Radik e o planeta Lutrik
RADIK E O POVO LUTRIK
Lutrik é um povo diferente:
“A todo o momento, se cuidado não tomar, uma pessoa amada pode se ausentar”.
E o segredo para que esta volte é descobrir o que foi imposto, e assim realizar o desejo para que dela receba o perdão, que só será aceito se realmente for de coração.
Assim começo este livro, tão cheio de mistérios, que nos ajudará a questionar nossos sentimentos para que no futuro evitemos lamentos.
Em um planeta mui distante, longe, muito longe, há homens, mulheres e crianças, cavalos, cães, dragões, peixes que voam como pássaros, alguns deles até penas têm, há outros animais, aqui não conhecidos e flores jamais vistas; o sol se chama Zuk, e o povo fala Tropé, homens não se chamam homens, nem tampouco mulheres são chamadas assim; Prit e Nit, assim são chamados, filhos são Fint, mas o leitor não precisa se estafar, darei o nome a eles, o mesmo de nosso lugar.
Temos então muito a aprender, pois se o que acontece aqui, lá acontecesse, todos desapareceriam, se ficassem poucos seriam.
Antes de escrever o que aprendi com Radik, na única linguagem do povo Lutrik, nome dado ao planeta em que vive, este com quem me encontrei, e por pouco tempo fiquei, resolvi meditar, meu modo de agir mudar, para hoje poder lhes ensinar.
Ele era bem mais alto do que eu, mas se achava mui pequeno, calculo então, que na terra dele eu não passaria de um anão.
Questionei se com ele poderia ir, mas, com um toque suave em mim, ele viu: tristeza, dor, mágoa, angústia, sentimentos que na terra dele são como a peste para nós, de início não entendi, mas com o tempo compreendi, em sua terra , quando alguém com outro se entristecer, aquele que se sente ofendido desaparece, não se sabe aonde vão, lá neste lugar consciência eles têm, mas ao voltar tudo esquecem, conclui-se que seja para o próprio bem, e, para que voltem, há um segredo, que, se não for descoberto a ausência permanece: os filhos choram, as flores murcham, o cãozinho uiva , os vizinhos rejeitam, são todos suspeitos, aqueles que são mais chegados vêm para consolar, e procuram descobrir, o que ela veio a pedir, o tal segredo, para que aquele que se ausentou volte ao seu lugar.
Olha que loucura! Mas, a vida que parece dura, na verdade são mui tranquila, eles passeiam pelos bosques e jardins, a comida flutua, todos a pegam, não há fome, comércio: mui pouco, as roupas poucas são, aliás muito poucas, pois a temperatura é sempre agradável. O mundo deles é redondo, mas parece ser quadrado, é pequeno, grande não é, ou o sol é tão grande que o mundo deles parece pequeno. Radik não sabia me dizer, aliás, certamente que me disse, mas nada entendi, não deu tempo, tantas perguntas que fiz, tudo que me lembro aqui escrevo, o restante, lamento, pois eu queria também saber, de repente ele teve de ir, disse algo como um tchau, só não sei se voltará. Será que o insultei? Se assim for, como o segredo descobrirei?
O certo é que aqui estou escrevendo o que compreendi, quem sabe ao escrever, se um segredo existir eu venha a entender e o meu bom amigo volte a ter comigo. Tenho ainda tantas perguntas, mas também respostas tenho; depois que com ele me encontrei, com ninguém mais eu briguei. Para quem torto eu olhava, hoje sorrio, suas palavras tocaram tanto meu coração que hoje me sinto pequeno diante daquele meu irmão.
Como questionar o outro, se certezas minhas não tenho? Nosso mundo é tão diversificado, que às vezes é bom ficar calado, no entanto por dentro me transformei cada letra que escrevo, compreendo melhor a Radik e a mim mesmo. Ele achava-me fraco e inseguro.
Queria o seu povo nos ajudar; pelo que entendi, já estiveram aqui, mas sempre acabam indo; pelo jeito, nosso modo de ser os faz desaparecer, falou de uma tal vacina, contra a tristeza, a melancolia, a depressão, uma tríplice que muita coisa resolveria, mas concluiu que no corpo não há semente, há algo dentro da gente, que não conseguia entender.
Hoje, penso: É nossa alma, será que eles não têm? Sua idade não cheguei a perguntar, nem sei se entenderia, o que ele me falaria. Pouco tempo, foram dias, semanas, de duas não passou, pois o tempo era meu amigo, por Radik estar comigo.
Eu vivia só, todos tinham ido. Eram então, somente eu, minhas vacas e bois, meus cães, pássaros, porcos, galinha, galos, patos e aqueles que me visitavam, não pessoas, mas sim borboletas, anus, tucanos, papagaios. Pensava: “vivo só, mas, bem acompanhado”; não tenho calendário. Televisão? Para quê? Rádio! Nem pensar, queria do mundo me isolar, aliás, eu o fiz, e pensava ser feliz. O som, só da vitrola, discos antigos, vozes que fizeram o mundo chorar e se alegrar.
Radik deve ter vindo a mim para me consolar, de certo eu parecia um dos seus, atacado pela praga que faz com que desapareçam , lembro-me que estava preocupado, na certa uma epidemia seu planeta invadia.
