Relatos de uma infância

Ah, não tinha nada melhor do que jogar bola no estacionamento acompanhado de amigos de todos os tipos: os birrentos, os chorões, os competitivos, sem contar que sempre tinha um “café-com-leite” para completar o time – não sei se usam mais essa expressão hoje em dia.

Hoje eu percebo o quanto a vizinhança do meu condomínio era “molenga” (não olhe pelo lado pejorativo, haha) ao permitir – por anos – que os moleques (inclusive eu) jogassem bola no estacionamento do prédio.

De domingo a domingo, das 8h às 22h o “babinha” acontecia. De tarde havia poucos carros e à noite muitos teriam. Mas esse não era o problema, pois ainda assim a gente dava um jeito de fazer o baba acontecer.

De início eram escolhidos os times, geralmente a panelinha. Depois de tudo acertado, começava a correria. Como falado a pouco, os carros não eram o problema, pois quebrar um retrovisor, amassar uma porta e até mesmo quebrar um farol era comum no dia-a-dia. O problema era a bola, quando batia na janela da “Velhinha”.

Quem fosse esperto corria (eu), os bestas que ficavam, ouviam. Os mais corajosos até tentavam argumentar, mas nada adiantava: a bola já estava dilacerada por uma faca de cozinha.

No entanto, o pior de tudo estava por vir: não é que tinha “uma perna de pau” que fazia o fio explodir? Dessa vez não tinham corajosos que ficassem para enfrentar. Um corria para um lado, outro descia a ladeira, doido é quem ficava para ouvir baboseira.

Certo dia, em uma visita, bateu a saudade dos” babinhas”. A tristeza só aumentou quando eu vi o estacionamento repleto de matos e com o muro caído. Olhei para cima do poste, me rompi em desânimo total: os fios não mais existiam. Sentei no tanque e me lembrei que foi aqui que eu aprendi a ser criança.

Nota:

Baba, babinha = futebol

Dado Farias
Enviado por Dado Farias em 26/11/2018
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