A América Latina: ações de menosprezo ou desfiguração?
Entre 1879 e 1884 o Chile tomou da Bolívia sua saída para o mar, começando o quê se chamou de a “Guerra do Pacífico”. De quebra, tomou também para si, uma boa porção do território peruano, ao sul deste país, território este rico em minerais, especialmente cobre e prata. De lá pra cá, o Chile destacou-se de seus vizinhos, econômica, cultural e militarmente. O Peru nunca se conformou. A Bolívia também não; eles têm tentado nos organismos políticos e jurídicos internacionais, recuperarem seus territórios. Já houve até uma tentativa da Bolívia e do Peru, que solicitaram que o Brasil reclamasse pra si uma faixa de terra que separa os três países, posando de país neutro, desde que o Brasil concordasse em abrir, para a Bolívia, uma saída para o mar e que ficasse do lado do Peru nos fóruns internacionais. Lembro-me que nos anos 70 foi noticiado que os japoneses fariam gratuitamente tal estrada, que daria também ao Brasil uma saída para o Pacífico, desde que ficassem com toda a madeira retirada da Amazônia, em toda a extensão por onde passaria a estrada, coisa de aproximadamente 4000 km. Felizmente, do ponto de vista ecológico, nada disso foi adiante. Mas, não teria a Bolívia o direito de ter sua saída para o mar? Todos remoem suas mágoas, até hoje... .
Existem ainda os conflitos entre Argentina e Chile envolvendo o Canal de Beagle, ao sul do continente; além de mágoas guardadas por mexicanos por terem sido ludibriados pelos EUA, na “compra do Texas”, que eram terras do México; dos canadenses, por terem “vendido” o Alaska para os EUA; do Peru, por ter o Equador assumido parte de seu território; dos argentinos que perderam as Malvinas para os ingleses ( e hoje as Malvinas só são assim chamadas pelos argentinos, pois todo o resto do mundo referem-se às Malvinas como “Falklands”). Muitos bolivianos, inclusive o presidente índio Evo Morales, acham que o Brasil deveria devolver o estado do ACRE à Bolívia, pois existe uma lenda que o Brasil trocou o Acre com a Bolívia por um cavalo, do qual um general boliviano ficou cheio de amores e que aceitou a oferta. Durante o segundo império, o Brasil, capitaneado por José Bonifácio Andrade e Silva além do banqueiro Barão do Rio Branco, também assumiu uma porção de terra do Uruguai, na região de Colônia de Sacramento, iniciando aquilo que se chamaria de Província Cisplatina. Felizmente o Uruguai tinha outras terras, distantes de Montevidéu para usar como moeda de troca e as ofereceu ao Brasil, em troca da Colônia de Sacramento. O arranjo foi feito e hoje tais terras, localizadas no Rio Grande do Sul, são as querências denominadas Santo Ângelo e Missões. Note-se que o Barão do Rio Branco, fez muito pelo Uruguai, auxiliando os platinos orientais a montar indústrias incipientes, onde nenhuma havia. Até os dias atuais pode-se ver uma estátua em sua homenagem, que permanece em ponto estratégico da cidade de Montevidéu, bem no coração econômico daquele país.
Não se pode esquecer ainda a “Guerra da Tríplice Aliança”, ou a “Guerra do Paraguai”, como aprendemos nos livros; onde o Brasil, o Uruguai e a Argentina se uniram para massacrarem o país potencialmente mais evoluído da América do Sul, por isso mesmo, fonte de ciúmes de seus vizinhos mais populosos, que ajudados pela maçonaria inglesa, deu um “ar de legalidade” ao ato insano, justificando que o ditador paraguaio queria o Rio da Prata só para si, mas que a Tríplice aliança achava que os paraguaios deveriam “abrir os portos às nações amigas”. O Paraguai que, à época, era o maior produtor de trigo das Américas, que tinha as maiores siderúrgicas, que fabricava bons navios, mas que apesar de tudo isso não tinha costa oceânica e dependia exclusivamente do Rio da Prata para escoar seus produtos, foi inapelavelmente batido. Há poucos anos, a Bolívia expulsou a empresa Petrobras de seu país e disse ao governo brasileiro que não tem nenhuma dívida com a Petrobras, embora sabe-se que essa conta vai além da casa do bilhão de reais; a Venezuela de chaves fomenta conflitos, par que os nossos vizinhos não paguem a conta a seus credores, ao mesmo tempo em que espera tirar vantagens econômicas daqueles a quem hoje apóia. O Equador também contratou empresas de construção do Brasil e decretou falência, se negando a par suas dívidas; até a Argentina de Cristina Kichner abriu baterias contra o Brasil, por ser o Brasil o país que mais vende para eles, querendo impor sobretaxas de produtos brasileiros. Uma guerra surda está sendo travada. Nosso atual presidente debocha de quem acha que temos que ser duros cm eles. Quem será que tem razão?
Poderíamos falar de mais mazelas da América do Sul nesse tom, porém novos tipos de ingerência podem surgir com o desenvolvimento tecnológico. Recentemente, há pouco mais de um ano, estabeleceu-se uma “guerra cibernética” entre o Peru e o Chile: um “hacker” peruano, autodenominado "Cyberalexis", invadiu o site de Defesa do Ministério do Interior do Chile e deixou uma mensagem ofensiva aos chilenos, com fotos de dois homens em situação comprometedora, onde aquele que aparecia em situação vexatória era legendado como chileno; além de falar mal do acepipe de pescado “cebiche” e da bebida “pisco” fabricados no Chile, como de qualidades inferiores às do Peru. Mas, a retaliação aconteceu: entre o dia 12 e 13 de dezembro de 2010.o site do Poder Judiciário do Peru foi invadido por um hacker chileno (não identificado). Lá, ele deixou mensagem onde reafirmava a soberania do Chile pelo mar e a qualidade superior do pisco e do cebiche do Chile. É possível que, no futuro, muitas guerras possam ser iniciadas ou terminadas via Rede Mundial de Computadores. Impossível é nossa amada América Latina guardar tantos rancores.
Mundo curioso, este. De fato, se nós sulamericanos, fossemos adotar a Pena de Talião “olho por olho”, do código hamurabiano, seríamos um continente de cegos. É mister que nos mantenhamos pacíficos; ou atlânticos, ou tropicais, se preferirem.
Já dizia um argentino, há muito tempo: “tenemos que ser duros, pero sin perder la ternura, jamás”. E o poeta brasileiro, Antonio Maria, dizia que “o brasileiro tem por profissão, a esperança”.
-Vamos tentar fazer uma América melhor?
Antônio Carlos Affonso dos Santos - ACAS-