Voltemos à história que ele me contou, com certeza é verdade, depois de ouvirmos, ficaremos com saudades, quem sabe um dia ainda volte, para a nossa sorte.
O SUMIÇO E A PIPOCA
O senhor Vald estava arrasado, sua mulher havia evaporado, muitos casos aconteciam; poderia ser dias, semanas, meses de ausência, teria que descobrir o segredo ou viver com o medo de jamais voltar a vê-la.
Seus amigos o questionavam: por que ela se entristeceu? Se és tão bom amigo, a ponto de virmos ter contigo? Onde foi que erraste para que ela se enfadasse?
Eu e ela estamos juntos, tantos anos se passaram, talvez o cansaço, não sei. Passeamos, brincamos, sempre alegre a via estar, mas algo nela brotou, ou em mim que a magoou.
Planejamos ir a um jogo, torço pelo Mallie, ingressos comprei, cadeiras reservei.
Ao que me perguntaram, se a ela questionara por qual time ela aclamava.
Disse-lhes: eu não sei! Nunca lhe perguntei.
Só pode estar aí, falaram os visitantes, na certa ela não tem, a mesma opinião de alguém, e este és tu meu camarada.
Vá ao jogo, e sente-se na arquibancada do time de predileção que ela tem no coração. Realize o desejo dela. Certamente voltará e ao seu lado se assentará.
Disse-lhes: é coisa tão pequena, dói assim o coração?
Sem pensar, corri à bilheteria onde converteria aos ingressos que minha amada queria. Corri tanto que para o meu espanto mais jovem me senti, meu coração batia como naquele dia que eu a conheci.
O jogo estava marcado, três dias sem poder estar ao seu lado, a vontade que eu sentia, é que fosse no mesmo dia em que o segredo fora desvendado.
Os dias se passaram, eu consolava meus filhos e eles me consolavam, o uivar dos cães à noite e as flores a murchar nos lembravam a todo instante, como é bom amar.
Jogo inicia as quatro, às três horas já estávamos ali. Eu, a jovem Laures e o menino Maltians, loucos para reencontrar aquela a quem iam sempre amar.
Sentados na arquibancada, cadeira vazia entre eu e a filha, sorriso largo, torcida a nos olhar, queriam todos vê-la voltar.
O apito dá início ao jogo.
O meu rosto entristecido olhava a cadeira ainda vazia, ela não tinha aparecido. Entrei em pânico então, lágrimas caíram ao chão.
O que aconteceu? Perguntava eu.
Mas para quebrar o meu pranto, Laures gritou com euforia: “Mamãe nunca a um jogo assistiria, sem a pipoca que a divertia!”.
“As pipocas não são como aqui, pulam ao calor das mãos e fazem uma confusão, algumas ela abocanhava, outras caíam ao chão, pegavam, então, eu e meu irmão”.
Gritei auto ao pipoqueiro, que ao pegar o dinheiro viu ali aparecer minha mulher que me olhava a sorrir.
Todos aplaudiram, pensaram até que era um gol, até mesmo o juiz para mim olhou.
Foram beijos e abraços, alegria que contagia; família entre tantas outras que ali se divertia. Onde estava, não se lembrava, mas agora ela sabia que três dias se passaram e ela nem percebeu, juntinho assistiam ao jogo; sabia não ser culpada, eram regras do povo Lutrik, alguns diziam ser Deus, que brigar não permitia, discussão era resolvida antes de findar o dia.
Cadê nosso herói?
Temos um caso ainda não resolvido, por isso conto-lhe meu amigo, quem sabe podes me ajudar.
Toda nossa sociedade está preocupada, as Olimpíadas estão à porta, e Tinit, o campeão estadual de nosso esporte nacional (Rndie) sumira de repente, a sensibilidade ao chip aumentava a cada dia, e cada vez mais gente sumia.
A TV anunciava, nas ruas se comentava; cuidar o povo se cuidava, mas a “peste” se alastrava.
Como descobrir o que a Tinit veio a afligir, ele é muito amado por todos que estão ao seu lado, mas algo o entristeceu, por isso desapareceu.
Peritos estão a investigar a cada um, para assim chegarem à conclusão, tantas coisas podem ser, mas neste momento não poderia acontecer, não diante desta época que nos trás tanta emoção e alegria ao coração. Primeiros dias se passaram e a nenhuma conclusão chegaram, amigos não haviam brigado, nem a companheira que está sempre ao seu lado.
Pai diz: Não fui eu, em casa nada demais aconteceu.
Mãe tão carinhosa, sem chance exclamava uma multidão, muitos a consolavam, e ela a si mesma perguntava: Por que isto aconteceu, com este filho meu?
João interrompeu, fazendo uma pergunta que o surpreendeu:
Em sequestro, não se pensou?
Radik não entendendo, perguntou ao amigo:
O que é isto meu camarada?
Explica-me e quem sabe outro caminho a investigação pode tomar, pois o caso está ainda para nosso povo solucionar.
Ao explicar ao visitante, este disse que nem sabia da existência deste modo de agir, que apesar de entender, se negou a aceitar que um dia isto vá ao seu povo chegar, não tem lógica trocar vida por uma coisa qualquer, cada vida tem infinito valor, impossível pagar a qualquer infrator, mundo estranho esse seu, concluiu Radik que com esta história muito se entristeceu.
