Abortei as possibilidades.
"Abortei. Várias vezes expulsei de mim.
Como quem não mais desejava;
Como quem não quereria o que estava prestes a vir;
Como aquele que desistira do seu feito;
Como quem recusara se responsabilizar por si mesmo;
Como quem decidira não aceitar as evidências;
Como quem protelara mais uma vez.
Abortara em vida: as chances, as oportunidades, os sonhos e até os devaneios, desestimulara-se num desencanto completo.
Jogara, ainda em vida, o desejo pronto a nascer, no lixo;
Dissera 'não' ao 'sim' conscientemente.
Morrera? Não, sepultara decididamente, apenas, aquele delírio denominado de sonho, de uma existência que não lhe pertencia.
Como quem abandonara uma vida de nascer, interrompendo-a de sequer respirar, cortada de todas as chances de vir.
Como quem se desfizera da única oportunidade possível de dá certo.
Como quem aborrecera-se de si mesmo condenando-se a viver sem ter."