O FRANCESINHO

Tudo começou numa estação de trem, eu avistei aquele moço bonito, de cachecol e lábios cor de cereja, nunca havia visto coisa tão bonita! E eu, menina que mal sabe de amor, planejei chegar perto do moço, ele parecia confuso e segurava um papel. Deduzi que não era da cidade e me disponibilizei a ajudá-lo, seria a primeira vez que eu chegaria tão perto de um moço tão lindo. E quando o cumprimentei e perguntei se podia ajudá-lo, mordi os lábios e franzi o cenho, porque ele falava francês e de doze palavras que disse não entendi nem as que não disse! Meu Deus, um francês? Um desses moços românticos!? Ainda que eu não o entendesse, era o namorado dos meus sonhos. Então pedi com educação para ver o papel que ele segurava. Estava escrito um endereço que eu muito menos sabia onde ficava, no que olhei desfalecida para o francês e sacudi os ombros. Ele disse algo que não sei como se escreve, mas que deve ter sido "obrigado", mas eu não queria deixá-lo ir, onde encontraria outro desse? Então segurei seu braço e fiz como se recordasse de algo, apontei para o endereço no papel, estalei os dedos e falei:

- Sim, sim...

Ele sorriu e me seguiu até o sobrado onde eu morava com meus pais e meu irmão mais novo que eu. Ao ver o sobrado, o belo francês franziu a testa e eu o conduzi para dentro. Meu pai estava vendo TV, quando o francês pôs a mão na boca e com uma expressão de muita surpresa, foi abraçar papai e disse algo, eu não sei o que foi, tampouco meu pai entendia porque foi abraçado, só entendi quando o francesinho disse "Michel". E apareceu mamãe com meu irmão e o francês abriu um grande sorriso para ela e também foi abraçá-la e chamou-a de Sara. Mas olhando para meu irmão ele esfregou o queixo e coçou a nuca, perguntando alguma coisa para ele, no entanto, meu irmão nada entendeu, mesmo assim ganhou um abraço. Veio-me o francês e apertou minha mão, para me agradecer... Acho que ele esperava que eu fosse embora, mas eu fiz que não e tentei explicar que morava ali, no que ele riu alto e apontou para mim; disse um nome... "Catarina?" ele perguntou, e me abraçou com estima. Naquele momento, todos estavam confusos, só não tanto eu, pois sabia que havia enganado o pobrezinho, aquele não era o endereço que estava escrito no papel e aqueles não eram nossos nomes, mas deixei que o francesinho pensasse isso e tentei convencer meus pais de que era um amigo virtual que veio me visitar. Entretanto, notando ele que todo mundo o fitava com estranheza, ele falou alguma coisa apontando para si mesmo, como quem se apresentava e disse entre muito "Henri", então entendemos que se chamava Henri, o francês se chamava Henri.

Minha mãe organizou um quarto para Henri, imaginávamos que ele fosse passar algum tempo ali, mas era difícil compreender o francês, em razão disso que só imaginávamos. E ele nos perguntava fazendo gestos algo do tipo "francês? Vocês falam francês?" e a gente dizia que não, então ele dobrava as sobrancelhas e dizia algo mais, com as mãos fazia como: "nem um pouco?" e dizíamos novamente: não. Era deveras complicado nos entendermos, mas isso não me incomodava nenhum pouco! Ele era lindo e diferente dos outros! E comecei a gostar dele, sem nem saber o que dizia e do que ria... Às vezes eu tentava demonstrar isso, fosse com gestos ou rabiscos no papel ou nos espelhos, contudo Henri sempre sorria e ignorava. E num certo dia, estava ele na varanda e cheguei no lado dele com um papel onde escrevi meu sentimento por ele em francês, com a ajuda de um tradutor. E quando Henri leu, olhou para mim com aflição e nesse momento eu tentei beijá-lo, mas ele recuou e fazia que não com a mão e com a cabeça, dizia coisa como "no, não..." e eu me afastava.

E depois de muito insistir para eu e Henri ficarmos juntos e ele deixar bem claro que não queria nada comigo, resolvi contar toda a verdade a ele! Escrevi em francês num novo papel que havia o enganado e pedi para ele ler... No final da leitura, o francês me fitou com repulsa e meneou a cabeça em negação. Mas me dispús a ajudá-lo a chegar até aquele endereço, então ele fez as malas e saímos pela cidade. Até que o endereço nos levou a uma mansão e lá moravam seu Michel, a sra. Sara e Catarina.

Foi só depois que eu recebi uma carta em português de Henri me falando daquelas pessoas. E dizia na carta:

"Eu soube que tinha parentes desconhecidos aí, e fui à procura deles. Michel é meu tio, Sara minha tia e Catarina é minha prima. Ah, e eles não tem outro filho! E quem me ajudou a escrever essa carta foi o tradutor."

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 29/06/2016
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