PARTE 2
Meu nome ainda não disse, pois me parece tolice, mas agora vou me apresentar, para podermos dialogar, não sei como os chamarei, mas a cada leitor falarei, com todos quero ideias trocar. Meu nome é simples em nossa terra, muitas coisas ele encerra, não é Adão, nem mesmo Moisés, nem tampouco Abraão, lembra, no entanto a solidão, simplesmente chamam-me João, nada a ver com tão grande personagem, sou mais simples, vivo hoje o pouco que aprendi, já não sou tão jovem, mas sai da solidão, meus filhos aqui voltaram, a mulher jura me amar, os pássaros sorriem, os cães voltam a se alegrar, as flores voltam a mostrar seu brilho, a alegria da natureza trás de volta com certeza a vida a este lar, muito, graças a Radik que me ensinou o que nunca aprendi, para mim era um anjo, mas não me enganaria, na certa falava a verdade quando de outro planeta se dizia.
As primeiras histórias que contei, únicas não são, vou adiante com outra inda mais emocionante, difícil de acreditar; como é louco aquele lugar!
Vou sentar-me ao redor da fogueira e contar a noite inteira, ou até adormecer minha bela companheira, o seu nome é Larissa, mas vou chamá-la de Issa, pense não que é por preguiça, é uma forma carinhosa de chamar minha dengosa, dos meus filhos digo depois, a história em minha mente quer logo sair de mim, se eu não falar, vou passar a duvidar que venham a acreditar.
Vou iniciar a história, a partir de quando conheci Radik, que chegou à minha pousada numa noite enluarada sem o som da molecada, que com a mãe havia debandado por eu deles não ter cuidado, só pensava em trabalhar.
Nada de histórias ou brincadeiras, no cavalo já não subia, doía assim o coração daqueles que um dia eu festejara a companhia, a mulher eu já não respeitava, nada eu fazia daquilo que ela me pedia, suas neuras não entendia, enfim, passam noites, passam dias, disse adeus, foi à casa de um tio seu, mas jurava que ainda me amava.
Quando Radik chegou, por pouco não me assustou, eu olhava para a fogueira, com a qual trocava assunto, às vezes a noite inteira, era minha companhia, minha nova companheira.
Achei que era o vizinho que vinha bater um papinho, logo pedi para sentar, a fim de um café tomar, ele chegou calado e sentou-se ao meu lado, para o copo ele olhava, mas nada ele falava, quando disse não entendi, foi então que compreendi, era um estrangeiro perdido a procura de um abrigo.
Estranhei sua presença, ficava ele a gesticular, parecia querer algo me ensinar para poder se comunicar, e dai ficamos a noite inteira, pois gostei da brincadeira, o dia a amanhecer e eu já conseguia lhe entender.
Que língua era aquela, de tão fácil compreensão? Inglês? Francês? Alemão? Nenhuma delas parecia, e o nosso amigo me dizia: preciso contigo “falar”!
E as horas se passaram, olhava ele para o alto, algo ele procurava, mesmo quando amanheceu nada ele comeu, por mais que eu insistisse, algo como um não ele me disse.
Assei carne, salada fiz, enquanto ele me ensinava o pouco que hoje sei, não são poucas as palavras, nem tampouco muitas são, mas já dava para entender, que comer não ia não, sua boca tinha dentes parecidos com os meus, boca larga, sorridente, mesmo assim, nada comeu.
Ele olhava para o alto, porque, fome tinha, em sua terra, em seu planeta a comida flutuava sobre quem comer queria, horas se passaram, foi dai que descobri, só queria gelatina que por sorte tinha ali, quando viu o brilho dela, avançou e devorou com graça e alegria, algo como um obrigado ele me dizia.
Força restabelecida, um desenho ele fez, que mostrava claramente que daqui não era não, mas sim de longe, muito longe, bem mais longe que Plutão, nosso pequeno planeta anão. O céu eu não conhecia, mas seu desenho me dizia que aqui só chegaria numa nave espacial, mas, barulho não escutei, e sobre isso nada disse, portanto eu nada sei.
Tudo ele olhava e com palavras soltas me perguntava, nosso idioma pouco conhecia, mas apenas palavras soltas; frase não fazia, havia estudado para estar ali ao meu lado, o difícil para ele era entender o que as palavras queriam dizer, em cada situação temos termos que modificam o sentido da oração, entender não entendia, e apenas conhecer as palavras de nada adiantaria, pois, nada tinha a ver com seu modo de viver, parece ter decorado um de nossos dicionários, que se transformaria em vida no tempo que conosco iria permanecer.
A cada frase, por mim elaborada, ele repetia, e, logo guardava o som que muito o divertia, mal sabia ele que por dentro eu também ria, pois sua voz meio cantada, apesar de afinada trazia-me muita alegria.
Para minha sorte, aprender a língua Tropé, muito fácil é, como que por encanto eu decorava as palavras, como se parte de minha vida fizesse. Nunca entendi o que acontecia ali, sei que cada dia que se passava, nosso poder de comunicação aumentava.
