A chegada a São Paulo
“Você não tem o direito de fazer isso, mãe!”
“Ah, eu tenho! Essa casa é minha. Ela é a sua prima e precisa de mim!”
“Que ela vá pro inferno, essa idiota!”
“CALA A BOCA, RENAN!”
A discussão no quarto era estridente. Marine respirou fundo e continuou guardando suas coisas no novo guarda-roupa. O quarto, que antigamente pertencia ao primo Eduardo agora era dela. Ela olhou as diversas malas se perguntando se tomara a atitude certa ao aceitar morar em São Paulo.
“Bom, não tem volta.” – Pensou, com um longo suspiro. Soube, na recepção fria e sarcástica de Renan que ela não teria um minuto de paz morando ali. – “Se bem que com a minha tia presente ele não vai me atormentar tanto... Espero.”
Quando a discussão se encerrou ela viu Renan passando pela porta do quarto com um olhar de que poderia ser suficiente para destruir cada partícula de seu corpo. Sentiu um tremor inesperado com toda aquela fúria. Lana entrou no quarto com um sorriso pacificador.
- Bom, eu peço desculpas por isso, mas você sabe como o Renan é difícil.
- Tudo bem, tia.
- Ele está pior desde que a namorada terminou o relacionamento.
Marine tentou não conter a curiosidade.
- Por que? Eles pareciam se dar tão bem.
- Ela foi estudar em outro estado e deu um pé na bunda dele. – A sinceridade de Lana fez Marine rir. – Eu nunca gostei dela mesmo. Acho que ela fez foi um favor para o Renan. – Deu de ombros a mulher mais velha. - Mas se eu falo algo ele retruca dizendo que só sei criticar.
- Ele ainda tem ciúme de você com o Du, tia?
- Tem. – Ela balançou a cabeça, rindo. – É bobo esse garoto.
Lana ajudou Marine a organizar seu novo quarto.
- A Cris fez bem para o Renan em muitas coisas. – Começou Lana. – Ela tirou um pouco dele essa coisa de filho mimado. Ele fez faculdade, arrumou um bom trabalho, mas namoro não pode ser possessão. E acho que nem ela é do tipo de mulher que se doma, sabe? Daí ela simplesmente decidiu que queria ir embora e ele nada pode fazer. Agora está aí, sofrendo, todo agressivo e insuportável. E depois que perdeu o emprego ficou pior ainda.
- Logo isso passa.
- Eu espero.
O telefone tocou na sala e Lana desceu para atender. Marine guardava agora seus calçados na sapateira quando foi violentamente puxada e jogada contra a parede. Ela sentia todo o desprezo emanar daquele encontro de corpos e estremeceu.
- Espero que você tenha em mente que eu vou fazer da tua estadia aqui um inferno. – Renan segurou o rosto dela com força. A outra mão segurava sua camiseta.
- Pelo jeito você continua o mesmo babaca imaturo de sempre... É uma pena.
Ele se aproximou dela, que temeu que fosse ser beijada, mas então desviou, tocando a orelha dela com os lábios. Marine se arrepiou na mesma hora.
- Você vai se arrepender de ter aceito morar aqui.
Antes de sair do quarto, Renan olhou Marine dos pés à cabeça e deu um meio sorriso. Ela já vira aquele olhar antes. Isso a fez temer o primo.
Lana entrou no quarto algum tempo depois. Carregava uma expressão preocupada no rosto.
- Tia?
- Oi, querida.
- O que houve? – A mais velha sentou-se na cama. Marine foi para o lado dela.
- Sua avó está muito doente. E ninguém quer cuidar dela. Uma vizinha dela me ligou para contar...
Marine pouco tivera contato com a avó, por isso não se afetara pela notícia em si, porém, sabia que a ida da tia para o interior de São Paulo significava morar somente com Renan. Esse era o seu problema.
- Tia, não se prenda a mim. Eu me viro com o Renan, pode ficar tranquila.
Era mentira. Marine temia morar sozinha com Renan, mas nunca que se tornaria um peso para Lana.
- Eu tentarei vir nos finais de semana ver vocês, tudo bem?
- Sim, tia. Sem problemas.
“Merda, pra quem eu estou mentindo?” – Ela deu um sorriso tranquilizado para Lana. “Ele vai me matar.”
Lana viajou no dia seguinte. Renan não esboçou reação alguma com a viagem da mãe, mas saber que ficaria sozinho com Marine o deixou animado. Tinha planos para os dois.
O principal era fazê-la sofrer.