Sombras de Salem

Prologo.

Meus pés eram velozes, tão rápidos que nem mesmo eu conseguia entender de onde nascia aquela energia que pul-sava por toda minha perna. Mas tudo em que eu pensava naquele momento era em correr, o mais veloz que conseguisse, para o mais longe que meu corpo pudesse ir.

A dor aguda dos galhos quebradiços perfurando as solas dos meus pés, era quase extinta pelas pancadas céleres do meu coração desesperado contra o tórax.

Buscando alcançar a luz do sol aparentemente longínqua, hora ou outra, meus olhos se voltavam para trás, dando mais vida ao meu pânico em ver aquele mar de sombras banhando tudo em seu caminho. Uma onda de nuvens negras dominava o céu límpido, o que era o mais perfeito azul se convertia naquela neve obscuramente celeste. As arvores vigorosas que eram banhadas pela escuridão secavam repentinamente, suas folhas frondosas perdiam a vida em segundos, e tudo se tornava lentamente numa floresta seca e falecida.

A neblina densa era como nuvens terrestres, que viam tão rápido quanto minhas pernas cansadas se moviam. Ainda conseguia ver a luz dourada do sol, e tentava alcança-la a todo custo. Sob ela eu estaria segura. Não era como se uma simples sensação me dissesse isso. Eu sabia! Mas quanto mais rápida eu era, mais distante ela parecia ficar.

As risadas altas e macabras em minha volta ecoavam dentro da minha cabeça, torturando-me por prazer.

Seria um homem? Ou uma mulher? Eram ambos!

Debochadas e maldosas gargalhavam felizes com meu desespero. Vultos pareciam me acompanhar, mais velozes que qualquer outra coisa que eu já tinha visto.

Você não tem para onde ir pequena Valentin!

Uma mulher disse, mas continuei correndo, ignorando aquela voz que me causava calafrios.

Tropecei em algo imerso sob as folhagens secas, provavelmente algum pedaço de tronco. E nessa hora, as sombras me alcançaram. O sol havia sido extinto, restava apenas nuvens carregadas sobre tudo que meus olhos podiam alcançar. A neblina já estava em torno de mim quando olhei ao meu redor, as risadas pareciam estar em todos os lugares, quando repentinamente sessaram.

Não havia som algum além dos batimentos do meu coração e minha respiração ofegante. Como se surgisse do nada, um sarcófago estava diante de mim, tão majestosamente encanecido. Eu sentia uma aura negra emanar dali. Algo obscuro e feroz estava em seu interior, o ar engrossava ao meu re-dor, ficava cada vez mais difícil respirar com o pavor dominando cada célula do meu corpo.

Sua parte frontal despencou, caindo em minha frente. A pequena lufada de vento veio junto a uma onda de vibrações gélidas, e as risadas de antes se tornaram gritos horrorizados.

Minha boca semiaberta tremia tentado expulsar o grito preso em minha garganta, mas era tão inútil quanto tentar mover minhas pernas. O interior do sepulcro era negro, na-da podia ser visto, até que então alguma coisa saiu, tão veloz quanto um flash, mesmo assim ainda pude ver o tecido azul do vestido desgastado e longas madeixas amadeiradas e opacas. O vulto veio feroz em minha direção, e somente agora um rugido escapou entre meus lábios, ecoando desesperadamente pela floresta seca antes que tudo se tornasse escuridão...

Esse era um pesadelo que me atormentada diariamente durante minha puberdade, nunca o dividi com ninguém, nem mesmo com Natasha. Poderia ser apenas um resultado dos livros de terror para adolescentes que lia nas horas vagas.

Na época não faziam sentido algum para mim... até agora!

Capitulo 1: Mudanças.

Nostalgia. Era exatamente isso que afligia o instável coração de Victoria, enquanto ela se distraia organizando suas últimas roupas. O espaçoso quarto não lhe dava mais a alegria de antes, o prazer e aconchego da privacidade mais que fundamental na vida de uma garota de dezessete anos, agora, na hora de dizer adeus, parecia algo do passado do qual tivera de abrir mão contra sua vontade.