Quando o dia se acabou, muitas coisas aprendi, até coisas que eu deveria já saber por aqui.
Com minha vida interagia, aonde eu ia ele ia. Gostava de ficar com os animais, com os quais sentia paz, e eles dele gostavam, ao seu toque se alegravam, pareciam entendê-lo bem melhor do que eu. A tardezinha cavalgava demonstrando alegria terminava assim aquele belo dia.
Já no terceiro dia, muita coisa eu entendia, difícil era acreditar que existia aquele lugar.
Doença ali não tem, trabalhar, pouco por dia, eram poucas, muito poucas as coisas que se fazia, sinceridade e honestidade evitavam a burocracia, para a administração era pequeno o batalhão.
Roupas leves, não tão variadas, nos dedos ele me mostrava, faltavam dedos é claro, mas não tantos como eu pensava; automóvel ou qualquer outra locomoção, poucas havia então; desenhar, poucas páginas exigiam, eles eram engraçados, sem pneu, sem direção, no chão não andavam não.
Ao avistar meu violão, pegou-o na mão, e fez logo a afinação; dele tirou melodia que não esqueço hoje em dia, momentos de tanta beleza; tantas canções ele tocou e com sua voz acompanhou, que as horas se passaram com alegria até o raiar do dia quando os sons se calaram.
Agora vou lhes contar, algo que ele me disse, vão dizer que é tolice, mas podem acreditar, as mesmas palavras vou usar, em nossa língua é claro, para podermos se comunicar.
O dia amanheceu, quarto dia creio eu, levou-me para o bosque, tinha algo a me ensinar, ou quem sabe a me perguntar?
Sei que quando lá chegamos, toda árvore tocamos. No íntimo ele se perguntava:
“Por que tão quietas elas estavam? Não saíam do lugar?”
Foi então que entendi, no planeta de Lutrik, não sei por que razão, diferente era a vegetação, quando pequenas, andavam, quando mais velhas fixavam-se ao chão, ali ela cresceria e frutos daria, falar não falavam não, mas, tão espertas eram que nem falta fazia, quando uma fagulha acontecia, as que podiam corriam, aquelas que não, ficavam na confusão, o povo pra lá se dirigia e logo tudo se resolvia.
Radik me questionou:
Por que eram tão estranhas? Tanta sujeira impregnada? Por dentro ele se desesperava. Quando então eu lhe contei sobre o desmatamento, fogo que consumia muita árvore todo dia, ele me disse então que do lugar de onde vêm as árvores andavam pela rua, distribuindo sombras a famílias se alimentado, a carros estacionando, crianças a brincar, trabalhadores a descansar, o povo Lutrik se nega a derrubá-las, termo que entre eles nem há.
Destruí-las, nem pensar, aquelas que não andavam eram muito bem cuidadas naquele lugar.
Aquelas palavras a Radik entristeceu, daí entendeu, por que outros que aqui vieram, ficar não conseguiram, mas, ele se esforçaria, e sua missão cumpriria, no entanto seu semblante não foi o mesmo depois daquele dia, as músicas que nos alegravam, cantar já não conseguia.
Outro dia amanheceu, quinto dia creio eu, uma ideia veio a mim para à tristeza de Radik por um fim. Cuidar do bosque, do mesmo modo que em seu planeta, quem sabe ele sorri, ao ver que é possível também por aqui.
Às vezes corrigir, por pouco que façamos, faz com que todo o mundo corrijamos, se cada um fizer a parte que lhe couber.
Quando a ideia lhe passei, um sorriso eu ganhei, escovas e baldes pegamos, e quando lá chegamos, bom dia a todas falamos, lavamos tronco a tronco, deixando tudo bem limpo, suas feridas curamos, tirando lagartas e bichos, fungos, orelhas de pau; só não conseguimos fazê-las andar, mais isto ele pode aceitar.
Dois dias se passaram, tudo tão limpo e vistoso, além do cheiro gostoso da mata que estava no ar. Olhava para o bosque com tanto carinho, que pegou o violão rapidinho e pôs-se a cantar. Certeza ele não tinha não, mas ao ouvirem a história da boca de João, ficariam todos com a opção:
Da mata cuidar, e a todos proclamar:
‘Minha parte eu já fiz, e por isso estou feliz, quem ler esta história e ver o meu feito e se possível for, trate da natureza com muito amor’.
João para a sua amada olhava, e também para a criançada, nem rosto de sono tinham, se tivesse mais histórias na certa ouviriam, e é claro que eu tenho, muitas mais ele contou; e algumas delas falam ao coração.
Doenças, lá não existem, mas, problemas que aqui tratamos como se fosse, lá com naturalidade cuidamos, Radik me dizia que parte de sua missão, é ajudar a quem não possa se expressar, às vezes a dificuldade e a limitação, limita a ação de quem dele deva cuidar.
Aos que chamamos autistas, lá são denominados Outs, eles são tratados igualmente como toda gente, não há discriminação por serem diferentes, pelo contrário eles são admirados, pois às vezes se aprende mais a observar do que a questionar.
