REIS ,PRINCIPES E DRAGÕES
REIS, PRINCIPES E DRAGÕES
DE NATAL F CARDOSO
Havia num reino extremamente rico um rei poderoso, mas muito mau. Seu reino era baseado na exploração dos seus súditos. A escravidão era a marca de seu reinado. Na arena era comum o combate entre escravos que tentavam fugir. Seu reino era cercado por montanhas que escondiam riquezas em diamantes e ouro. Quantas gerações morreram deste que sua dinastia subiu ao trono. Este rei era Arthor, casado com uma bela mulher, uma ex-escrava que Arthor havia ganho numa guerra contra seus vizinhos do norte, os negros. No começo ele relutou em casar com ela, pois era filha de escravos, mas o amor falou mais alto quando ela lhe deu um filho, Arthor I. Ela, Alijha era também muito bonita, com sua pele cor do ébano e seus olhos grandes e negros. Nenhuma de suas duzentas esposas lhe dera um filho. Só aquela escrava. E por isso ele decidira casar-se com ela. Um dia um acontecimento negro rondou o reino. Alguns escravos se rebelaram e sequestraram o pequeno príncipe. Tudo aconteceu numa noite de lua cheia. Uma ex-escrava com poderes mágicos saiu de sua miserável cabana, e sobre uma rocha chamou o seu amo. Um ser negro de olhos vermelhos apareceu diante de um altar fumegante em que ardia um bode preto. A figura medonha cobriu Aatha (este era o nome da mulher) com seu negrume e seu fedor. Ela se despiu e fornicou ali com o ser. Depois gritou ao céu: QUERO O PEQUENINO, E QUE O REI CORRA O MUNDO E PAGUE POR SUAS MALDADES. SE ME DERES ISSO TE DAREI ALIJHA ARDENDO EM CHAMAS EM CIMA DESTE ALTAR. O ser rodopiou por sobre Aatha, soltou um grito e voou em direção da lua. Mais tarde voltou com o pequenino nos braços. Mostrou a Aatha e sumiu rumo ao sul. Aatha riu e se lambuzou nos despojos do bode ali sob a ara. Depois gritou:
— Minha vingança está quase completa.
Anos antes o rei mandara matar seu filho e seu marido acusados de roubar diamantes para vendê-los aos negros vizinhos, inimigos do reino. Ela fugiu para os pântanos e quando estava quase morrendo de sede e fome gritou bem alto que faria um pacto com o Medonho para se vingar daquele rei maldito. O Medonho então pediu como troca Alijha em sacrifício. O Medonho então lhe deu poderes para voltar a viver no reino sem ser incomodada, e só se ela quisesse o rei poderia vê-la.
Pela manhã o pajem real contou-o ao rei, e todos os escravos sofreram muitos castigos. Aatha foi chamada pelo rei, pois ela conhecia os misteriosos caminhos da negritude. Aatha pediu um diamante escarlate para poder ver tudo sobre o rei e suas maldades. O rei se ofendeu e durante dias. Aatha permaneceu presa no calabouço sem comida e sem água. Mas Aatha tinha o poder e o conhecimento das forças e sobreviveu. Alijha implorou e conseguiu amolecer o coração do rei. Quando trouxeram a maga de volta, ela disse que o sacrifício seria terrível e que o rei iria perder algo de que gostava muito. Para ter o pequenino de volta, deveria entregar Alijha ao Medonho sobre a ara na lua cheia. O rei ficou furioso e disse:
— Fale mulher. Existe outro meio de conseguir meu filho sem sacrificar a mulher que amo?
Aatha rodopiou por detrás do rei e soltou uma risada horrível:
— Sim. Deve sair de seu reino junto com seus guerreiros mais capazes e seus aliados e procurar por ele nos reinos negros de Nebulares. Deve tentar. Eu sei que não vai conseguir. Pois essa sua viagem será seu julgamento.
Dizendo isso começou a voar pela sala. O rei fez um sinal, e o arqueiro real a derrubou, acertando-a no peito. Ela caiu e, ainda sorrindo lançou uma maldição.
— NUNCA MAIS VOLTARÁ. SEU REINO ACABOU.
Depois começou a girar e a espocar como busca-pé e, por fim, fugiu pela janela explodindo do lado de fora do palácio.
