ELE ME ODEIA - capítulo XXXV
O sol foi baixando e se escondendo por detrás das árvores, deixando rastros alaranjados reluzentes no horizonte. As águas iam ficando escuras e o rio que era claro e refrescante ia se tornando frio e misterioso e Dante e eu continuávamos na água e ele me beijava incessantemente, como se nunca saciasse seu desejo.
- Está escurecendo, Dante, é melhor irmos agora.
- Espera, daqui a pouco....
Apartei-me um pouco dele e este me lançou um olhar carente, insistindo em me beijar, mas eu negava e falei então:
- Tenho que chegar em casa antes de tio Ricardo.
- Você quis dizer "nós temos que chegar". Quero informá-lo o quanto antes de que estamos namorando. Como acha que ele vai reagir?
- Normalmente. Só vai quebrar um tijolo na sua cabeça e te fazer pedir pra sair, nada demais.
(risos).
- Agora vira de costas pra eu ir vestir minha saia.
- Meu amor, agora nós somos namorados e eu já posso ver suas belas pernas.
- Ah, tá.
- Não posso?
- ...
- Humm... Tá, tá, eu viro.
Dante virou de costas e eu saí da água, apanhei minha saia e Dante assobiou, no que virei depressa e vi que ele estava olhando, então me cobri imediatamente com a saia.
- Dante!
- Desculpa, é que eu tô sozinho aqui nesse rio escuro!
Assim que eu vesti a saia, Dante saiu da água e foi pegar sua roupa seca que levara para trocar atrás duma árvore de tronco bem largo, e eu gritei:
- Por favor, Dante, me trás a minha blusa que eu deixei aí!
- Dante não, Iva, é amor, amor!
Dante apanhou minha blusa e gritou:
- Pega!
Ele lançou a blusa, mas ela caiu dentro do rio e eu o olhei com reprovação, enquanto ele ria e dizia:
- Caramba, foi sem querer, Iva!
- Poxa, Dante!
- Foi sem querer! (riso).
Bati no peito dele, com brincadeira, e ele pegou a camisa seca que ia vestir e disse:
- Olha, veste essa aqui minha.
- Você não vai sentir frio?
- Se eu sentir você me aquece.
Vesti a camisa de Dante e expremi os cabelos, enquanto Dante trocava a calça molhada pela bermuda.
- Vamos?
Ele perguntou, e eu consenti. refizemos a trilha até onde estava o carro, sendo palco de teatro para os saguis.
- Ai, meu carro, seus filhos da mãe!
Dante espantou os macacos e abriu a porta do carro, entramos. Ele foi dando ré e eu ia me despedindo daquele lugar tão fantástico que me presenteou com um momento muito feliz junto a Dante. As estradas estavam quase desertas, uma vez ou outra cruzávamos com algum carro, mais longe, víamos as montanhas e os diversos pontinhos de luzes, num cercado uma coruja virava espantosamente sua cabeça e andorinhas cruzavam o finalzinho do céu.
- Vamos parar num posto mais à frente para abastecer o tanque do carro e aproveitamos e comemos alguma coisa.
Dante falou, e concordei. Paramos no posto e fizemos um lanche, isso às 18:20, e depois continuamos nosso trajeto para casa. Quando chegamos em minha casa, descemos do carro e eu logo disse:
- As luzes ainda estão apagadas, quer dizer que tio Ricardo ainda não chegou da empresa.
- Ótimo, assim eu pego ele de surpresa, hehe...
Peguei as chaves dentro de minha bolsa e abri a porta, convidando Dante a entrar.
- Quer beber alguma coisa, Dante?
- Hã? Acho que eu não ouvi direito...
- Amor.
- Agora sim... Quero um refresco, amor.
Peguei a jarra de suco na geladeira e servi a Dante num copo, ele bebeu um pouco e me chamou para o sofá, fomos. Aí Dante me encheu de beijos e mais beijos, porque ele sabia que eu amava seus lábios. Eu achava que tinha ouvido alguém chegar, mas estava tão intretida com os beijos molhados de Dante, que nada me importava mais. Até que senti seus lábios se apartarem dos meus e ele foi puxado por meu tio, que começou a enchê-lo de socos na barriga.
- Pára com isso, tio! Pára!
- Sai, Iva, eu vou acabar com esse safado!
- Dante e eu estamos namorando!
Nessa hora, tio Ricardo largou Dante no chão e, fitando-me com repulsa, perguntou:
- Como é?
Me coloquei de joelhos para ajudar Dante, à medida que ele se encolhia de dor.
- Dante, você está bem?
- Acho que ele quebrou uma costela minha...
- Não, Dante... Vem, eu te ajudo a levantar.
Ajudei-o a sentar no sofá, ao passo que meu tio me encarava assombrado e interrogou-me:
- Iva, o que você disse?
- O que o senhor ouviu, Dante e eu somos namorados agora.
- Na... Namo... Namora... Namorados?
Dante suportou a dor e respondeu por mim:
- Sim, e quer saber? Não importa quantos socos você me dê, mas eu não vou desistir de Iva.
Tio Ricardo parecia irritado e ao mesmo tempo descrente, no que virou-se para mim e disse:
- Você nunca me disse que havia algo entre você e esse... Iva, isso é alguma brincadeira?
- Não é nenhuma brincadeira, eu e Iva nos gostamos muito e, se no passado fui um cara ruim para com ela, eu acredito que... Que ela já me perdoou.
Dante falou. Tio Ricardo olhava com frieza para nós dois, eu cheguei a imaginar que ele tiraria a arma da cintura e acertaria a testa de Dante, mas não foi nada disso, tão somente olhou Dante no fundo dos olhos e deixou clara suas palavras:
- Iva é muito especial para todos nós que juntos a ela convivemos e a amamos, então a faça feliz, ame-a também e faça ela ter sempre a certeza de que fez a melhor escolha. Não a decepcione, não me decepcione.
Depois dessas ditas palavras, tio Ricardo deu de ombros e subiu a escada, sem mais nehum estrago, sem mais nenhum golpe e nem xingamentos! Depois da fantasia de Duende rabujento que Lucas usou no baile à fantasias do ano passado, essa foi a coisa mais estranha que eu vi.
- Acho que ele concordou. Mas, tão normalmente assim?
Falei, e Dante esfregou a barriga, dizendo:
- Não sei por que você acha que foi tão normalmente, se ele me encheu de socos.
- Ele não quebrou um tijolo na sua cabeça, pelo menos.
- Teria sido menos dolorido, ai...
Continua...