O autista rejeita o abraço, sinal da decadência de uma nação que incorpora em seu modo de vida tanta rejeição, são crianças, idosos, deficientes, doentes e tantas outras situações, que certamente Deus nos mandou o autista para nos dar uma pista, uma falha da natureza que nos questiona com certeza.
O autista fica ali parado, calado e com muito pouco ocupado, pra mostrar a muita gente que temos de agir diferente, prestar atenção a tudo que esta ao alcance de nossas mãos: esposa, filhos, um lar. Para que se aventurar?
O amor de amigo é companheiro, mas no lar é que o amor é verdadeiro.
O autista não gosta de barulho, por que será que foi feito assim? Uma nova mensagem para você e também para mim: o mundo de hoje em dia é muito barulhento, eles são, portanto, um sinal que com tanto barulho vamos nos dar mal. Muitos estão ficando surdos, não dão atenção ao sinal da natureza que “quer” o nosso bem com certeza.
Quando o som desaparece, a alma se entristece, o corpo adoece, muita gente faz sofrer, o pai não escuta o filho, ou o filho não escuta o pai, agora mesmo que quisesse já não escuta mais, se a surdez tomou conta, por tudo aquilo que ele apronta, tarde aprendeu, era bom ter escutado o que o pai tinha falado. A tristeza que agora ele tem sentido, vai fazer com que se sinta arrependido, mas de nada adianta, o som da música agora já não o encanta.
Estranhei então, Radik citar que em seu planeta há também aqueles que braços, mãos, pernas não tem, o que diria então aquele meu irmão?
Doenças existiram, hoje não existe mais, uma deficiência qualquer, seja no homem ou na mulher, cães ou passarinhos, todos são tratados com carinho, pouco sentem a limitação, pois há espaço pra eles em qualquer habitação, seja na casa, no comércio, o trabalho não o nega não, se o braço direito não tem, é ensinado a usar o braço ao lado, o casaco vem sem manga, estiloso é o que se diz e ele sente-se feliz.
Não se olha o que é diferente, mesmo por que para minha gente diferença não há, nem se fala desse assunto em época de eleição, pois essa gente não faz reclamação.
O autista, quando em Lutrik surgiu, o povo logo sentiu, há algo a dizer por alguém que não quer aparecer, uns chamam Deus, mas se assim é, por que não fala abertamente? Será que não pode ser visto pela gente?
Outros dizem:
São sinais sagrados que indicam o cuidado que Ele exige, e como não escutar esse modo de “falar”. Exigências lá do alto é bom saber ouvir, por que sofre muito aquele que resistir.
O nosso povo percebeu, quando muita gente desapareceu, e aquele que até então não existia, nasceu da noite pro dia; muitos não foram, mas poucos não são, o bastante para nos colocar em atenção, o número de autistas para nós é uma pista da decadência da civilização.
O filho mais velho, então, talvez para chamar a atenção, afirmou ao velho pai: realmente, é difícil de engolir, mas é muita fantasia para criares em poucos dias, leste em algum lugar, só para nos alegrar?
Para testar então, algo vou lhe perguntar, tanta comida que flutua tem origem? Ou não soube ele explicar?
Foi bom me perguntar, esta história eu deixei para antes do jantar, a carne está assando, o frango está dourando, então posso já falar, e escutem com atenção para que a história não me fuja da memória.
Disse ele e não eu há um vale bem ao longe, escondido nas montanhas, de onde vêm os ziriks, cientistas já estudaram, mas, a conclusão nenhuma chegaram; são anjos, dizem. Não faz sentido tanta trabalheira, fazer comida de dia e também a noite inteira. Que valemos para Deus, para receber pela vida toda esta alimentação? Que além de tudo é divertida, pois há aqueles que querendo mais, tentam alcançar os ziriks que fogem dando carreira esquentando a brincadeira. As cenas são engraçadas e alegram a molecada; sabe-se somente, que há nela ingrediente, que nos faz viver plenamente.
Fora esta alimentação, temos frutos de montão, legumes e até açafrão, nos estádios tem pipoca e também pinhão, e como aqui, no sul eles têm o chimarrão.
Como não há bactérias, as frutas não se estragam com tanta facilidade, tem sorvete, tem açaí, pouca coisa falta ali, nada, com a jaca pareceu, pitangas não há lá, poucas ervas para o chá, há flores mui gigantes, pequeninas há também; tem ainda as que andam para lá e para cá. Um casal apaixonado tem sempre uma flor ao seu lado, elas leem o coração e deles não largam não, há flores amarelas para os namorados, vermelhas para os casados, flores de todo aroma, esta parte foi difícil entender, pois só sabe quem o sente, pois não se pode ver.
Agora é o mais pequenino que diz: “Fica fácil ser feliz” Neste mundo, o que pode acontecer para alguém se entristecer?
Se pensarmos meu filhinho, não há diferença não, nossa terra, nossa gente produz comida de montão, o que falta é usar a consciência que Deus para todos dá, compreende meu filhinho que diferença não há!
Sei não meu velho pai, sou pequeno para tanto, mas, pelo que falas, alguém está faltando com a sua obrigação, pode ser o Presidente, Senador, Governador, mas também o meu vizinho, que se deixa enganar e mesmo eu tão pequeno meus direitos não reclamar.