A rainha chorou. E correu para o quarto real. O rei depois de muito matutar resolveu reunir todos e tentar achar seu filho querido. Nessa noite uma pajem da rainha lhe trouxe um presente especial. Um colar com uma pedra verde que brilhava no escuro. Mmunia esse era o nome da pajem lhe disse.
— Essse amunleto és umn minériou especiaill er quandtuo estdifiveres puferto dor malis ellie lhoe protegerára.
Nessa mesma noite o Medonho rodopiou sobre o palácio. Todos olharam quando a lua foi coberta pelo seu manto maldito. O rei correu para o quarto real e viu quando sua amada estava envolvida em uma luz esverdeada enquanto o Medonho fugia pela janela aberta. Ele a abraçou.
— Querida, estás bem?
— Sim. Deixe-me agora. Você precisa ir buscar nosso filho. Vá, enquanto eu estiver com este colar, nada me acontecerá. Ele a beijou e saiu.
E assim foi que na manhã todos partiram em suas montarias decoradas, os sete cavaleiros. A multidão os acompanhou até a saída da cidade, todos com bandeiras coloridas. Os cavaleiros também carregavam suas bandeiras. De cada casa surgia uma bandeira mais bonita e mais colorida. Cada um dos sete representava uma casa da região sul. Havia os negros de ébano com suas bandeiras de um amarelo vivo. Os brancos de um vermelho cintilante. Os amarelos com suas bandeiras azuis brilhantes. Os pardos e as bandeiras brancas visíveis a grandes distâncias. Partiram ao meio dia com o sol alto e acompanhado de seus servos e mulas carregadas de água e comida. Caminharam durante dias e se queimaram no deserto escaldante. Muitos animais morreram. Quando tudo parecia perdido, surge diante deles um imenso oásis. Rapidamente correram caindo pela encosta íngreme de areia. Saciaram sua sede. Deram de beber aos animais. E descansaram. A noite chegou fria e trazendo a lua árabe. Os escravos rapidamente armaram o fogo e colocaram pedaços de carne para assar. O aroma da carne excitava a todos. Odres de vinho doce como o mel eram abertos e servidos em taças de ouro polido. Às tantas, um som alegre de címbalos e guitarra agitou o ar. E de repente um rapazinho negro como betume vestindo uma calça larga e de dorso nu inicia uma dança em volta da fogueira. Os homens cheios de vinho e alegres com a comida batem palmas. O rapazinho saracoteia pra cá e pra lá. Faz movimentos lânguidos, tudo ao ritmo frenético da música. Os homens se aproximam e logo se forma uma roda em que todos cantam e dançam de mãos dadas. Assim a noite corre alegre e festiva. O cansaço avança sobre eles e um sono profundo toma conta do grupo. De repente um murmúrio invade os ouvidos de todos; os ossos gelam com o vento frio e um fedor invade o local. Do céu chega um vulto negro, sobrevoa o local e solta gritos lancinantes. Todos se desesperam. O vento forte impede que vejam a monstruosa criatura; ela mergulha e agarra um deles, exatamente o rapazinho que dançara. Ali mesmo suas garras estraçalham o pobre menino que grita e se debate, enquanto a imensa harpia o carrega para longe. Todos ainda assustados olham sem reação, quando o imenso monstro voa em direção da lua deixando ver apenas seu contorno sombrio. A noite transcorre sem maiores incidentes, apenas algum maldizer contra a criatura que levou Nemor. Esse era o nome do rapazinho.
Pela manhã Arthor reúnem todos e seguem em direção às cavernas Nebulares. Arthor era um negro alto e retinto que o suor se encarregava de fazer brilhar. Sua pose de vencedor fizera dele um líder. Em seu país havia deixado sua amada e jurava que quando voltasse traria para ela um dos olhos de rubi de dragão. Pois todos sabiam que os olhos dos dragões são feitos de rubi.
O país de Arthor era cercado por montanhas e em suas entranhas havia muito ouro e diamantes que escravos cavavam sem parar. Ele era um rei cruel e quanta vez decepou cabeças por desconfiar que seus escravos escondessem seu ouro. Era um rei egoísta.
Arthor tinha um filhinho que adorava e, sempre que podia, levava a criança para as execuções. Era um rei cruel. Quantas vezes ele levou seu filho para a arena onde um tigre lutava contra escravos desesperados. Agora ele estava ali desesperado à procura de seu filho. Pois bem, eles chegaram até uma caverna. Pararam na grande boca da caverna. Arthor disse: Vamos.