Vick apanhou a última blusa sobre a cama, guardando-a no interior da mala Lilás, selando-a com o zíper. A luta interior contra a tristeza era presente e difícil, mas não a deixava florescer, afinal não gostaria que seus pais iniciassem um longo discurso sobre mudanças serem boas. Porem seu olhar cabisbaixo não a deixava esconder duma forma convincente. Ela parou para observar mais uma vez o cômodo onde havia dormido desde seus seis anos: sua cama arrumada, seu guarda-roupas logo atrás de si refletia sua imagem em um espelho aderente nas portas. Enquanto observava tudo, uma pequena brisa entrou, fazendo a leve cortina vermelha balançar, a dança do tecido atraiu sua atenção e imediatamente ela foi até a janela.

Pessoas passavam pela rua, algumas a pé, outras de bicicleta e até mesmo com seus veículos modernos. – ou as grandes latas de poluição, como Vick gostava de chamar.

Enquanto sentia o sol morno tocar sua pele morena, escutando os sons naturais daquela típica cidade do interior de Atlanta, outro sopro entrou no cômodo, foi inevitável segurar o suspiro relaxado com aquela sensação. Querendo evitar ficar presa numa infindável despedida, fechou as janelas, e ao tranca-las, ouviu claramente uma voz feminina convocando-a para o andar inferior.

– Vick, venha até aqui, quero que me acompanhe em uma coisa.

– Estou indo mamãe. – Ela apanhou sua mala, e finalmente saiu do cômodo deixando a porta aberta, marchou pelo corredor indo até a longa escada de madeira. Ao chegar no fim dos degraus, a adolescente de casaco vinho lançou seus olhos âmbar para todos os lados.

– Estou na cozinha! – Largando sua mala ao pé da escada, ela seguiu até cozinha onde avistou a dona da voz de costas para si.

– O que está fazendo? – Perguntou, parando na entrada do cômodo.

– Preparando um chá. – Virou-se antes de responder, logo depois seguiu até a mesa central. Despejou o chá que estava no interior do recipiente em suas mãos dentro das duas xicaras de porcelana sobre a mesa, logo depois sentou-se em uma das cadeiras. – Me acompanhe. – Sorrindo, a garota se aproximou com calma, acomodou-se na cadeira posicionada em frente a sua mulata, que utilizava um lindo vestido sem alças, longo e amarelo.

– Pôr que isso agora, pensei que estávamos com pressa?!

– O que tem de mais nisso? – Rebateu, e antes que prosseguisse, deu um breve gole no seu chá e logo voltou a falar. – Só queria aproveitar até o último minuto nesse lugar com você, afinal, foram onze anos bem vividos aqui. – Os curtos cachos criavam uma moldura perfeita entorno daquele rosto pequenino.

– Tem razão, também vou sentir saudades. Mas como o papai disse, poderemos voltar, não é?! – Os olhos claros sob a franja escura imploravam por uma resposta positiva.

– Claro, sempre que possível! – Ao ouvir aquilo, a garota não pôde evitar que um encantador sorriso se formasse em seus lábios carnudos. Antes de experimentar o chá, a jovem soprou levemente o líquido.

– Hum. Camomila, meu predileto.

– E você acha que eu não iria saber seu gosto? – As duas sorriram com o comentário sem graça.

A adolescente interrompeu o dueto de sorrisos ao avistar um fino colar ornamentando o pescoço de sua mãe, na ponta da correntinha prateada havia um pingente, o qual formava um símbolo que ela nunca tinha visto em outro lugar, – uma cruz de lados inteiramente iguais, repleta de símbolos cravados no círculo que a abraçava. – a não ser em retratos familiares.

– Esse símbolo do pingente, nunca o vi em outro lugar a não ser nas fotos da nossa família. Tem algum significado? – Seu dedo se manteve apontado em direção ao objeto enquanto dizia tais palavras.

– Como foi com Daniel? – Sua mãe esquivou-se da pergunta, isso fez com que ela ficasse em absoluto silêncio durante alguns segundos, sem compreender a atitude.

