ELE ME ODEIA - capítulo XXXVIII

Não consegui tirar nenhuma palavra da boca de tio Ricardo, no entanto, Paloma tratou de me contar tudo sobre o beijo, na empresa.

- Como isso aconteceu, Paloma?

- Ah, depois do que você me disse eu fui falar com seu tio e explicar a situação e, inesperadamente, ele começou a me falar coisas lindas. Disse que estava completamente apaixonado por mim e que estava detestando me ver com meu primo, um ciúme doentiu.

- E o que mais?

- Bom, eu fiquei pasma, achei que ele estava brincando, mas não estava. Daí, quando eu já havia emudecido e ele tudo já dito, se aproximou de mim e me beijou.

- Minha nossa... E o beijo foi bom?

- Muito. Estranho seria se não fosse.

- E depois do beijo?

- Depois do beijo, ele me pediu em namoro.

- Verdade? E você aceitou?

- Fiquei de dar a resposta hoje.

- E qual é sua resposta?

Perguntei com avidez, e Paloma fez o maior suspense, para por fim responder:

- Sim, sim, sim! Claro que sim! Com certeza sim! É isso que vou dizer a seu tio, mil vezes sim.

Quando Paloma se virou, foi surpreendida por tio Ricardo, que estava maravilhado ao ouvir aquilo.

- Ri-Ricardo, você estava aí?

- Foi isso mesmo que ouvi? Diga que foi, diga que não me enganei...

- Sim... Essa é minha resposta.

Tio Ricardo cantou vitória e segurou Paloma nos braços e a girou, enquanto os dois riam alegremente, e eu também, claro. Dante apareceu e vendo-nos felizes perguntou:

- Qual o motivo de tanta alegria?

- Paloma aceitou namorar comigo.

Disse tio Ricardo, deixando Dante em espanto, e este olhou para Paloma e disse:

- Parabéns pela péssima escolha, Paloma!

- Valeu, Dante, mas com certeza eu não fui tão louca quanto Iva que aceitou namorar você!

- Ha, ha, ha, muito engraçado.

Abracei todos, em muita euforia falei:

- Veja que legal, agora podemos ir os quatro ao cinema, num pequinique e tudo mais! Não é ótimo?

Repentinamente, o chefe entrou no meio, abraçando-nos também e sorrindo, e falou:

- Puxa, que emocionante... Dá até vontade de dizer... Voltem ao trabalho!!

Ordens são ordens, não devem ser desacatadas. Cada um foi para seu lugar e levou um tanto de alegria consigo. Naquele mesmo dia, recebi uma ligação de meu pai, dizia que estava vindo para passar suas férias com a gente, aí eu pulei de alegria, aproveitei para contar de meu namoro com Dante, antes que ele chegasse e fosse pego de surpresa e depois viesse em reclames, dizendo que de nada o avisei! Agora não faltava mais nada para o dia ficar perfeito! Quer dizer, faltava sim, eu estava devendo uma visita à vó Esmeralda, mas esperei meu pai chegar para que fóssemos todos juntos, vovó iria adorar revê-lo, quem sabe assim recuperasse a memória, ou relembrasse alguns momentos de seu passado.

Tivemos a fantástica ideia de decorar toda a casa e comprar presentes para receber papai, sem contar o enorme bolo que fiz com a ajuda de Paloma. A campainha tocou, era meu pai, eu sabia que era ele, podia reconhecer o bater na porta e o som de seus sapatos. Fui abrir e era mesmo ele, fui logo lhe dando um forte abraço e levando-o para dentro, ao passo que tio Ricardo ia arrastando as malas para o canto da sala. Observando a decoração, papai animou-se e perguntou:

- Isso tudo é para mim?

E eu respondi:

- Sim.

- Mas, nem é meu aniversário!

- E não é só isso...

O levei até a cozinha e ele viu o belíssimo bolo sobre a mesa, enquanto Paloma fazia um pequeno ajuste na cereja.

- Bolo! Huuumm... Eu amo bolo...

- Mas, antes de saborearmos esse delicioso lanchincho, quero que o senhor conheça nossos convidados de honra.

Falei, apresentando cada um.

- Este é Dante, meu namorado. Te falei, não foi?

- Sim, sim! Então é ele? Faça minha filha feliz, rapaz.

- E esta aqui é Paloma... Namorada de tio Ricardo.

- Ah, sim, claro, namorada do Ri... O quê?

Tio Ricardo tomou a vez e disse:

- Sim, minha namorada, mas depois eu te explico essa história. Vamos comer?

Nos sentamos todos na mesa e eu fui repartindo o bolo e servindo cada um, primeiramente meu pai e em sequência os outros. Durante aquele bate e rebate de conversas e depois de tio Ricardo explicar mais de três vezes seu namoro com Paloma, o assunto mudou quando papai perguntou-me:

- E sua avó como está?

- Bem... Mas não consegue se lembrar de mim, tampouco de tio Ricardo.

- Ah, mamãe, tudo aconteceu tão de repente... Ela parecia tão bem.

- Pensei em irmos visitá-la hoje mesmo, aproveitando que o senhor está aqui.

- Sim, vamos, quero muito saber como ela está.

Paloma pegou a espátula e foi partindo mais um pedaço de bolo e disse:

- Que ótimo! Mas, vamos acabar com esse bolo primeiro.

(risos).

Tio Ricardo, Paloma e Dante resolveram ficar assistindo o futebol, e eu fui com meu pai ver vovó Esmeralda. Assim que lá chegamos, a enfermeira que cuidava dos idosos nos levou até o jardim onde minha avó estava. Ao vê-la conversar com as margaridas, papai se emocionou e chamou-a:

- Mãe.

Ela olhou para trás e por alguns segundos ficou quieta, mas, seus olhinhos de repente se esticaram e um sorriso doce nasceu em seu rosto. Ela abriu os braços para papai e falou:

- Edgar, meu filho! Me dê um abraço...

Papai a abraçou e vi lágrimas jorrarem de seus olhos, porquanto estava demasiado emocionado.

- Continua sem saber indireitar a gola da camisa.

- Mãe, que saudade eu estava da senhora... Veja, esta aqui é...

- Minha neta Iva, eu já sei. Venha aqui, menina, dar um abraço na sua avó.

Eu ia enxugando as lágrimas de meus olhos e deleitando-me nos braços de vó Esmeralda, ela me reconheceu finalmente, e eu estava muito feliz. A enfermeira disse que a vovó havia se lembrado de muitas coisas naqueles dias, inclusive de meu avô Pablo, e que esquecera um pouco do tricó para praticar outros passatempos, como pintura, dominó e até culinária! Acho que papai chegou na hora mais certa, nada tinha sido tão mais felicitante que rever vovó tão bem como estava. Só que ela teria que permanecer ali, até porque não tinha mais vontade de sair dali, gostava das coisas que fazia e dos amigos que ganhou, ah, também do jardim, pois ela amava flores.

E assim a vida foi caminhando, vovó feliz na casa de ajuda psiquiátrica, papai passando as férias mais longas com a gente, Dante e eu vivendo momentos inesquecíveis e cada dia mais nos amando, tio Ricardo e Paloma hipnotizados na porta da empresa, Marcelo sobre a defesa de seu advogado... Esqueci de algo? Ah, sim, e vivemos felizes enquanto vivemos.

FIM

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 21/12/2015
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