O sol lá fora brilhava e dentro o negrume era total. Archotes foram acesos. Atentos passavam com os olhos arregalados. De repente ouviu-se um grito terrível. E um redemoinho negro os envolveu. Um imenso dragão negro estancou em sua frente, gritando e abanando suas asas.
Arthor gritou:
— Ataquem!
Mas o medo petrificou a todos. A figura do dragão ali tão perto era medonha e perturbadora. Ele inflou o peito e labaredas saíram de sua boca e narinas. Um pânico se instaurou. Arthor se escondeu atrás de pedras e, por isso, foi o único a se salvar. Olhou para trás e todos tinham virado cinza. Ainda assustado, ouviu seu nome ser chamado. Um sussurro chamava por ele:
— Arthorrrrrrrr! Arthorrrrrrrr! Arthorrrrrrrr!
Pensou que estava delirando. Apurou a audição e agora tinha certeza de que o chamavam. Saiu de trás da pedra, já não havia mais dragão.
Ele então gritou:
— Quem me chama? Quem me chama?
— Sou eu.
Ele olhou e viu um ancião parado à sua frente brandindo uma espada em chama. Ele se afasta, até suas costas encontrarem as pedras da caverna. O velho soltou um silvo de sua boca banguela, e o dragão surgiu saracoteando assustadoramente vindo em sua direção. Ao chegar bem perto, lançou um fio de fogo pela narina direita. O fio de fogo bateu na pedra derretendo-a, prendendo o braço de Arthor e assim ele fez com os dois braços. Arthor suava frio de calor, de dor e de medo.
O velho se aproximou rindo e disse:
— O mal está em você. Mas este dragão vai te salvar. Assobiou e o dragão se aproximou. Com um golpe rasgou seu peito. Arthor gritou:
— Por que está fazendo isso comigo?
— Seu reino é do mal.
— Por favor, não me deixe morrer, eu tenho filho.
— Seus escravos também tinham. E você não teve clemência.
Arthor arregalou os olhos e disse:
— Mas eles eram escravos. E eu sou um rei.
Quando ele disse isso, o dragão se agitou e soltou um grito ensurdecedor. Depois se voltou para ele, encarando-o. O velho fez um gesto com a mão e o dragão se afastou. Ele então se aproximou de Arthor, passou sua mão pelo ferimento. E levando-a a boca disse:
— O escravo sangra? O escravo sofre?
— O rei sangra? O rei sofre? Qual a diferença?
De repente ele pula para o lado e o dragão surge gritando e rugindo e, com dois fios de fogo, liberta o rei.
O velho se aproxima e diz:
— Você tem mais cavernas para atravessar, e só na final será julgado. Agora vá — diz ele apontando para a saída.
Arthor olha para seu peito e lá já não existe mais nada, está curado. Aproveita que o velho está de costas, puxa sua espada e golpeia. O sangue pula em seu rosto e ele grita:
— Maldito seja ancião. Eu sou Arthor, um rei. E ninguém me diz o que fazer.
— De repente ele ouve um rugido e vê o dragão correndo em sua direção; rapidamente pega a espada flamejante que está ali ao lado do ancião e a atira em direção ao dragão, atingindo-o no peito. Ele cai ganindo, e um tremor se precipita. A caverna começa a cair. Arthor corre até o dragão, retira a espada e corre para fora. A caverna estava destruída.
