Goodbye lovers & friends – Parte 2
- Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida.
Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá;
e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente.
(João 11:25-26)
Após as palavras do padre a primeira a se aproximar do caixão de Tainara, foi sua mãe. Ela chorava muito, mas em silêncio. Haviam poucas pessoas no velório. Os únicos amigos presentes éramos eu, Bernard e Michel. A maioria ainda eram os parentes, que não conseguiam acreditar que alguém tão jovem se fora. Eu olhei para o caixão onde Tainara repousava em paz, e vi a serenidade em seu semblante. A morte nunca a assustou. Mas ainda era estranho saber que até uns dias atrás nós riamos juntas lembrando do tempo da escola.
Michel e Bernard estavam ao meu lado, ambos presos aos seus próprios pensamentos.
O padre então continuou falando por um longo tempo. Falava sobre a aceitação da morte, dizendo que todos nós aqui éramos apenas uma passagem. Logo lembrei da minha mãe, depois de minha tia. Todas as perdas que tive e que ainda terei. Olhei para Michel ao meu lado. Ele retribuiu o olhar. Não sabia se ele pensava o mesmo que eu, mas não queria que deixasse de me olhar. Era reconfortante o seu olhar.
Fomos surpreendidos por Bernard, que baixou a cabeça por algum tempo e quando a ergueu novamente, vimos que chorava.
Eu o abracei de lado, e Michel colocou as mãos em suas costas. E assim, num abraço em trio, vimos o caixão de Tainara ser fechado. Bernard foi o primeiro a colocar a rosa branca, depois eu e Michel.
- Ela fará falta. – Falei, para os outros dois, que concordaram com a cabeça. – Muita falta.
Entrelacei meus dedos com os de Michel, e então, nós três seguimos em direção a mãe de Tainara.
- Obrigada por terem vindo. – Ela disse, segurando a minha mão, e olhando para cada de um de nós. – Vocês fizeram a minha menina muito, muito feliz.
- Gostaríamos de ter feito mais. – Murmurei, com um meio sorriso. – Precisando de qualquer coisa, ligue para um de nós, tudo bem?
- Muito obrigada, Malu.
- Imagina!
Michel e Bernard cumprimentaram a mãe de nossa velha amiga, e depois seguimos para a entrada do cemitério, onde deixamos o carro de Bernard estacionado.
No caminho para a casa de Michel, relembramos os momentos juntos com Tainara, o que amenizou um pouco a dor da perda.
E já no apartamento, encontramos Samanta sentada com Miguel no sofá.
- Oi... – Ela nos cumprimentou, a expressão triste por já saber do falecimento de Tainara. Seus olhos fixaram em Bernard. E era muito evidente o quanto os dois se gostavam. – Miguel acordou faz uns 20 minutos, não quis comer. – Avisou, dando um beijo na cabeça do pequeno. Me sentei ao lado dela e o peguei no colo.
Bernard foi para a cozinha, certamente atrás de algo para beber.
- Oi, meu amor... – Segurei os dedinhos de Miguel, que me olhava com um meio sorriso. – Que saudades...
O pai dele sentou-se ao meu lado, e olhou totalmente apaixonado para o filho. Sua cópia.
- Ele está cada dia maior. – Comentei, mimando o bebê.
- Sim, já, já ele me aparece com uma namorada na porta de casa.
- Se for que nem o pai...
Michel revirou os olhos, mas sorriu. Um silêncio estabeleceu na sala da casa dele, que logo foi quebrado pela discussão de Bernard e Samanta. Era uma calorosa discussão baixa.
“- Você não precisava vir atrás de mim, Samanta.”
Eu olhei para Michel, que franziu o cenho e continuamos atentos a conversa.
“- Eu sei... Mas vi que você não está bem.”
“- É.”
“- Bernard...”
“- Eu vou embora, ok?”
