Insegurança, de CALLIGARIS (2000)

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O adolescente se olha no espelho e se acha diferente. Constata facilmente que perdeu aquela graça infantil que, em nossa cultura, parece garantir o amor incondicional dos adultos, sua proteção e solicitude imediatas. Essa segurança perdida deveria ser compensada por novo olhar dos mesmos adultos,

que reconhecesse a imagem púbere como sendo a figura de outro adulto, seu par iminente. Ora, esse

olhar falha: o adolescente perde (ou, para crescer, renuncia) a segurança do amor que era garantido à criança, sem ganhar em troca outra forma de reconhecimento que lhe pareceria, nessa altura, devido.

Ao contrário, a maturação, que para ele é evidente, invasiva e destrutiva do que fazia sua graça de criança, é recusada, suspensa, negada. Talvez haja maturação, lhe dizem, mas ainda não é maturidade.

Por consequência, ele não é mais nada, nem criança amada, nem adulto reconhecido.

O que vemos no espelho não é bem nossa imagem. É uma imagem que sempre deve muito ao olhar dos outros. Ou seja, me vejo bonito ou desejável se tenho razões para acreditar que os outros gostam de mim ou me desejam. Vejo, em suma, o que imagino que os outros vejam. Por isso o espelho é ao mesmo

tempo tão tentador e tão perigoso para os adolescentes: porque gostariam muito de descobrir o que os outros veem neles. Entre a criança que se foi e o adulto que ainda não chega, o espelho do adolescente é frequentemente vazio. Podemos entender então como essa época da vida possa ser campeã em fragilidade de autoestima, depressão e tentativas de suicídio.

Parado na frente do espelho, caçando as espinhas, medindo as novas formas de seu corpo, desejando e ojerizando seus novos pelos ou seios, o adolescente vive a falta do olhar apaixonado que ele merecia quando criança e a falta de palavras que o admitam como par da sociedade dos adultos. A insegurança se torna assim o traço próprio da adolescência.

Grande parte das dificuldades relacionais dos adolescentes, tanto com os adultos quanto com seus coetâneos, deriva dessa insegurança. Tanto uma timidez apagada quanto o estardalhaço maníaco manifestam as mesmas questões, constantemente à flor da pele, de quem se sente não mais adorado e ainda não reconhecido: será que sou amável, desejável, bonito, agradável, visível, invisível, oportuno, inadequado etc.?

CALLIGARIS, Contardo. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000. p. 24-25.

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Atitudes que os pais devem adotar

no tema das relações entre moças e rapazes adolescentes

É muito conveniente o relacionamento entre moças e rapazes ao longo da adolescência. As diversas fases que descrevemos cumprem uma função necessária no desenvolvimento da amizade e na preparação do futuro amor. Por isso, os pais devem evitar preconceitos e atitudes de defesa prévia que dificultem o relacionamento normal entre moças e rapazes adolescentes.

O relacionamento nos grupos mistos fomenta o desenvolvimento da virilidade e da feminilidade e ajuda a conhecer as pessoas do outro sexo. Rapazes e moças aprendem a conviver e adquirem qualidades complementares.

Tudo isto não significa que a missão dos pais se reduza a permitir, sem nenhuma orientação e controle, o relacionamento do seu filho ou da sua filha com adolescentes do outro sexo. Acabamos de ver os riscos que existem nesse tipo de convivência. Esses riscos exigem um trabalho preventivo por parte da família e uma orientação dos filhos em cada situação concreta.

O trabalho preventivo deve começar muitos anos antes da adolescência, por meio de uma educação sexual progressiva e correta no âmbito familiar. Esta tarefa corresponde aos pais, por serem colaboradores diretos de Deus na origem da vida e por serem os primeiros e principais educadores.

Os próprios filhos esperam que sejam eles quem lhes explique o mistério da vida. É extremamente necessário que os pais não cedam à moda atual que pretende eximi-los dessa responsabilidade com o pretexto de que não estão preparados. Nos casos – poucos – em que lhes possa faltar essa preparação, a atitude sensata e útil consiste em que os seus colaboradores (professores e tutores) os ajudem a adquiri-la, não que pretendam substituí-los.