Depois da refeição, com alguns papéis na mão, ele nos mostrou o que Radik desenhou. Todos olhavam, com os olhos esbugalhados, muitas coisas entendiam, mas de outras apenas riam.
Carros que não andam no chão, aviões não tão diferentes, trens: longos demais; casas grandes e vistosas, prédios só na horizontal, lembrei-me da capital, material que fogo não pega devido à segurança, preocupação a que o povo se apega devido a tristes lembranças.
Velho pai que historia é essa? Quanta imaginação! Duvidar, duvido não! Mas o planeta de Radik, este tal de Lutrik é bastante diferente do mundo da gente.
Se a outros eu contar, sei que vão duvidar, vão pensar que é ladainha de um velho fuinha.
Ah! Veja está parte que então eu vou revelar: detalhes sobre a alimentação: Ao amanhecer avistam-se ao longe os ziriks a chegar a todo lugar, de acordo com a fome, cada um pega e come; depois ficam por ali a esperar a quem esta por acordar, uma criança preguiçosa, uma esposa mais dengosa ou um marido trabalhador.
Que sintonia é essa? Isso não entendo! Acreditar é o que me resta.
Voltam lá pelo meio dia, quando aqueles que trabalham pela cidade se espalham, sentado nos bancos das praças à sombra das árvores recebem o alimento que parece vir com o vento. Invadem as casas, os filhos se alegram, depois de tanta arte, que o alimento não lhes falte.
Os ziriks são bonitos, cada cor é um sabor, dá força ao povo e saúde ao trabalhador, faz crescer a criançada, mantém o idoso sempre contente, enfim é o alimento de toda nossa gente.
Quando a noite cai, eles vêm novamente, coloridos brilham à luz da lua que se acende, invadem todos os lares, procuram pela gente em todos os lugares, ninguém fica não, sem a alimentação.
Casais escondidos, anciãos com falta de memória perdidos, fugitivos de pais enraivecidos, estejam onde estejam não vão ser esquecidos.
Final das histórias, o pai percebia que mais queriam saber. Issa sentiu que amar a João mais fácil ficou então. Parece até que tinha um novo coração.
A VOLTA DE LUTRIK
De repente, no meio da gente, um homem surgiu, tão bonito, que Issa igual nunca viu, João o olhou e logo o abraçou.
Onde foste meu amigo? Por que deixaste de ter comigo? O que foi que te fiz, para torná-lo infeliz.
Olá a todos falou, um a um cumprimentou, sorriso largo no rosto, nem precisou se apresentar, todos reconheceram a Radik naquele olhar.
João! Fiz meu pedido, e ele foi atendido: depois que minhas histórias contar, e todos os que ouvirem, desejar que entre vocês eu deva estar, eu voltaria e por mais uns dias com vocês eu ficaria.
Mas, o que foi que te disse, para que de repente você sumisse?
Chamaste-me de irmão, e isto amoleceu meu coração, nada do que disseste veio a me entristecer, ao menos em relação a você, foram as coisas que relatastes, as histórias que contaste sobre o que ocorre em seu planeta. Meu coração não aguentou: “Desmatamento, destruição, guerras, poluição, incêndios em plantações, desprezo a tantos irmãos e sem darem solução, deixar de ir não fui capaz, são regras de Lutrik, mas hoje estou aqui pelo amor que recebi".
João tomou a palavra e foi logo dizendo:
Tanto já ajudaste! Tantas coisas já mudaram! O amor voltou à minha casa, meu modo de ver a vida mudou.
Então ele interrompeu: Um presente eu trouxe, às crianças uma surpresa sem igual, só peço tomarem cuidado, pois há perigo vital.
De uma caixa tirou Rosper uma pequena flor, que colocada ao chão, pôs-se a caminhar e ao lado de cada criança ficar, tocar nela não podia, caso contrário ela morreria.
Nela fixaram-se os olhos da criançada, para lhe chamar a atenção elas bateram as mãos, a tal florzinha dançava, ninguém acreditava. Será que ela ouvia?
Ela sentia a alegria, o amor da companhia, dançar, faz parte de sua natureza, feliz ela está com certeza. Passaram então a cantar, Rosper muito se alegrava andando pra lá e pra cá, parecia que nos enxergava.
Quem ama sempre vê, de olhos não é preciso, é uma linguagem universal, estejamos onde estejamos o amor é como o sol que chega aos bons, mas também aos maus.
Radik se pôs a tocar o violão, todos prestavam atenção, músicas desconhecidas, mas que é alimento para almas rejuvenescidas.
A fogueira esquentou e neste ambiente de amor e carinho foram pegando no sono devagarinho, Rosper se aquietou quando a criançada desabou cansada, a manhã se adiantou e o fogo se apagou.
Dia agitado, Radik pouco dormiu. Preferiu ficar acordado, olhando as estrelas e ver o sol nascer. Diz, que em seu planeta o sol não é tão grande, temperatura ideal para o povo em geral, nos polos assim como aqui, as geleiras escondem tudo: montanhas, vales e rios, poucos enfrentam tal frio, o povo Lutrik é mui quente, bem mais quente que aqui, gasta muita energia gerada pelos ziriks; antes de vir, alimenta-se só com frutas, legumes e leite para a temperatura do corpo diminuir.
