Gloriosos quinaus...
Num tempo em que a maioria das meninotas primava por cultivar e curtir seus encantos, Glória era a cara da inteligência. Como ela só. No nosso embate direto no exame de admissão ao Ginásio ela logrou um glorioso segundo lugar. Com a média de 8,21. Atrás somente de Ana Lúcia, que era outro portento, portanto. Em sétimo, abaixo de oito, me conformei. A disputa fora límpida e renhida. Achei até que minha colocação não fosse assim tão merecida.
E ao longo dos quatro anos ginasiais, só vimos a nos encontrar na quarta e última série, onde as turmas de moças e rapazes se fundiam, e sem confundiam, animados pelos cupidianos apelos, e até sacro-profanos pêlos.
Mas nada rolou entre nós. Nem acesso recíproco a boletins escolares. E menos ainda em horas dançantes.
Reencontro casual tivemos a bordo de um ônibus da Santa Maria, a caminho da capital, onde, já universitários, Glória brilhava na medicina, e eu na rota das humanas sinas. O papo foi cortês, sem fingidez. E de viagem as horas eram três.
Quando aceitei a oferta de um cigarro seu, Minister, me lembro eu - era tempo em que os proscritos eram os cigarros de palhas, cachimbo e charutos - tomei-lhe também a cartelinha de fósforos de papelão, e tentei riscar um deles, que logo se retorceu e nem atrito deu.
Com um sorriso que eu nunca havia visto a doutoranda me doutrinou:
tomou-me a cartelinha, dobrou sua capa para as costas e, pela fricção, acendeu, iluminada aquele aflito palito. Tava começando o meu vício. Mas que não passou do início...