ELE ME ODEIA - capítulo XXXII
[IVA]:
Eu e Dante fomos empurrados para dentro do banheiro e Marcelo trancou a porta por dentro, mantendo a arma apontada para nós dois. Ele nos fez encostar na parede, um momento atemorizante, e Dante me falou:
- Fique atrás de mim, Iva.
Desse modo eu fiz e me protegi atrás do corpo de Dante, segurando seus ombros e cheia de temor. Marcelo segurava firme o revólver e ao mesmo tempo parecia demasiado nervoso, foi no quando Dante falou:
- Larga a droga dessa arma, Marcelo...
- Cala a boca!
Marcelo vociferou, apontando a arma para Dante e depois para mim. Concentrando-se em meu rosto, ele disse:
- Você pensou que era só me rejeitar e tudo ficaria bem, mas eu não vou deixar isso passar simplismente assim... Vocês vão me pagar, vou me vingar dos dois.
Imensamente estupefata, eu queria convencer Marcelo a não fazer nada, mas Dante me advertiu:
- Fica quieta, Iva, isso não adianta. Ele está totalmente desorientado, deve ter tomado alguma coisa, ou usado alguma droga.
Marcelo ameaçava puxar o gatilho sempre que dizíamos algo e decidi escutar Dante e me calar. Ao passo que Marcelo falava com ira, coisas sem lógicas e incompreensíveis, Dante pensava em algo... Quando percebeu que Marcelo estava distraído comigo, Dante se afastou um pouco de mim e passou a perna no calcanhar de Marcelo, fazendo-o cair e tentou tomar a arma de sua mão, gritando em seguida para mim:
- Vai, Iva!
Os dois rolaram no chão e eu abri a porta do banheiro, mas antes de sair para pedir ajuda, olhei mais uma vez para Dante e senti um aperto no coração, foi aí que ele gritou novamente para eu sair dali e obedeci. Corri para fora e fui chamar tio Ricardo, ele, quando me viu desesperada, perguntou:
- O que houve, Iva?
- Tio, rápido, Dante e Marcelo estão se batendo no banheiro!
- Ah, que se matem.
- E é o que vai acontecer! Porque Marcelo está armado e...
De repente, um disparo suou alto lá do banheiro e mais outro em sequência. Meu coração disparou e, com as mãos na boca e quase a chorar, falei:
- Oh, não! Meu Deus...
Tio Ricardo disparou até o banheiro e eu logo atrás dele, porém, com medo do que poderia ver. Entretanto, nem Marcelo nem Dante estavam feridos, os tiros haviam sido na parede e Dante estava ao pé da pia de mármore e Marcelo acabara de apanhar a arma e apontara-a para Dante, foi quando meu tio agarrou Marcelo por trás para arrancar-lhe a arma e gritou para Dante:
- Dante, saia de debaixo dos espelhos!
Dante passou para o outro lado e Marcelo atirou no espelho, estraçalhando-o em mil pedaços, no que tio Ricardo segurou suas mãos e conseguiu derrubar a arma.
- Dante, apanha!
Meu tio falou e Dante apanhou a arma e correu para perto da porta, onde eu estava, e perguntei-o:
- Você está bem?
- Estou. Você já chamou a polícia?
- Já.
Nesse momento, tio Ricardo conseguiu imobilizar Marcelo e minutos depois a polícia chegou na empresa e, estando Marcelo demasiadamente alterado, o policial o fez deitar de costas no chão, brutalmente, falando:
- Deita no chão! Vai! Coloca as mãos pra trás!
Assim fez Marcelo e foi algemado. Depois chegou Lucas e a mãe de Marcelo para vê-lo, esta última chorava muito, ao passo que Marcelo era levado para a viatura da polícia. Ela chorava no ombro de Lucas e dizia em lamúria:
- Ele nunca agiu assim, nunca bebeu, nem nada... Meu filho...
Em meio à tanto desalento e aversão, meu tio chegou até mim e envolveu seu braço em minha cintura, disse:
- Vamos para casa.
Consenti, mas olhei para ele duvidosamente e questionei:
- Acha que Marcelo vai ficar bem?
- Depende...
- Depende? Mas, do quê?
- Da gravidade do problema e da ajuda de alguém.
Ele abriu a porta do carro para mim, mas surgiu Dante para dizer-lhe:
- Obrigado por me livrar.
- Eu ia deixar ele te matar, mas você não merecia tanto. E não vá pensar que sempre que estiver sendo atacado eu vou correndo te socorrer.
- Eu sei. Também não pense que só porque me salvou passei a te amar.
- Hum.
- Mesmo assim, valeu.
- Mas isso não acaba por aqui. A polícia ainda vai descobrir o que levou Marcelo a agir assim. Vocês fazem alguma ideia?
Olhei para Dante e ele também me olhou e juntos respondemos:
- Não.
Tio Ricardo ia entrar no carro, mas Dante o interrompeu e falou:
- Na verdade, a culpa foi minha, acho que provoquei demais Marcelo.
Ouvindo essas palavras vindas de Dante, falei em dissensão:
- Não, Dante, a culpada fui eu, pois repudiei o pedido de namoro de Marcelo e isso o deixou furioso.
- Não, Iva, você não teve culpa, eu quem disse para ele que você era louca por mim e que ele era tão somente um inútil.
Diante daquele bate-bola, tio Ricardo estava confuso, no que interrompeu-nos para dizer:
- Espera, espera, espera... Pedido de namoro? Provocações? Ah, mas eu quero saber dessa história.
- Tchau, Dante!
Falei, sentando rapidamente no banco do carro e pretendendo desviar meu tio daquele assunto. Pela vigésima vez, tio Ricardo tentava dar partida, só que Dante estava na janela ao meu lado do carro e perguntava:
- Você vai ficar bem?
Era tão aprazente ouvi-lo perguntar aquilo, me fazia sentir que ele se preocupava comigo! E ficar fitando seus olhos bem de frente aos meus e sentindo o vento trazer seu suave perfume era um sonho do qual eu não queria jamais acordar.
- Sim, vou ficar bem, eu acho. Foi um momento apavorante.
- Sem dúvida. Mas, se caso sentir medo...
Dante olhou discretamente para tio Ricardo, que olhava pela janela o outro lado da rua e batia os dedos no volante, impaciente, e voltando o olhar para mim, concluiu:
- Então me liga.
Sorri em timidez para ele e este deu umas palmadas no carro e se afastou um pouco, dizendo:
- Podem ir. Tchau, Iva, e boa noite!
Por que ele não podia vir também? Eu estava tão insegura, tão desconsolada... Tê-lo ao meu lado seria bem melhor e eu não ficaria relembrando das coisas ruins que passamos naquele dia. Mas, meu querer não era poder e eu já estava em casa, sem Dante, quieta no sofá, com meu tio me enchendo de perguntas, "quando Marcelo te pediu em namoro?" "então você está apaixonada por Dante?" "onde está o meu queijo?" é, aquela noite só estava começando.
Continua...