trabalhar nos canaviais
e nas minas de ouro muitos mais,
mas até hoje, no Rio Grande do Norte,
em Caicó, afirmam ter judaico porte.
Infelizmente, era católica Isabel,
sem suplicar por Judeus ao rei Fernando,
que com despojos dos súditos enriqueceu.
Anos depois, a Rainha Catarina,
de Todas as Rússias sendo a Tzarina,
muitos Judeus em seu reino deu quartel,
a classe média inexistente assim formando
e enquanto viva, sempre os protegeu,
mas os pogroms de imediato começaram
após sua morte e muitos massacraram,
mesmo contra a vontade dos Tzares,
que não podiam controlar tantos lugares.
Passados anos, surgiu nova doutrina,
que proclamava racial superioridade,
sendo os Judeus considerados inferiores,
porém os Protestantes que havia na Alemanha,
sempre se opunham à vil Nazista sanha;
contra o modelo espanhol o povo inclina
e em “belo exemplo de praticidade”,
foram os Judeus deportados aos horrores
dos campos de extermínio poloneses;
nesse massacre a perdurar por tantos meses
não houve Esther que a Hitler rogasse
que os planos de Himmler contrariasse!
EPÍLOGO
Eugênio Pacelli, então núncio papal,
com Hitler assinou a Concordata,
e mais tarde foi ser Papa, Pio XII;
quando milhares de Judeus Italianos,
nos transportes de vagões mais desumanos
para Auschwitz foram mandados, afinal.
Por que aos Judeus há tanto povo que maltrata?
Dos Hassidim pela arrogante pose,
a insistir por sua diferenciação
em qualquer país dito Cristão?
Foi proibido até o Velho Testamento
para a leitura dos Católicos a contento.
Bem ao contrário, certos Protestantes
outra doutrina criaram igualmente,
já que os Judeus rejeitaram o Messias,
de que as promessas do Velho Testamento
davam ao “Novo Israel” seu provimento;
surgiram mesmo ideias delirantes
de que os Nórdicos descendiam, realmente,
no seguimento das mais tortuosas vias,
de oito ou nove das Tribos Perdidas,
todos Hebreus de cepas escondidas,
muito mais direito possuindo que os Judeus
das promessas que lhes fizera Jeová Deus.
Serão Judeus esses que moram em Caicó?
Houve através dos séculos mistura,
miscigenando os povos europeus;
nada existe mais estúpido que o racismo,
por religião ou cor da pele seu modismo,
todos os humanos de uma raça só,
maldade apenas entre nós perdura.
Será inveja que alguns tenham dos Judeus?
Estando sempre do exílio na iminência,
mais se dedicam à economia ou à ciência...
Mas até hoje eles celebram o Purim:
por muitos séculos esperemos seja assim!
William Lagos
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
Blog: www.wltradutorepoeta.blogspot.com
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