VEXILOLOGIA: O Significado de NEGO na Bandeira da Paraíba
Eu sempre me socorro de Mestre Câmara Cascudo, quando quero sintetizar uma questão etnográfica ou dado histórico. Em minha pesquisa de há alguns meses, me detive na análise da bandeira do estado da Paraíba, pois sempre quis saber o significado de NEGO, nela contida. Ao estudar mais a fundo, vide texto a seguir, esta bandeira sim deveria ser alterada completamente. A inscrição NEGO, da bandeira da Paraíba, não significa nada que nos levasse a pensar sobre os escravos negros nos tempos em que a escravidão era tolerada no Brasil; na verdade, segundo Cascudo, a palavra original era Négo; sim do verbo “negar”, no presente do indicativo da 1ª pessoa do singular. A palavra Négo representava a posição do político João Pessoa, o qual não aceitava o sucessor do governo paraibano, indicado pelo presidente Washington Luis. João Pessoa sentia-se resguardado politicamente, por fazer parte da chapa de Getúlio Vargas (candidato a vice-presidente), contra a chapa liderada por Júlio Prestes, de São Paulo. A bandeira rubro-negra tem seus significados que faziam sentido na ocasião e foi confeccionada (e pensada), sob a forte emoção que abalou o povo paraibano. A cor vermelha da bandeira corresponde à cor utilizada para o partido político do qual João Pessoa pertencia, a “Aliança Liberal”. O preto ostenta o luto do estado devido à morte (assassinato) de João Pessoa. A bandeira atual da Paraíba, criada após a morte de João Pessoa em 1930, procede à que vigorou entre 1907 até 1922, e foi oficializada em 1965 pelo governador Dinarte Mariz. Lembro que Getúlio Vargas não aceitava a ideia de cada estado ter sua bandeira. O assassino de João Pessoa foi João Duarte Dantas, que tinha sofrido uma invasão em seu escritório a mando de João Pessoa, que encontrou cartas íntimas que João Dantas escrevia à sua possível amante, a professora Anaíde Beiriz, tornando público o caso, introduzindo o primeiro caso de “buylling” que se tem notícia na política brasileira. Louco de dor, vergonha e paixão, João Dantas planejou a sua vingança, e a cumpriu, matando o político João Pessoa em Plena Recife. João Dantas foi assassinado dentro da penitenciária do Recife; a professora Anaíde suicidou-se com uma dose de veneno. À época, assassinaram também, na prisão, o paraibano e deputado federal João Suassuna, pai do grande escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, que também não nutria amores por João Pessoa. Devido ao assassinato de João Suassuna, sua família mudou-se definitivamente para Recife, onde residem até os tempos atuais. Ainda que muitos intelectuais afirmem ser imperativo que retiremos a frase positivista “Ordem e Progresso” da bandeira nacional, creio que a bandeira da Paraíba tem muito mais razões para ser mudada mais rapidamente. Fiquei sabendo que coexistem dois movimentos paraibanos quanto à bandeira de seu estado; um deles tenta mudar a bandeira, assim como o nome da capital do estado. Com o passar dos anos, a figura de João pessoa não causa mais comoção; muitos só muito depois ficaram sabendo das artimanhas do tal político e fazer com que seu luto e as cores de seu partido fizessem parte da bandeira paraibana é uma homenagem da qual ele não seria merecedor. O outro movimento tenta recuperar a nomenclatura da capital e a bandeira original vigente à época do assassinato de João Pessoa. A meu juízo, João Pessoa não era nenhum santo; manter uma frase sua corroboradas pela cor do seu luto e do logotipo de seu partido é demais; ainda deram o nome dele à capital paraibana.
Criado em 30-09-2016