CEMITÉRIO
Todos muito bem arrumados, muito bem posicionados no palco. Um referencial para os outros, exemplos de dignidade.
Não me vejo assim, nem tentei me posicionar na fila, muito menos me coloquei aos seus olhares. Eu menti o tempo todo, mas eu nem sei o porquê disso tudo. Sem identidade, sem um nome, sem uma verdade.
Andamos em alguns quarteirões da cidade, mas não achamos nada. Apenas suor nas costas, calor do sol no rosto.
Vamos comprar alegria, vamos comprar um coração contente. Uma história que algum dia possa motivar os corações.
Mas eu nem sei de onde eu vim, eu nem sei para onde eu vou, muito menos onde eu estou agora. Para falar a verdade, eu nem sei quem eu sou. Vejo apenas uma esperança distante, tento pensar nela como um abrigo pra mim e pra você.
Nenhum lugar é tão distante agora, eu vejo tudo daqui. Nada é novo pra mim, esse mundo é tão pequeno, a mesma coisa todos os dias. Eu vejo essas flores desde os 6 anos.
Pelo espelho eu vejo você, duas faces da mesma pessoa. Quatro olhos, quatro bocas, quatro ouvidos e dois corações. Em uma você sorri, na outra você chora. Em uma você vive, na outra você morre.
Hoje eu vi o cemitério dela, não há lugares para mais uma alma. O atalho por entre os túmulos desapareceu. Agora você vai passar sobre as cruzes dos desconhecidos. Faça o seu caminho no meio dos mortos.
Você ainda acha estranho o amor? Ainda acha distante a felicidade? Você nem sabe onde encontrar a saída.
Ela chorou no banheiro, suas lágrimas se misturaram com as águas do chuveiro e foram escorrendo pelo chão. Elas foram embora pra nunca mais voltar.