Sob Olhar das Erínias — Parte XIII
De baixo de muita chuva, trovoadas, e uma ventania fria que soprava em todas as direções, alcançaram uma lomba. Agora se encontravam mais próximos do que nunca do objetivo: ao final da descida, iniciava a subida do morro onde o galpão erguia-se, sinistro...
Abruptamente, Arthur parou e cravou os olhos num ponto qualquer a sua frente, abismado.
— O que houve? — interpelou a menina, intrigada, pois não via nada no local onde o outro, tão amedrontado, fitava. Nada além de escuridão e chuva.
— Espera! Não fala nada! — mandou o adolescente, nervoso, deixando a outra perplexa. Contudo, devido ao seu recente encontro com Asclépio, presumiu que ele estivesse enxergando outra divindade. Talvez uma que agora só ele fosse capaz ver...Por isso, obedientemente, não disse um pio. Ficou curiosa pra ver o que aconteceria agora.
Realmente, era outra deidade que Arthur via: uma belíssima mulher ruiva, tão encharcada quanto eles, trajado com um fino vestido negro que moldava encantadoramente seu bonito corpo, e exibia um decote provocante de seus seios volumosos e rijos. A atraente entidade portava uma pá de ouro, com a qual, enraivecida, escavava a terra.
— Quem é você?! Parece que a conheço... Mas não estou te reconhecendo... — quis saber o garoto, confirmando a Agnes que de fato havia alguém ali.
A mulher parou o que estava fazendo, apoiou-se em seu instrumento e, zangada, respondeu:
— Claro que me conhece! Porém apenas uma de minhas faces... Sou a Senhora do Amor, do Sexo e da Beleza, como vocês me chamam...
— Afrodite! — exclamou o adolescente, surpreso. Agnes não enxergava a Deusa, por isso não entendia o que acontecia, mas achou melhor não intrometer-se. Ela também já vira algo que mais ninguém via...Quando Roney e Lucas atacaram-na...A tal entidade salvou-a das mãos daqueles dois depravados.E a pouco deparou-se com o amável Asclépio,que também lhe fora de grande auxílio.Quem sabe agora não poderia ser outra ajuda inesperada?
Arthur continuou:
— Mas a Senhora está tão diferente...
Para responder às dúvidas dele, ela jogou a pá no chão, levantou as mãos pro alto e evocou um relâmpago. No momento do clarão, a deusa mostrou um aspecto cadavérico, horripilante, e sua pá transformou-se em uma foice vermelha.
O susto que Arthur tomou com isso foi tão grande, que chegou a tropeçar nos próprios pés, desequilibrando-se.
Depressa Agnes amparou-o, e, preocupada, indagou:
— Tudo bem?
Estupefato, ele não conseguiu responder. Sua atenção estava completamente voltada à criatura apavorante ante de si: um esqueleto vestindo trapos negros, imundos, cuja desgrenhada cabeleira ruiva alcançava o chão.
A Deusa baixou as mãos e, de volta com a beleza anterior, explicou:
— Aqui estou como Afrodite Tumborico, A Cavadora de Túmulos! Sou uma das Senhoras da Vingança! — apanhou a sua pá e recomeçou a cavar.
Séria, prosseguiu:
— Apenas estou preparando algumas covas... Agora me dê licença...
Lentamente Afrodite desapareceu. Arthur sacudiu a cabeça, confuso, daí sussurrou:
— Bem, o que tiver de ser, será...
— O que aconteceu, Arthur? — questionou outra, ainda mais perdida.
Sem olhar pra ela, o garoto respondeu:
— Não há tempos para explicações, Agnes. — tomou a mão dela e, junto dum "VAMOS!", saiu correndo.