BISCOITOS VIRTUAIS
Ecoo a frase do escritor Oswald de Andrade sobre os seus poemas.
“A massa ainda comerá o biscoito fino que fabrico”.
Mas eu não produzo biscoitos,
eu imagino caveiras
surgidas do cristal
que adornará bolos de festa
e prosas poéticas.
Atiro ossos de açúcar
nas cavidades do texto
até compor o fêmur doce
que junta os sonetos.
Encaixo vocábulos
e na combinação
faço surgir versos marcados como:
“ Vejo a ferida na cadeia digital,
porque estamos com o dedo
no século 21
e mal soltamos poemas,
criaturas intangíveis
na realidade virtual
dos “Pokémon Go".
Contudo, um dia ainda veremos ,
quando a essência da poesia raiar novamente,
e as crianças não forem mais
softwares aplicativos;
elas realizarem tarefas poéticas
de um mundo outra vez infantil:
“Ciranda, cirandinha,
Vamos todos cirandar...
O anel que tu me deste
era cifra e se ocultou.
O amor que tu me tinhas
era arquivo e não download”.
DO LIVRO: "O ÚLTIMO FOGUETE