– É, ah... foi tudo bem. – A resposta foi vaga, fazendo com que um clima estranho pairasse sobre o ambiente.

– Que bom. – Um sorriso quase despercebido formou-se no canto dos lábios de sua mãe. – Agora é hora de irmos.

– Vamos.

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Durante todo a viagem, Victoria manteve seus pensamentos distantes, imaginando como seria seu novo trabalho em uma clínica veterinária de uma antiga amiga de sua mãe, se teria alguma ONG de apoio ao meio ambiente onde iria morar dali em diante, na qual pudesse se dedicar ajudando animais e a natureza. Ou se até mesmo poderia continuar suas aulas de música pela web com o doce e maduro professor Phil. Mesmo tendo respostas positivas para todas essas questões, ela preferia focar sua mente nisso, ao invés de alimentar o drama interno da mudança repentina.

Com quase duas horas de viagem, finalmente elas chegaram ao seu destino. Antes que cruzassem de vez a entrada da cidade, uma enorme placa pôde ser avistada.

Sejam bem-vindos a Pérola de Salem.

Assim se chamava a cidade natal de Victoria Valentin. Pequena, com aproximadamente quarenta mil habitantes, localizada ao leste de Atlanta, em uma área praticamente isolada, onde poucos turistas iam. Até parecendo uma daquelas pacatas cidades, era bem agitada com suas diversas comemorações e festividades internas. Mesmo tendo nascido na-quele lugar, Vick não conseguia recordar-se de sua antiga vida ali, ainda que tivesse amigos e parentes presentes, mui-to tempo havia se passado, a sensação que invadia seu corpo era de estar prestes a conhecer pessoas que nunca vira antes, a ansiedade chegava a lhe dar uma certa inquietação e uma azia irritante.

Em dez minutos elas chegaram onde queriam.

Um pequeno jardim pôde ser visto ao longe, algumas flores delicadamente cultivadas lhe davam mais vida, a varanda era espaçosa. – O sobrado era tão delicado que chegava a lembrar aquelas casas de veraneio que Vick costumava ver em filmes de terror, para onde os adolescentes iam nas férias e acabavam sendo perseguidos por um assassino com uma sede insaciável por sangue, ou algo do tipo. – No andar superior, duas janelas grandes e abertas puderam ser nitidamente percebidas, as cortinas de tonalidades vivas e fortes se destacavam sobre as cores neutras da parte frontal do sobrado. Estacionando o carro vermelho logo atrás de outro que já se encontrava ali, Vick não esperou muito e saltou para fora do automóvel, assim que bateu a porta e sentiu o solo firme sob seus pés, um homem alto, de pele branca e grandes olhos escuros aproximou-se exclamando em alto e bom tom:

– Bem-vindas de volta a Pérola de Salem! – Sua voz era in-tensa e marcante, e no momento, aquele timbre grave era o melhor dos reconfortos entre tantas inseguranças e receios.

– Ouvir as palavras “de volta” me soa um tanto estranho. Parece ser a primeira vez que coloco os pés aqui! – Victoria comentou, envolvendo-se em um forte abraço com ele. Seu corpo delicado e magro parecia indefeso entre aqueles braços encorpados. – Oi pai.

– Tome querida. – Sua mãe chamou, atraindo seus olhos enquanto lhe entregava uma mochila grande e estufada, provavelmente abarrotada de roupas.

– Eu levo o restante das malas, vá ver como ficou seu quarto. É só subir as escadas e seguir pelo corredor! – Vick apenas consentiu com a cabeça enquanto apanhava a mochila.

A primeira coisa que viu ao chegar no andar superior, foi o largo e longo corredor, pelo qual viandou lentamente. Fotos antigas enfeitavam as paredes, pregando-lhe flashes de lembranças falhas em sua mente distraída, enquanto seus olhos bisbilhoteiros como de uma criança curiosa deslizavam entre as imagens. Dentre as fotografias havia um pequeno quadro, era o mesmo símbolo que sua mãe carregava em forma de pingente, pintado numa tela que era abraçada pela moldura prateada. Durante alguns segundos ela ficou ali, parada, admirando fixamente o desenho, e mesmo que ela não soubesse de onde, sabia que conhecia aquele símbolo, mas não conseguia buscar uma resposta para aquela sensação estranhamente nostálgica. Ela quase não notou uma brisa balançar alguns fios do seu cabelo longo e escuro como a noite. Querendo descobrir por onde a corrente de ar entrava, Vick se virou, e somente agora percebeu que estava em frente ao seu quarto.

