Por que não eu?
Como eu queria encontrar uma carta de amor. Queria chegar em casa, sentar no sofá e ler aquela novela de romance. Me colocar no lugar da mocinha apaixonada e me perguntar "por que não eu?". Eu poderia encontrar o tal príncipe encantado aqui perto, na esquina. Descer a escada e me sentir tomada num longo abraço desesperado. Não foi isso o que me aconteceu, mas "por que não eu?". Eu não queria te conhecer na "telinha", num cubinho de amor tão passageiro, muito pelo contrário, queria uma cena, meio de filme, olhar nos olhos e ouvir tudo o que te sufoca, tudo o que te faz pensar em mim. Queria chegar pela tarde, me jogar na cama e viver aquela paixão de criança, passando horas e estações, vendo meus amores sendo trocados, meus temas de textos sendo renomeados, mas a verdade é que, eu sonhei e acordei me perguntando "por que não eu?". Por que não foi ali em frente ao teatro, você me entregando panfleto e jogando conversa a fora? Você precisava de outras pessoas, eu sei, mas eu te devolveria um papel anotado com meu número. Vão se passar outono e mais outono e você me ligará, perguntando "como foi o teatro naquele dia?" e eu direi que não foi. A carta seria mais realista, ao meu alcance, mas, por que não eu? Eu estaria disposta a entrar nessa armadilha de romance e sair ferida, estaria pronta a me entregar por quem diz me amar, mas enquanto nada disso me acontece, serei uma simples leitora, me encaixando nos papéis que não foram feitos pra mim e enquanto saio a procura de livros e filmes, olhando aonde fica o meu lugar, vou me perguntando, "por que não eu?".