Sob Olhar das Erínias — Parte IX

Quatro adolescentes carregados de mochilas pararam diante da casa de Arthur, e logo um deles começou a bater palmas. Vindo dos fundos da casa surgiu Arthur já cumprimentando todos:

- E aí, pessoal!Pensei que não vinham mais!

- Ah, que isso Arthur!Dissemos que às onze a gente ia tá chegando! - respondeu o garoto louro lá do portão.

- É, mas já é onze e seis Gabriel! - retrucou, enquanto abria o portão.

- Ah, tá! Você e sua rigidez com horários! Estamos na tolerância dos quinze minutos! - e deu um aperto de mão no amigo e alguns tapinhas nas costas. - E aí, guri! Fora brigando com o tempo, como você está?

- Bem, né! Voltei pro meu antigo colégio e estou tentando me readaptar! - e cumprimentou as garotas com abraços. - Há quanto tempo Diana! E você Lídia?

Diana era ruiva e branca, mas recentemente pintara o cabelo de roxo e se bronzeara. Lídia continuava como era: moreninha, de volumosos cabelos cacheados e olhos muito verdes.

- E aí Dionathan! Tá tomando bomba, é? Hahaha! - e abraçou seu último amigo, o que ultimamente andara fazendo musculação, para compensar sua mínima inteligência.

- Não, não. Só vitaminas! - respondeu ele.

Arthur ergueu uma sobrancelha:

- Ah, esquece. Não entendeu...Mas vamos entrando gente, tenho uma pessoa para lhes apresentar.!

Liderados por Arthur, entraram tudo pela porta de trás, indo direto ao corredor que dava acesso ao quarto dele. Parando na porta, Arthur apresentou Agnes que calmamente lia um livro Helênico:

- Essa é a Agnes, uma colega minha da escola.

- Oi! - soltou a menina, mesmo intimidada, mas tentando ser carismática.

Um por um eles foram falando seus nomes e em pouco tempo estavam todos tagarelando como se já se conhecessem há muito tempo.

- Ih!Já são onze e vinte! - exclamou Diana, logo que viu as horas no seu celular.

- Vamo pro mercado de uma vez!

- Tá bom, larguem as suas trouxas em cima da minha cama e vamo logo!

Já na fachada do supermercado, Lídia lembrou-se de que tinha um telefonema a fazer:

- Báh, tenho que ligar pra minha tia!

- Mas agora?! - questiona Arthur, com uma cara de zangado. - Deixa pra depois.

- É ligeirinho... - insistiu a guria.

- Urrgh! Tá, vamo ali no "orelhão"! - cedeu Arthur contrariado, e levou-os até um telefone público que ficava na esquina próxima de uma parada de ônibus.

Uma locomoção passou, e nela estava Cristhian. Reconhecendo a namorada de longe, largou surpreso:

- Agnes! - e reconheceu também um dos garotos que estava ao lado dela. - Aquele é o...

E recordou-se de quando viu os dois juntos na frente do supermercado. Então fazendo a relação, irado, desfechou uma pancada na janela junto a um berro:

- Vagabunda!

Os demais passageiros fitaram-no com um misto de espanto e surpresa, e em resposta ele virou-se para trás e berrou:

- O que foi?! Não sabem o que é uma vagabunda?! É aquela guria com quem eu tava namorando!

Após endireitar-se na cadeira disse pra si mesmo:

- Agnes... Vai ter que me dar boas explicações...!

Cheios de sacolas, voltaram para a casa de Arthur e colocaram tudo sobre a mesa da cozinha. Depois se dividiram para cumprir os afazeres: Arthur, Gabriel e Dionathan cuidariam dos doces; e Lídia, Diana e Agnes com a decoração da festa.

Ao pôr do sol eles já haviam terminado tudo e agora contemplavam o lindo bolo que os garotos fizeram.

- Realmente, parece apetitoso. - comentou Dionathan.

- Qual é o recheio mesmo?- interpelou Agnes, deslumbrada com o que via.

- Bombom, leite condensado e doce de leite. - respondeu Arthur, orgulhoso. - Não vejo hora de atacá-lo! Hahaha! - afirmou, quase caindo dentro do bolo, que era redondo, coberto por uma espessa camada marrom e pedaços de chocolate.