Quando a criançada acordou Radik as orientou que se Rosper amarela ficar, ele tem que voltar, três dias calculou, a criançada chiou, mas colocaram-se a brincar para o tempo aproveitar.
Ao bosque todos fomos então das árvores cuidar. Lá chegando Radik, víamos em teus olhos a emoção, tudo cheiroso e limpinho, feito com muito carinho; cumprimentamos uma a uma, e, Rosper caminhava por entre as árvores junto com a criançada que alegremente dançava.
Foi um dia agitado, como contar na escola uma história assim? Conversavam entre si aquela galera mirim, sem poder fotografar para não a prejudicar. Resolveram então segredo guardar, quem sabe um dia a humanidade possa escutar!
Tantos segredos há no mundo, aquele seria só deles, um presente daquele homem que viera nos conhecer.
Quem acreditaria, que naqueles dias, uma flor que dança, e um homem com histórias tão lindas vieram ao nosso encontro, para lançar a semente, que agora em toda gente possa germinar.
Radik disse então, que daria explicação do resultado de sua missão.
Ele havia compreendido que remédio não podia curar o que o povo dele tem sentido e dava a eles um mal estar, provocando tantos males em todos os lugares. Colocou-se então a expor a história de seu planeta, para que possam entender o que ele mesmo veio a compreender.
O amor que é verdadeiro é remédio para o corpo inteiro. Há algo dentro da gente, por isso somos diferentes, isto não sabíamos, aprendemos com João, hoje meu querido irmão.
Amigos escutem:
Dois mil anos se passaram, depois de uma grande destruição, sobrou-nos muito pouca informação; uma guerra tecnológica, certamente sem lógica destruiu todo o conhecimento; negávamo-nos a fabricar papel, tudo que conheciam nossos antepassados, ficava em máquinas armazenado, demoramos séculos para fazer funcionar máquinas desconhecidas, paradas em todo lugar. Algumas viraram objeto de museu, pois entendê-las ninguém entendeu.
Depois, uma guerra bacteriológica atingiu a nossa gente, somos imunes a vírus, mas cientistas descobriram um jeito de estes em nós penetrarem, homens morreram em dois dias, mulheres viveram pouco mais, o bastante para fazer um antidoto, mas, que só surtia efeito em crianças de peito, e até seis anos, não mais!
Tudo que restou neste mundo destruído foram milhares de crianças que haviam sobrevivido, muitas ainda a gatinhar, outras aprendendo a andar e os mais velhos que pouco sabia para ensinar.
E hoje, entendo eu, que Deus olhando a situação, deu a este planeta a chance de salvação, criou plantas a andar para estas fazerem sombras sobre os nenês a gatinhar, às vezes sem destino; estas leem de alguma forma o coração da criança dando a ela esperança até grande ficar, por algum motivo esta situação perdura até os dias de hoje, não se sabe o porquê. Deus deve ter gostado de ver as árvores andando ao nosso lado, deve achar engraçado.
Quanto aos ziriks produzidos no grande vale, hoje tenho explicação:
Deus olhando crianças naquela situação, sem mãe, sem pai e sem grandes irmãos, colocou seus anjos em ação. Por algum motivo isso se perpetuou, misericórdia e amor do Grande Pai que a todos assiste, esta sabedoria João nos ensinou.
E o grande mistério, para vocês, não para mim, do desaparecimento do povo Lutrik quando há desentendimento, vou explicar e verão como é fácil a explicação.
Sabe-se que nosso povo era muito mais avançado que hoje, quando perceberam que a situação era de grande tensão, cientistas desenvolveram um chip orgânico de transferência a fim de tentar evitar a guerra que estava a se formar, quando entravam em conflito, um deles desaparecia; com o tempo este chip agregou-se ao DNA das novas gerações, ele é ativado quando o sistema nervoso é excitado e a calma vem quando o desejo é realizado, por trás de tudo isto tem os Lutriks sobreviventes que de longe cuidam da gente, evitando assim que nosso povo chegue novamente ao fim, estes não conseguem para Lutrik voltar, pois o sistema de segurança não os permite se ausentar.
Poucos sabem disso no planeta Lutrik. Não sabíamos como evitar esta praga se alastrar, pois para todo cidadão é vergonhosa a situação.
Hoje, graças a João, que nos mostrou o caminho para a convivência, ao menos em essência: viver a vida cristã e conhecer o Criador que sempre cuida de nós com muito amor.
Finalizando o discurso, olhos lacrimejavam, Rosper ainda dançava ao lado da molecada. Dois mundos diferentes, que ensinam e aprendem, trocando informação cuja finalidade é manter viva a sociedade.
Depois que Lutrik e Rosper partiram, João e sua família nunca mais se dividiram, aprenderam a respeitar a forma de cada um amar, evitar o conflito e procurar juntos resolver as diferenças, para não terem o destino do antigo povo Lutrik, que quase foi destruído.
RADIK E LUTRIK
O INÍCIO
Quando o povo Lutrik tinha entre oito e quatorze anos já haviam explorado muitos dos ambientes destruídos pela guerra, procuravam entender para que serviam tantas máquinas, poucos lembravam de ver alguma funcionando.
