Não me perdoe
Eu sinceramente não queria ter que escrever sobre isso. Mas eu preciso.
Preciso porque se não fizer, acabarei engasgada, afogada, com todas essas palavras nunca ditas.
Eu entendo que talvez você esteja pensando o pior de mim. Acho até que a essa hora você já ofendeu até as minhas gerações mais antigas, mas quero que saiba que está tudo bem, sério! Não posso te culpar de nada, afinal, fui eu quem te machuquei.
Só não me leve a mal, meu bem, eu fiz isso por mim mesma, porque antes ser você a chorar essa noite, do que eu. E eu sinto muito por isso.
Talvez você simplesmente não acredite em nenhuma dessas palavras. Talvez você ache que isso não passa de um papo furado que vem de uma pessoa cruel e estúpida, mas se alguma parte de você realmente me amou como você disse que amava, então vai precisar prestar atenção em cada palavra dita aqui.
Eu já tive meu coração arrancado do peito, pelas únicas pessoas em quem eu confiava. Já vi gente olhar nos meus olhos e dizer que me amava, e em seguida me largar na lama, no frio, na chuva.
Eu já fui abraçada da forma mais quente e carinhosa só para que depois eu precisasse rastejar até minha cama aos prantos.
Eu já dividi aquele brigadeiro de colher quentinho feito em casa, durante uma sessão de filmes bobos e vários amassos, e na semana seguinte não consegui nem passar perto da comida, ou então vomitaria.
Eu sei que nada disso pode justificar o que estou fazendo com você, e eu também não vou implorar o seu perdão, mas acho que você merece uma explicação, um porquê.
A verdade é que quando você olhou em meus olhos, eu me lembrei de todos aqueles que só queriam olhar meu corpo. Quando você segurou minha mão eu percebi que em todo esse tempo eles só queriam acariciar meus seios. Quando você elogiou meu sorriso eu percebi que nenhum deles jamais tinha me feito sorrir assim. E eu também percebi que tudo o que você me deu foi incrível, foi saciante, foi mágico, mas não foi o suficiente para que eu acreditasse que seria para sempre. Porque nada é eterno, e se nada é eterno eu não vejo um motivo ou razão para me entregar a alguém que amanhã ou depois vai me fazer chorar.
E é por isso que cada vez que brigamos eu pareço mais sínica, É por isso que toda vez que você ameaça ir embora eu te ajudo a fazer as malas. É por isso que quando você tenta se aproximar eu te empurro para longe.
Porque não importa o quanto eu te ame ou me importe com você, eu nunca vou esquecer das noites em claro que passei chorando, que mais pareciam uma eternidade. Não importa o quanto você jure que vai me amar, não importa que você prometa que nunca vai me machucar, porque eu simplesmente não posso mais acreditar em nada e nem ninguém, só posso desfrutar e amar o prazer da minha própria companhia, porque eu sim nunca me abandonei.
Depois de morrer tantas e tantas vezes, eu aprendi que a solidão, por mais agonizante que seja, é melhor do que esperar por alguém que nunca vai te amar.
E é por isso que eu não posso dizer que te amo. E é por isso que eu não atendo as suas ligações. É por isso que eu bebo até cair e esquecer da sua existência. Porque eu prefiro te machucar do que passar mais um momento da minha vida sofrendo.
Então, meu bem, não espero que me perdoe, na verdade, se quiser me odiar é até melhor, porque com isso eu já estou familiarizada.
Escrevi todas essas palavras na intenção de tentar amenizar sua dor, mas creio que só piorei.
Eu acho que vai ser assim, sabe? Sem beijo de despedida, sem último abraço, sem choro. Quando ler isso eu já estarei longe o suficiente para fingir que nunca nos conhecemos, torcendo para que um dia alguém te ame como eu não sou capaz de amar.
Esse alguém vai saber todas as coisas que você adora, vai lembrar do aniversário de casamento dos seus pais e te dar sorvete toda vez que você tiver um dia ruim no trabalho.
Ela vai ser quem eu um dia já fui, para o cara que eu queria ter amado.
Eu sinceramente não queria ter que escrever sobre isso. Mas foi preciso.