Um barulho de copo sendo batido na mesa foi ouvido, e em seguida Bernard passou feito um furacão, soltando um rápido “tchau pra vocês.” Eu coloquei Miguel no sofá, ao lado de Michel e fui até Samanta. Ela estava de costas para mim.
- Sam?
- Oi, Dona Malu. – Ela respondeu, a voz totalmente embargada.
- Ei, Sam... – Eu fiquei ao seu lado. – Não fica magoada.
- Eu o odeio. Eu o odeio com todas as minhas forças. – Eu a abracei. – Não sei porque diabos eu fui me apaixonar justamente por ele.
- Eu sei que é difícil, Sam, mas releva. Hoje o dia foi complicado.
- É. – Ela limpou as lágrimas do rosto. – Sempre é complicado com ele. Eu não sei porque ainda insisto.
Eu tentei consola-la, mas não foi uma tarefa muito fácil. Samanta não conseguia ficar longe de Bernard. E ele tentava a todo custo afasta-la de sua vida, porém, ninguém entendia o porquê.
- Eu vou para casa, dona Malu.
- Eu também vou. Amanhã acordo cedo.
Seguimos para a sala. Michel continuava brincando com o filho, que ria gostosamente das palhaçadas do pai. Eu me sentei ao lado deles.
- Eu vou embora... – Michel fez uma carinha triste. – Amanhã preciso resolver um negócio com o pessoal do Planejamento.
- É, o Danilo me informou da reunião. – Danilo era o chefe do setor de Planejamento de campanhas. – Eu pego você em casa amanhã, tudo bem?
- Ok. – Ele colocou o dedo em meu queixo e me deu um selinho. – Até amanhã.
- Até. Tchau, Sam!
- Tchau, seu Michel! – Fomos em direção a porta. – Tchau gordinho, até amanhã. – Ela mandou um beijo para Miguel, que sorriu com graça para sua babá.
Voltamos para casa de ônibus, o que deu tempo de conversamos sobre Bernard. Sam, novamente aos prantos, contou sobre o dia seguinte de sua noite com ele.
- Eu acordei de manhã e a primeira coisa que fiz foi bater a mão na cama para ver se ele estava lá. Para ver se não foi um sonho meu.
- E aí? – Perguntei.
- Bernard estava fumando na janela do quarto. Olhando para o céu. Fui até ele e o abracei, mas, além me afastar, disse que era para eu guardar bem aquilo tudo porque não teria uma nova oportunidade. – Ela respirou, puxando fôlego para continuar contando, em meio a muitas lágrimas. – Achei que era só uma provocação dele, mas assim que olhei em seu rosto... Ah, dona Malu.
- Eu queria tanto poder te ajudar, Sam.
- Não há o que fazer, infelizmente. Eu desisti.
- Sam...
- Estou completamente apaixonada por ele. Eu nunca senti algo assim antes.
- Eu entendo, Sam.
- Como você fez para esquecer o Michel?
Era uma pergunta que eu nunca tinha parado para responder, porque afinal, nunca o esqueci. Olhei para o rosto da garota, tinha uma expectativa pela resposta.
- Eu fui vivendo um dia de cada vez. Fingindo que ele não existia. Até que teve um determinado tempo que pensar nele não me afetava mais.
Em suma, não era uma total mentira. Por um tempo não pensar em Michel me fez viver com Thomas, e depois me envolver com Immanuel. Exausta, Samanta deitou a cabeça no meu ombro e entrou num silêncio arrasador.
No final daquela noite, quando passei por seu quarto, uma conversa em tom baixo me fez parar para ouvir.
“Estou apaixonada por você, mas não quero mais estar perto de você. E isso é a pior coisa que eu já senti.”
Era uma Samanta que falava, mas facilmente poderia ser uma Maria Luíza aos 17 anos, completamente apaixonada e fugindo de sentir qualquer coisa por um Michel Taino.
Passam-se os anos, mudam-se os personagens, mas histórias de amor se repetem.