Priticis foi o primeiro a fazer funcionar uma delas, aos doze anos desmontava como forma de brincadeira várias máquinas junto de coleguinhas quando ao trocar uma peça que estava visivelmente diferente das outras por uma aparentemente nova ouviram motores a funcionar, esteiras se movimentavam, já conheciam as palavras ligar e desligar do antigo povo então acionaram o botão.
A partir desta experiência que ocorreu no ano que chamaram oito, pois faziam oito anos que tudo tinha acontecido, passaram a fuçar as máquinas para encontrar as peças ruins e trocar por novas, retiravam-nas e iam a lugares que tinham peças separadas e as colocavam no lugar, assim o fizeram durante anos até que muitas e muitas máquinas funcionassem.
Muitas outras, sem concerto no momento, eram deixadas de lado, voltariam a elas em outra etapa.
Ninguém sabia o teor da guerra, quando conversavam muitos relembravam pequenas cenas da infância a fim de dar vida ao passado, a língua do povo Lutrik era de difícil compreensão em relação à Tropé que eles mesmos faziam ano a ano.
Analisando os símbolos e tentando dar vida a eles acabaram por conseguir entender a partir do ano quarenta e sete, praticamente tudo já fazia sentido. Os computadores foram os últimos a serem compreendidos, talvez porque os jogos tivessem tirado a atenção daqueles que tentavam, muitos pensavam que só serviam para brincar.
Descobriram então que estavam no ano 5545, portanto a guerra teria acontecido em 5498, o tempo em Lutrik quando comparado ao do planeta Terra é diferente pois há 314 dias no ano.
Descobriram que o povo dormia e não se levantava mais entre os 135 e 200 anos Lutriks. Ainda não haviam experimentado o adormecer de que se falam em textos, todos estavam curiosos, mas ninguém queria fazer parte desta experiência, alguns diziam que era um sono diferente, vinha ao por do Zuk e o derrubava, outros ainda que fosse porque no dia em que ia dormir comia zuriks demais, por isso todos comiam só o necessário, ao menos nos primeiros séculos, depois já se acostumavam com a morte, era um simples adormecer, quase todos simplesmente não acordavam, alguns caiam pela rua, pois teimavam em não querer dormir e mesmo sentindo que chegava a hora pareciam querer fugir do sono sem volta.
O corpo do povo Lutrik é bastante semelhante ao terráqueo, pulmão um pouco menor, cabeça grande, orelhas normais, olhos mais abertos e redondos, a grande diferença é que a produção de energia era muito grande nas mãos que eram para nosso padrão exageradamente quente, esta energia gerada pelos ziriks perpetuou-se de geração em geração, mesmo assim são produzidos frutos, legumes e verduras, muitas diferentes das nossas, não se consome carne de nenhum tipo de animal.
O calor excessivo das mãos geram histórias entre o povo e colocam medo neles de ir a lugares muito gelados, no caso os polos, até este ano não há quem tenha tido coragem.
Hoje, o povo Lutrik recuperou quase setenta por cento de todo conhecimento e isto faz com que avancemos a cada século, mas ainda há limitações importantes que quando desvendadas os levará ao auge, no entanto muitos têm medo de isso acontecer e gerar uma nova guerra.
Ao que João questionou a Radik, que descansava de sua fala feita quase sem interrupção.
Ter medo de desenvolver-se não é saída, vocês, pelo que vejo tem uma ótima formação com base em regras sociais sólidas, ideias e modo de agir de grande sabedoria, não há como surgir de justiça a injustiça, uma árvore boa só dá bons frutos.
E ainda vocês eram crianças quando sozinhos refizeram suas vidas, não possuem as mesmas raízes e isto os tornam totalmente diferentes do que eram.
Radik: Realmente, assistimos vídeos que mostravam um modo de agir dos antigos bem diferente dos nossos, obrigado por suas palavras de sabedoria, levarei a meu povo e certamente aprenderemos muito mais deixando nossos medos de lado a fim de avançar em nossa evolução, penso que nos deixamos estacionar em uma situação que julgamos favoráveis à nossa sobrevivência, mas é hora de lutar pelo futuro.
João: Meu planeta também sofre com o desenvolvimento, mas sempre há um novo caminho, aprendemos com os erros, se nada tentamos, nunca chegaremos a lugar algum, um de nossos maiores problemas é a ganância que somado ao desrespeito ao outro nos leva à decadência, talvez se aprendermos a pensar como sociedade e não individualmente evoluamos.
Radik: Palavras de sabedoria meu amigo, o pensamento como seres sociais é o forte de nossa sociedade, nada fazemos egoisticamente, a justiça é uma marca de nosso governo, todos vivem muito bem, não há muitas classes sociais, poucos se destacam economicamente pois seus cargos exigem muitas viagens, funcionários a disposição por exemplo.
Mundos tão diferentes, mas que compartilharam dificuldades ,levando a ambos a uma reflexão que atinge a cada um.
A distância dos dois mundos agora se encurtou, laços de amizade revelam que a ajuda pode vir a partir de experiências diversas, tão ricas que provocam mudanças, aproveitem bem, Lutrik voltará e vai querer ver uma Terra melhor.