Batismo de água!
Tininha era a imagem - holística - da felicidade. Depois de uns namoricos
que não levavam a lugar nenhum, e ela jamais cederia à luxúria antes do sacro matrimônio, achara por fim um rapaz sério, casto e trabalhador e de elevados propósitos: era o Edileido.
Santo Antônio, finalmente atendera os pedidos fervorosos da moça. Ela estava agora a um passo de alcançar a graça. E esse passo era justamente a ponte entre as crenças religiosas de ambos, pois Edi, como ela o tratava, por afeição e para evitar a evocação de rimário indesejado, era crente.
E o elo que faltava era justamente a aceitação de Tininha pelo conversão à fé do futuro esposo. Contrariamente à objeção intransigente de seu confessor, o padre Adroaldo, e de alguns familiares entrincheirados na fidelidade ao Papa, Tininha que muito hesitara, tomou, finalmente, a decisão em favor da união do casal. E na certeza que, de foro íntimo, viveria sim na comunhão dos santos e até, no futuro, traria Edi para o abrigo sob o manto de Maria. Questão de tempo, tão-somente. O amor entre os nubentes já estava selado no atrelamento dos corações que se adoravam.
Combinada a conversão, Tininha frequentou o catecismo, ministrado pelo Pastor, de onde se diplomou com distinção. E brevidade, pois o amor tem pressa.
O dia solene do batismo por imersão foi cercado de muita expectativa e um festejo que, unindo os familiares de ambos os pombinhos, anunciava-se como de arromba.
Já de vestida branco imaculado, Tininha aproximou-se resolutamente do tanque batismal, onde, apoiada nos vigorosos e fervorosos braços do Pastor, sentiu o impacto decidido da imersão. Sua imediata reação, para o aterramento geral dos circunstantes, foi a explosão de seu grito...:
- Nossa Senhora Aparecida!
...e a consequente reprovação do celebrante por ineptude à recepção do sacramento. Não, não estava preparada para o batismo.
A festa, inobstante, houve, afinal já estava tudo tão zelosamente preparado...E mais, de Tininha e de Edi, não se ouve.