Depois de intermináveis elogios e constantes ameaças à integridade física do suculento doce, Agnes anunciou que já era hora de ir embora.

- Mas tu vem amanhã na festa, né? - perguntou Gabriel.

- Ah, não sei... - e olhou para a expressão de expectativa da cara de Arthur.

Dionathan tentou ajudar na decisão:

- Que isso? Vem sim! Já nos conhece aqui... Quer dizer, falta a aniversariante, mas ela é tri! Tenho certeza que vai se dar bem com ela também.

Vendo que todos gostariam da presença dela na festa, com um sorriso concordou:

- Tá bom, tá bom!Como eu ia dizer não para uma galera tão legal como vocês? Hahaha!

Contente com a decisão dela, Arthur disse:

- Beleza, até amanhã então!

- Certo. Agora vamo lá comigo, Arthur?

- Claro, eu te levo no portão.

- Até amanhã galera! - e despediu-se de todos com abraços.

Próximos do portão, Arthur avisa:

- Vê se vem mesmo, hein! Eles ficariam bastante chateados, e não queira vê-los como inimigos! Hehehe!

- Nossa isso foi uma ameaça? Me deu medo agora! - falou a outra, sorrindo. - Não se preocupe,virei sim.

Logo que Agnes saiu na rua, despediram-se uma última vez, mas repentinamente ela retornou e deu uma lambida na orelha dele. Em seguida, rindo-se toda, ela se foi.

Perplexo, Arthur nada disse ou fez. Então num romper entusiasmado, ele exclamou:

- Yes! O feitiço funcionou! - e voltou todo bobo para dentro de casa.

Chegando em casa o semblante alegre da garota morreu: Cristhian, ainda vestindo suas roupas de sair, deixava a residência.

Ao vê-la, o garoto apressou o passo, pisando como um touro furioso.

Com violência abriu o portão e vociferou:

- Acabei de falar com os bocós dos teus pais e eles disseram que desde ontem não te veem! Onde tu tava?!

Já com ele "por aqui", e pedindo uma mãozinha de Artêmis, Agnes respondeu secamente:

- Vai embora, Cristhian! Já não é mais da tua conta o que eu faço ou deixo de fazer!

Pensando que passaria fácil pelo adolescente, foi pega de surpresa quando ele aprendeu pelo braço e, apertando-o, esbravejou:

- Não é da minha conta?! Tu é MINHA namorada, porra!

Então Agnes ergueu o queixo e, num ar desafiador, respondeu:

- Se é por isso, termino agora mesmo! - a plenos pulmões bradou - ACABOU, CRISTIAM!

Ele não esperava por isso, o choque foi tremendo: suas pernas bambearam e seus braços ficaram tão moles que chegou a largar a guria. Mas o pior foi o aperto que sentiu no peito. Perecia que haviam arrancado seu coração.

- Não, não pode estar falando sério! - gritou, furioso. - É o Arthur, né?! Aquele merda!

- Como sabe o nome dele?! - indagou Agnes, surpresa.

- Conheci aquele paspalho quando a gente era criança! Ontem,quando te vi olhando ele ir embora,não reconheci...Mas hoje, vendo melhor, de cara lembrei que é! Vocês dois juntos com uma turma que não conheço... JUNTOS!

- Quer saber, é o que você está pensando! Eu estou gostando dele, sim, já nos poucos dias que o conheci, muito mais que nos meses que te conheço!

Tal declaração estraçalhou de vez com o coração do garoto e, consequentemente, com sua sanidade:

- Vadia! Vai me deixar por causa daquele bosta?! O que ele tem que eu não tenho?!

- Ah, deixa de ser infantil, Cristhian!

Nesse momento saíram na varanda os pais da guria.

Enfezado, o homem ordenou:

- Chega de escândalo na frente da minha casa! Agnes, entre já! Temos muito que conversar! - continuou ao olhar pra Cristhian: - E você, garoto problemático, suma daqui!