Parada na porta, ela manteve-se imóvel, apenas observando a aparência do dormitório, as paredes pintadas de azul celeste e o teto tão negro quanto suas madeixas onduladas. Finalmente cruzou a entrada do cômodo, seus olhos atenciosos captavam os mínimos detalhes, o All-Star preto quase não produzia som ao ir contra o assoalho importado. Parando no centro do quarto, a primeira coisa para qual olhou de perto foi a enorme cama ao seu lado esquerdo, coberta por um lindo lençol rosado. Ao lado esquerdo, uma grande janela aberta, e era por ela que a brisa entrava, fazendo a leve cortina lilás dançar ao vento.

Vick jogou sua mochila sobre a cama de uma forma qual-quer, e foi até a entrada de ar, por onde viu sua mãe caminhando para a entrada da casa. Ao olhar para uma longa cômoda ao seu lado, viu ursinhos de pelúcia com diversas formas e cores, todos amontoados sobrepondo-se um ao outro. Sua mão moveu-se quase que por vontade própria, apanhando uma pequena coruja branca de olhos amarelos. Esta era a coisa que mais gostava quando criança, ao menos isso foi algo de que ela conseguiu se recordar.

– Gostou? – Uma voz grossa soou vindo da direção da porta, imediatamente a garota se virou e lá estava seu pai, parado, dando uma olhadinha no quarto que ele mesmo havia passado o dia inteiro aperfeiçoando. Em ambas as mãos segurava as malas de sua filha.

– Ficou ótimo. – Ele entrou no quarto, caminhando na direção da cama onde depositou as duas malas sobre o piso.

– Vejo que lembrou do Sr. Owl.

– Ao menos isso. – Victoria colocou a corujinha novamente em seu lugar.

– Espero que se readapte rápido.

– Vou tentar, eu prometo! – Por um momento, ela se manteve em silêncio, enquanto se aproximava dele forçando um sorriso mudo no canto dos seus lábios. – Aproposito, já separou sua roupa para o jantar?

– Na verdade não! Seu tio Josh me ligou, vou ter que fazer uma viajem a trabalho.

– Quanto tempo?

– Não se preocupe, volto a tempo do seu aniversário.

– Promete? – Aqueles olhos brilhavam como de uma criança manhosa, clamando por uma promessa firme e positiva.

– É claro! – Antes que se despedisse, ele lhe abraçou uma vez mais enquanto sussurrava. – Te amo.

– Também te amo.

– Agora... – Antes que continuasse a falar ele a soltou, apoiando as mãos nos ombros dela, recuou um pouco. – eu realmente tenho que ir. – Vick apenas sorriu, permanecendo imóvel enquanto via seu pai afastar-se até sumir pelo cor-redor, deixando apenas o som dos seus passos para trás.

Já com as malas desfeitas, Victoria relaxava em um longo banho. A noite chegou tão despercebida quanto seu silêncio, e logo, os visitantes também chegariam.

Sentada em frente ao espelho arredondado da penteadeira, maquiando-se pacientemente, o tom claro dos seus olhos se destacavam sob os cílios perfeitamente delineados, os cabe-los que antes mantinham sua forma ondulada, agora exibiam cachos exuberantes e sedosos. O vestido branco e decotado nas costas contornava sua silhueta delicada. Vick levou um pequeno susto quando seu celular vibrou sobre a madeira do móvel, mas antes que o apanhasse, apenas inclinou-se suavemente para o lado, e na tela havia a imagem de uma garota.

– Oi Natasha?! – Atendeu.

– E então, como foi? – A voz de sua amiga era aguda e amistosa.