Uma educação sexual correta não deve limitar-se a informar. É cada vez mais frequente que se ministre às crianças e adolescentes uma informação excessiva para a capacidade de compreensão de cada

idade, e que por outro lado falte completamente o enfoque educativo. É preciso situar o biológico no contexto do amor espiritual, como algo que está a serviço da plenitude da pessoa e por isso faz parte dos planos de Deus. E ao mesmo tempo é preciso fortalecer o autodomínio, o respeito pelas pessoas do outro sexo e as virtudes do pudor e da castidade.

A educação sexual é apenas um dos aspectos da educação para o amor. Os filhos aceitam-na e entendem-na melhor quando se vive na família um clima de amor, em que o amor generoso e sacrificado dos esposos é um ponto de referência chave. Se ao longo da infância os filhos receberem essa ajuda para descobrirem a função do sexo dentro da realidade global da pessoa, o risco de padecerem de curiosidades doentias e de sentimentos de culpa injustificados quando chegar a puberdade será muito menor.

Língua Portuguesa – 8a - série/9o ano – Volume 1

A educação progressiva da vontade, por meio da aquisição de todas as virtudes e especialmente, no nosso caso, das do pudor e da pureza, será um ponto de apoio muito importante para evitar as manifestações prematuras da sexualidade durante a adolescência.

Durante a etapa do “amor platônico”, normalmente não surgem problemas nas relações menina-menino. Os pais, no entanto, deverão estar atentos à sua evolução, já que nunca se podem descartar dois possíveis riscos: o prolongamento dessa etapa e a sedução.

Quando o amor idealizado se prolonga para além da adolescência, transforma-se numa realidade anômala. É um problema que aparece com mais frequência entre as meninas, uma vez que nelas a imaginação tem um papel mais importante do que nos rapazes: Muitas delas constroem um amante imaginário, um amante-ídolo, um amante-pretexto, com o qual se alienam numa “mitomania” amorosa que as

impede de tomar conhecimento e estabelecer o contacto concreto com os rapazes. Nestes casos, é urgente facilitar um relacionamento com os rapazes, para que não acabem por fugir à realidade do amor.

Há também o risco de que o adulto que é objeto da admiração romântica interprete mal essa atitude ou se aproveite dela. Neste caso, estamos diante do sério problema da sedução de uma menor.

Na etapa das turmas mistas, existe o risco de que a amizade grupal se transforme em amizade íntima,

flerte ou namoro prematuro, como vimos. Nesta fase, deve-se propor aos filhos que continuem a sair em

turma com os seus amigos e amigas. Não devem ignorar que a amizade íntima com uma pessoa do outro

sexo é, na maioria dos casos, uma “passarela” que conduz ao amor, para o qual não estão preparados.

Se, apesar dos conselhos paternos, algum filho se vincula a uma pessoa do outro sexo, é preciso evitar, na minha opinião, a proibição taxativa de que saiam juntos. A experiência diz que, quando se dramatiza ou se proíbe este tipo de relação, a atração entre os dois adolescentes cresce como um incêndio

avivado pelo vento. Pelo contrário, quando não há oposição frontal, o flerte ou o namoro prematuros

costumam desaparecer em pouco tempo, como uma fogueira que se apaga por si.

O problema mais difícil surge, como é evidente, quando essa relação prematura permanece apesar da prudência dos pais. Penso que nestes casos a única coisa que se pode fazer é rezar pelo filho, falar

amigavelmente com ele e agir por vias indiretas, como a mudança de colégio. Mas se não houver amizade verdadeira entre os pais e os filhos, os conselhos e advertências serão inúteis e até contraproducentes.

CASTILLO, Gerardo. Amizade e amor entre adolescentes. In: . Educar para a amizade. São Paulo: Quadrante, 1999. p. 200-204.

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Enviado por J B Pereira em 22/05/2016
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