E assim ele seguiu em frente. Guardou sua espada na bainha e caminhou muito. Chegou até uma cidade abandonada e o silêncio do lugar lhe causou medo. Céu azul e nuvens brancas o acompanhavam. Ele passou pela rua principal e não encontrou ninguém, atravessou a cidade cansado e sedento. Ao chegar na saída encontrou uma velha com um caneco de alumínio na mão e um pote de água. Pensou em tomar um pouco da água oferecida pela anciã, mas ao se aproximar notou feridas horríveis em sua boca desdentada. Olhou para ela que o chamava rindo. Um ódio mortal lhe invadiu a alma. De um salto ele chegou até a velha; arrancando a espada que estava em sua bainha, desferiu um golpe decepando a cabeça da velha. Rapidamente pegou o pote e sorveu a água com afã de louco. De repente o céu escureceu e uma tempestade se formou, envolvendo-o. A velha agora estava ali a seu lado segurando uma criança linda. Uma luz surgiu em meio aquele breu e ele se viu dentro de uma caverna de cristal avermelhado. Era um imenso salão de um vermelho cor de sangue. No centro um bebê em um altar verde de jade. O bebê era branco, tão branco que brilhava, uma luz pairava sobre ele. Ainda atordoado, caminha até aquela criatura ali indefesa. Com a espada na mão ele caminha cautelosamente, olha para aquele lindo bebê ali deitado e se mexendo. A pele branca e os olhos azuis do bebê o fascinam. Quando tenta pegá-lo ele não entende, suas mãos passam por ele. Estava ali tão visível e ao mesmo tempo era transparente. Um som o desperta, um som tranquilo e prazeroso. Ele olha para trás e uma jovem branca e translúcida emite um som. Ele sente uma paz e esquece-se de tudo, apenas quer estar ali ao lado da bela jovem. Corre até ela desvairado sem perceber os perigos. Mas quanto mais corre mais ela se afasta. Ela está ali e ao mesmo tempo está longe. Está tão enfeitiçado por ela que escorrega e cai em um precipício. Acorda em uma sala toda de jade, um verde escuro e brilhante. Está bastante escuro e só o fogo dos olhos de um dragão ilumina o local. O dragão dá uma rabeada daqui e dali, solta gritos e vem sobre ele. Ele ali caído só espera o golpe final. O dragão corre como um desvairado brandindo sua cauda, derrubando tudo e fazendo um barulho ensurdecedor. Quando chega, ele fecha os olhos esperando pelo pior. Nesse momento o ancião que ele matou surge em sua frente e o dragão para; e dando um grito some no ar. Ele se afasta, encolhendo-se contra parede.
— Você? Mas eu o matei.
— Você não aprendeu nada ainda. Cuidado, restam só duas cavernas. Pode ser o seu fim ou o seu começo.
O coração de Arthor ainda estava duro pela maldade. Ele correu e pegou a espada, voltou onde o dragão de jade dormia e o matou. Tirou seus dois olhos, pegou uma zarabatana e correu para fora. Nem o choro do bebê que estava ali ao lado amoleceu seu coração. Nem o canto da moça consegui fazê-lo feliz. Desceu rolando pela saída da caverna, alegre pelos presentes sem pensar em nenhuma forma de arrependimento.
Agora à sua frente encontrava-se um imenso mar azul e sem fim, as nuvens brancas moldavam a paisagem e gaivotas voavam alegres. Ele encheu os pulmões de ar e sentiu o cheiro característico do lugar. Ali na praia pescadores com seu dorso nu e queimado separavam os peixes de mais um dia. Reclamavam que o dia estava fraco. Arthor chegou até eles e grito:
— Sou Arthor, um rei, e ordeno que me levem até a Quarta caverna.
Os pescadores mais preocupados como dividir tão pouca pesca não lhe deram atenção. Ele então pegou pelo pé um menino mouro que estava li sentado ao lado e, brandindo a espada de fogo, gritou:
— Muito bem. Esse menino será sacrificado pelo desdém com que trataram um rei como eu. E assim ele fez sob olhar de todos, brandiu a espada e o menino foi-se. As mães choraram e os homens pediram perdão. Ele então foi até a margem e, tirando um apito do bolso, soltou um grito agudo que ninguém ouviu só os peixes que pularam para as margens. Todos esqueceram as maldades do rei e correram para pegar o alimento. Depois o adoraram.
Ele então disse:
— Peguem o corpo do menino que morreu por vocês. Façam um túmulo rico, e esse túmulo será como um marco para os viajantes que passarem. Quando virem esse marco, saberão que um rei passou por aqui. E assim foi feito. O marco foi construído. E gerações e mais gerações tornaram-se escravas por um capricho de um rei.
Já se passaram cinco anos que o rei estava fora. Alijha sofria, os grão-vizires roubavam tudo. Alijha era só choro. Uma noite de lua cheia um pássaro de cristal entrou em seu quarto cantando uma música suave. Ela se encantou com ele. Ele pousou em sua mão, ela então se despiu e tirou também o colar mágico. Como que por encanto o pássaro transformou-se em duas serpentes negras com olhos em fogo. Assustada, ela se refugiou na cama. As serpentes sibilavam pelo quarto. Então uma voz saiu das serpentes:
— ARTHORRR ESSSTTA MOORRTO. QUEERRES TEU FILLHHO. SEJAA MINHASS. SSÓ ASSSSSIM ELE PODERRA VOLTARR.