– Você sabe que não gosto de mudanças. – Vick mostrou-se cabisbaixa ao responder, mas não querendo que sua melhor amiga tentasse consola-la, rapidamente mudou o assunto. – Enfim, eu tinha em mente que me ligaria durante a manhã.

– E ia, mas, pensei que você poderia estar com raiva de mim sabe, pela confusão com minha mãe!

– Sua mãe ter tido um caso com meu namorado não é sua culpa. – Mesmo não gostando do assunto, foi inevitável lembrar da horrível situação, e por um momento, a raiva e o remorso quase ganharam vida outra vez, mas ela foi forte o suficiente para abafa-los. – Não é certo culpar alguém por algo que outra pessoa fez, posso ser muitas coisas, menos injusta!

– Fico feliz que pense dessa forma.

– Mas então, – Fugiu do assunto imediatamente, almejando espantar aquela sensação de vez. – quando irá vir conhecer minha nova casa, ou antiga, ainda estou confusa quanto a isso?!

– Como irei entrar de férias daqui a duas semanas, pensei na possibilidade de passar o verão com vocês, se não for in-cômodo.

– Problema nenhum. – Victoria escutou ao longe a voz de sua mãe no andar inferior, aparentemente cumprimentando alguém. – Começaram a chegar, tenho que desligar, te ligo amanhã.

– O.K, mas não se esqueça de me dizer tudo depois!

– Pode deixar. Beijos.

Ela deu um rápido retoque em seu brilho labial rosado, e mesmo estando com aquele clássico e inconveniente friozinho na barriga, não pensou duas vezes, e num impulso de coragem saiu do quarto, dirigindo-se com passos tão leves pelo corredor que quase não produziu som ao marchar sobre a madeira com seus saltos Prada. Do topo da escadaria pôde avistar claramente sua mãe, usando um longo vestido violeta. Ela conversava com outra mulher, dona de cabelos loiros e escorridos que caiam sobre seus ombros. Enquanto Vick descia lentamente degrau por degrau, atraiu o olhar curioso da mulher, qual sorriu encantadoramente, fazendo com que sua mãe se virasse.

– Venha até aqui querida, quero que conheça uma pessoa. Essa é Alice Greene, uma antiga amiga. – Agora, sua filha já estava frente a frente com a visitante de trajes escuros e sociais. De perto, a loira parecia até mesmo uma daquelas modelos famosas da Vogue, lembrando uma boneca delicada em tamanho real.

– É um prazer revê-la. – Alice estendeu sua mão direita pa-ra cumprimentar Victoria, que correspondeu o gesto en-quanto formava um sorriso tímido. – Não se preocupe em não se lembrar de mim, afinal você foi embora muito nova, é perfeitamente condescendente!

– É um prazer também. – Ainda que a loira fosse dotada de uma beleza graciosa, o que realmente chamou sua atenção foi o pequeno pingente em seu pescoço, o símbolo era totalmente diferente do que Cris carregava. Mesmo com uma curiosidade crescente, oprimiu a pergunta que inchava em sua garganta.

Após os comprimentos formais, Vick, Cristine e Alice se acomodaram na da sala de estar.

Enquanto aguardavam pacientemente, as velhas amigas re-lembravam coisas do passado, de épocas tão antigas que Vick nem mesmo havia nascido, e não sabendo o que dizer em meio á conversa, ela manteve-se em silêncio, apenas escutava e sorria quando necessário.

A campainha ecoou seu som por toda a casa, sem demorar muito Cristine dirigiu-se até a entrada principal.

– Olá... – Ao ouvi-la soltar tais palavras, sua filha á viu inclinar-se suavemente a frente, como se beijasse alguém. – Onde estão mamãe e Clara?

– Ficaram em casa, mas logo chegarão! – A voz masculina e juvenil tinha um tom forte, mas claramente doce e educado.

– Entendo. Entrem pôr favor!

