RÉQUIEM DO ESPÍRITO

É difícil de se conformar, eu sei. Mas cheguei ao fim da linha. Antes do fim biológico, o fim da alma, o apagar da chama que sustenta nossa garra. O que é um ser humano sem garra para correr atrás de suas metas? Metas? Metafísica. É tudo que importa para mim agora: de onde e como veio parar nesta Terra o maldito ser humano. Pouco importa para onde vai o Homo sapiens ou minha trajetória meramente física. A espiritual já findou. Volto a perguntar: metas? Objetivos? Se são tão patéticos, agora, depois da morte interior, nem merecem ser chamados assim. Que tal "caprichos irrealizáveis"?

A civilização não está perdida. Quem é padrão pode sobreviver, nos dois sentidos. Tem gente que poderia viver 200 anos, biologicamente, que ainda teria algo a queimar em seu espírito. Gente que está sempre motivada para algum assunto, não fica em paz na cadeira de balanço feito os outros gagás. Minha vida, espiritualmente falando, se queimou em dezoito curtos anos. Estou morto por dentro, esperando o relógio biológico, esperando a funcionalidade esplêndida e pré-programada do meu organismo, se dar conta do ocorrido. Quero os dois relógios juntos. Estar morto-vivo não é muito agradável...

Rafael de Araújo Aguiar (1988-2007)