Assim foi que Alijha deixou-se sacrificar pelo filho. Ainda pôde ver Arthor pela última vez na caverna. O Medonho a levou até a ara sobre a montanha mais alta e cravou o punhal de rubi em seu coração. Ela então se tornou um zumbi e seguiu o Medonho até seu reino nas entranhas da terra.
O rei então foi levado até o centro daquele mar e lá havia uma caverna. Foi deixado lá, e à noite ele entrou na caverna. Quando pisou na entrada ouviu a voz de sua esposa gritando. Desesperado, gritou seu nome e correu em sua direção:
— Alijha!
Enquanto corria, ouvia risos e vultos passavam por ele sem que pudesse identificar. Eram como sombras correndo em sua volta. Ele, desesperado, gritou até ficar sem voz. Caiu em prantos gritando o nome de sua amada. Ainda caído, sentiu mãos perfumadas e macias em seus cabelos. Olhou e viu o rosto de sua amada. Seus grandes olhos negros, sua pele de ébano brilhante e seu perfume o fizeram sorrir. Ela lhe dizia algo que ele não conseguia ouvir. Por que ela estava chorando? Não podia falar-lhe, pois sua voz sumira. Tentava e nada; ela, então, desesperada correu e ele foi atrás. Ela caiu num buraco gritando por ele. De repente a caverna se agitou e um urro mais poderoso do que ele estava acostumado a ouvir explodiu no ar. Ali em sua frente surgiu brandindo suas asas negras um imenso dragão. Entre suas garras, Alijha desmaiada. Ele gritou horrorizado com aquela figura dantesca. O que fazer? Aquele era o maior de todos os dragões que ele vira. Procurou em seu casaco a zarabatana e nada, ela tinha ficado na praia. A espada flamejante seria a solução. Pegou-a e viu a diferença. A pequena espada parecia mais um canivete perto do imenso dragão. Alijha não mais estava com ele. Arthor pegou a espada e atirou contra o monstro. Nesse momento ele se transformou em seu filho. E ele viu sem reação a espada atravessar o coração de seu filho. Agora ele já estava em outra caverna, acompanhando uma imensa procissão mulheres vestidas de roxo. Carregavam cadáveres de filhos. E os jogavam em valas de fogo. Ele gritou para o absurdo daquilo. Então lá do céu uma luz se acendeu e o ancião gritou:
— Esse absurdo foi você quem criou. Todos esses filhos são os filhos destas mulheres que tu mataste em anos de governo despótico. Agora vai e tenta achar o teu filho nessas fossas humanas.
Ele então desceu cambaleante e começou a revirar os corpos de bebês e jovens e, sentindo um imenso cheiro de morte, começou a chorar. Seu filho não podia estar ali. Afinal, era um príncipe. E continuou ali no meio daqueles mortos, revirando daqui e dali. E nada encontrou. Sentia que alguns ainda estavam quentes, via marcas de espadas e chicotes. Às vezes, quando puxava, vinha apenas metade do corpo ou braços, pernas. Olhava para cima e via apenas o rosto de mulheres sem expressão. Pedia que o ajudassem. Elas apenas viravam as costas.
Chorou e quando voltou a olhar para cima viu um imenso dragão se preparando para tocar fogo em tudo. Gritou aflito:
— NÃO, NÃO!
Era tarde demais. Ele pulou para fora e sentiu o cheiro de carne sendo queimada e de choro de mulheres. O dragão fugiu gritando algo semelhante a um a risada demoníaca. Ele então chegou perto da fossa e chorou.
Então do teto desceu uma luz e, no meio dessa luz, havia um menino vestido de príncipe; segurava uma espada flamejante e montava um dragão branco como a neve. Na cabeça uma coroa de um vermelho vivo, a armadura de um dourado misturada com azul.
Arthor então chorou e se abaixou, fazendo reverência. O menino se aproximou e, erguendo a espada, deu um golpe, decepando lhe a cabeça. A cabeça rolou e caiu dentro da fossa. Estranhamente havia em seu semblante um sorriso de paz.
O menino então voou para seu reino, matou os vizires, retomou o trono e não houve mais escravos. Apenas trabalhadores. O Medonho nunca mais apareceu, Aatha tornou-se sua escrava e Alijha sua rainha.
FIM.