Vick estava curiosa em saber quem seriam as pessoas ao lado de fora, seu corpo se inclinou de forma suave quase que despercebidamente. Um garoto foi o primeiro a brotar em seu campo de visão, sua pele era branca e levemente rosada, os olhos apertados e amadeirados eram profundamente cativantes. Três garotas entraram logo depois, uma delas destacou-se com seu estilo provocante: seu vestido roxo era curto e decotado, contornando a silhueta das suas curvas delirantes, suas sedosas madeixas formavam longos e grossos cachos, tão vermelhos quanto uma suculenta maçã. A formosa garota caminhava como se desfilasse numa passa-rela, dominante e poderosa. Uma morena de cabelos volumosos e perfeitamente encaracolados andava ao lado da ruiva, quase que colada na mesma, a saia negra de calda combinava adequadamente com sua blusa leve e escura. Já a outra tinha um estilo muito mais simples e comportado, seus cabelos ondulados iam apenas até a altura dos seus ombros, emoldurando sua face angelical, a qual era enfeita-da por um óculos grande.

– Victoria, esses são David e Scarlet, seus primos. – Cristine se aproximou, pondo-se ao lado direito do garoto de jaque-ta, e apontou para a ruiva. – E essas são Felícia, e Sophia, fi-lha de Alice!

– É um prazer conhece-la. – Sophia foi a primeira em cumprimentar.

– Igualmente. – Davi exclamou, formando um sorriso leve-mente torto e charmoso.

– Obrigada. – Victoria respondeu educadamente.

– Bom, já que vocês estão aqui, porque não conversam enquanto eu e Alice preparamos a mesa?! – Cris sugeriu.

– É uma ótima ideia! – A loira concordou. – Se comportem.

Alice a seguiu até chegar a cozinha. O cômodo era grande, assim como a maioria dos móveis amadeirados, a mesa de jantar ocuparia até uma dúzia de pessoas perfeitamente. Cristine imediatamente começou a organizar os talheres e tudo que podia adiantar, enquanto sua amiga apenas ficou parada em sua frente, encarando-a fixamente.

– Quer perguntar algo? É melhor falar de uma vez do que ficar me fritando com este olhar!

– Percebi que sua filha não está usando o brasão Valentin... – As palavras soaram num tom áspero. – Preciso dizer mais alguma coisa?

– Ela não sabe de nada, ainda não está pronta!

– Não a culpo por isso. Para começar ela nem deveria ter saído da cidade.

– Eu só queria uma vida normal para ela. E, eu sei que ninguém das nossas famílias pode ter uma vida assim, mas... – A frase morreu, quando lágrimas estavam prestes a ganhar vida em seus olhos.

– Cristine, eu entendo, também não queria isso para Sophia, mas não é algo que podemos definir, e sim seguir. Não podemos quebrar o acordo dos seus antepassados! – Durante alguns minutos, o silêncio as cercou, e após um suspiro pro-fundo, Alice continuou. – Elizabeth estará de volta daqui a cinco meses, e ela não gostara em saber que especialmente Victoria não está pronta... – Antes mesmo que a senhorita Greene terminasse o que dizia, uma voz feminina interrompeu suas palavras.

– Pronta para que? – As duas mulheres voltaram seus olhos arregalados para a entrada do cômodo, e parada na porta, Victoria perguntou, e lá permaneceu aguardando uma resposta. Sem saberem o que dizer, as duas amigas trocaram olhares desconfiados, e cobrando uma resposta, ela franziu sua testa escondida sob a franja escura.

– Pronta para conhecer a cidade com Sophia. – Percebendo que sua amiga não sabia o que dizer, Alice respondeu, dando um curto e firme passo à frente.

– Por mim tudo bem. – Ainda desconfiada, a jovem fingiu acreditar, mas não escondeu sua feição incrédula. – Vim ver se tem algo para beber!

– Eu preparo um suco, pode esperar na sala. – A senhorita Greene respondeu novamente.

– Obrigada, então... – pouco a pouco a garota de branco recuava enquanto dizia. – irei voltar para a sala. – E logo se podia apenas ouvir o som de seus passos pelo pequeno corredor.

Aliviada, Alice olhou para sua amiga, a qual retribui o olhar enquanto ambas respiravam fundo com o susto.

Dominik Leffeu
Enviado por Dominik Leffeu em 18/02/2016
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