ELE ME ODEIA - capítulo XXXIV
Às três da tarde, fomos liberados do trabalho e eu aprontei-me para mentir para Dante e pôr o plano em ação.
- Então, Iva, vamos?
- Tá, Dante, só que antes eu preciso dar uma passadinha na farmácia...
- Tá, a gente passa lá...
- Não! Quer dizer... Por que você não me espera aqui enquanto eu vou?
- Iva, deixa de ser boba, com certeza vamos passar por alguma farmácia. Vamos.
Dante me puxou pelo braço, mas recuei.
- Você não entende, Dante...
- Tá, então me expiica.
- É que... Bom...
- Vem, vamos logo pro carro.
Paloma me viu saindo com Dante e fez sinal positivo com a mão, indo distrair tio Ricardo. Mas eu não deveria estar indo com Dante, eu precisava ver minha avó primeiro! No entanto, Dante me fez entrar no carro e saímos dali, sem que meu tio nos visse, em razão de que estava muito absorto com a presença de Paloma. Dentro do carro, eu apertava os lábios, agoniada, o que levou Dante a estranhar.
- Que foi, Iva?
- Nada.
- Tenho a impressão de que está preocupada com alguma coisa. Se é por causa de seu tio, fica tranquila, ele não nos viu sair.
- É.
Falei, embora minha preocupação estivesse na questão de que não ia ver minha avó Esmeralda, após toda uma semana. Eu sempre, ou quase sempre, a visitava nas quintas à tarde, só que desta vez eu não iria.
- Chegamos.
Disse Dante, parando o carro numa pequena área florestal, e descemos. Ficava do outro lado da cidade e tinha árvores gigantes e uma trilha que levava para o rio que mais à frente corria. O rio ficava mais abaixo, guardado pelas árvores que o rodeavam e suas águas eram um tanto claras e tinha muitas pedras.
- Você tem certeza que há uma caichoeira aqui?
Perguntei com graça, observando o ambiente. Dante franziu o cenho e disse:
- Fala sério, será que eu me enganei? Mas é esse mesmo o lugar e a cachoeira deveria estar ali.
- Ah, sim, claro... Devem ter tirado ela daí e pôsto em outro lugar.
Gozei e molhei a ponta do pé nas águas do rio, estava uma delícia para aquela tarde quente.
- Você trouxe a roupa de banho?
Dante me perguntou, e bati a mão na testa, dizendo:
- Esqueci.
Dante riu e desamarrou a gravata e foi desabotoando a camisa. Ai, meu coraçãozinho... Que deus grego, que perfeição... E quando retirou a camisa e seu peito estava nú, fiz de tudo para não me exaltar, disfarcei a emoção e até virei o rosto, para não acabar babando. Dante deu um mergulho na água e lançou a cabeça para cima, trazendo seus cabelos molhados, e perguntou para mim:
- Você não vem?
- Estou sem a roupa de banho.
Respondi, e Dante molhou mais uma vez o rosto e gritou:
- A água tá uma delícia, vem!
Fiz que não com a cabeça e Dante saiu da água, com a calça enxarcada, no que questionei:
- Você vai voltar assim para casa?
- Eu trouxe outra roupa.
- Humm...
- Tive uma ideia.
- Qual?
Ele apanhou a camisa que antes vestia e falou:
- Tira a saia e essa blusa e veste a minha camisa.
- O quê? Não...
- Que que tem?
- Não vou ficar só de camisa.
- Qual o problema? Só tá a gente aqui.
- Não, eu não vou tirar.
- Faz assim, então: eu viro de costas, enquanto você se troca e entra no rio, então nem vou ver nada.
- Humm... Promete que não vai olhar?
- Promeeeto.
Dante se virou eu rapidamente retirei a saia e a blusa e vesti a camisa dele, e este perguntava:
- Já?
- Espera...
Entrei na água e mergulhei minha cabeça para molhar os cabelos, então falei:
- Pronto.
Dante virou-se para mim e entrou na água, ficando bem à minha frente.
- Esse lugar é lindo, não é, Iva?
- É, e bem escondido também. Nesse rio tem cobra?
- Ah, deve ter uma ou duas...
- Sério?
- Fica calma, elas só aparecem mais à noite.
- É?
- Sei não, mas é bom ser otimista, haha...
De inesperado, Dante foi contudo para baixo da água, sem subir de volta, me levando ao desespero.
- Dante? Dante!?
Então ele reapareceu de supetão e começou a rir, no que ralhei, assustada:
- Não faz mais isso!
- Desculpa, hehe... Belas pernas.
- Dante!
Lancei água no rosto dele e ele também atiçou água no meu, mas ficou pasmo por um instante e, fitando-me com um olhar intrigante, disse:
- Agora é sério, senti algo passar por entre minhas pernas.
Sorri da cara dele e falei:
- Foi o meu pé.
- Ah, então é assim?
Dante partiu para cima de mim, ao passo que eu ria e tentava fugir, mas ele começou a mordeu meu pescoço e fomos ficando zen. Daí, Dante passou a beijar minha boca, era tão bom sentir sua pele molhada, ao som de pássaros e bichos do mato e das águas que banhavam as pedras e viajavam para não se sabe onde.
- Iva?
- O quê?
- Quero te pedir uma coisa.
Olhei para ele, ansiosa, e perguntei:
- O que quer me pedir?
- Primeiro, outro beijo...
Dante me roubou um beijo e eu saboreei o gosto de seus lábios ardentes, então, ele prosseguiu:
- Quero namorar com você.
Ao ouvir essas palavras, fiquei inerte, inconsciente, fui transportada para o mundo dos meus sonhos e mesmo assim não dormia, meus olhos estavam bem espertos e não era sonho, era real.
- Dante, você está falando sério?
- Bom, eu não gosto de palhaços, então... Procuro sempre falar sério.
- ...
- Então?
- Eu posso pensar?
- Pensar? bom, hããã... Pode.
- Hhmm... Pronto, já pensei... Eu quero.
Eu disse, tocando com os dedos o queixo de Dante e este sorriu para mim, brincando de entrelaçar seu nariz no meu, e falou:
- Então já posso te pegar no braço e te encher de beijos quando e onde eu quiser, inclusive na frente do seu tio?
- Bem, acho que sim.
- Ai, como o papai aqui é sortudo! Agora eu quero te beijar, vou te deixar sem fôlego.
Nos beijamos, mas agora como dois namorados. Minha nossa, demoraria muito para cair a ficha, acreditar que agora estávamos namorando! E nem me importava o que pensaria tio Ricardo, e nem o passado, e nem a culpa que eu tinha e a que Dante tinha, só me importava saber que deveras eu estava a viver aquilo e que um desejo meu se realizou.
Continua...