- Não, velho! - retrucou o adolescente, encolerizado, para em seguida voltar-se a garota: - Ainda não terminei a conversa com a vadia da tua filha!

Agnes enfureceu-se ainda mais com aquela ofensa e levantou a mão para desfechar um tapa no rosto de Cristhian:

- Você não é melhor do que eu pra dizer isso!

PAF! O rosto de Cristhian ardeu, e avermelhou rapidamente o local do impacto.

"Esse não foi como os tapinhas fracos da Agnes...", pensou o jovem, espantado, "De onde ela tirou essa força toda...?"

Sentindo-se humilhado por ter apanhado da própria (ex) namorada, irado, partiu pra cima dela, pronto para descontar-lhe todo seu ódio e sua dor.

Feito um animal, empurro-a no chão.

- Rúbia, chame a polícia! Use aquele número especial! - mandou o homem, antes de rumar a Cristhian.

- Tá! - assentiu a mulher, desesperada com a situação.

- É melhor ir logo! - berrou Agnes, pondo-se sentada, em tom de ameaça. - Sabe que meu pai é oficial de justiça! Eles virão, e rápido!

Pouco lhe importava as consequências de seus atos, o que ele queria mesmo era por pra fora todo o que sentia! Então, no momento que desferia na menina um pontapé, o pai dela empurrou-o longe e esbravejou:

- Vai embora agora seu marginal! E nunca mais apareça aqui! - e virou-se para a filha - E você, dona Agnes, se eu te ver com esse daí outra vez, te coloco num internato!

- Você está bem mudada... Não é a Agnes que eu conheci... - disse Cristhian, sem dar atenção ao que o pai da guria falara. Mas ainda assim afastou-se, a passos largos, não aceitando de jeito nenhum ser deixado de lado.

O pai de Agnes começou a dar a maior bronca nela. Mas a guria apenas olhava para os próprios pés,sem fazer ou dizer nada.Estava perdida em seus pensamentos e,lá no fundo,sentia-se um tanto culpada e vazia pelo acontecido.

- O que há com você? - questionou o seu pai, irritado. - Tá surda agora?! Alíás, quando foi que ouviu o que dissemos?!

Simplesmente ela ergueu a cabeça e, decidida, murmurou:

- É, é isso...

E saiu correndo, deixando o pai dela resmungando. Sua mãe ressurgiu na porta e, vendo Agnes afastar-se, interpelou:

- Mas aonde ela vai, Roberto?!

- E eu sei lá! Perdeu o juízo!

Casa de Arthur - Cozinha

Ele, seus amigos e sua mãe encontravam-se sentados à mesa, num animado debate em meio ao jantar, sobre qual filme alugar depois do Jornal Nacional, quando a sintonia foi quebrada por um forte bater de palmas vindas lá de fora.

- Ué, espera alguém, mãe? - inquiriu Arthur.

- Não. E você? - e as palmas continuaram

- Deve ser o Apolo! - exclamou Lídia, faceira.

- Não, acho que não... - proferiu Gabriel. - Ele vai trazer a família da Thalia amanhã, lembra?

- Ah, é... - soltou ela, desanimada. - Hum...

Arthur levantou e saiu para atender à criatura desesperada. Deparou com Agnes esperando no portão.

- Ué, Agnes? Esqueceu alguma coisa?

- Não... Preciso falar com você... - disse ela, numa voz contida.

- Entra... Opa! - mal abriu o portão, a menina pulou nele, derrubando-o. Montando sobre ele,aproximou seus lábios dos dele e sussurrou:

- Preciso de ti... Agora...

Fora de si e cheia de desejo, Agnes deslizou uma das mãos pelo ventre do garoto em direção da virilha.

- Que é isso, Ag...? - e foi silenciado pelo beijo da garota. Um beijo incontrolável e cheio de raiva.

Quando a mão dela alcançou as partes íntimas do rapaz, Arthur, num movimento rápido, levantou todo atrapalhado. Agnes ficou ali sentada, tentando recompor-se. Estava zonza,agitada,com um estranho desejo consumindo-a internamente.

- Não sei o que deu em ti, mas se continuar agindo assim, não vou te ajudar! - afirmou o garoto, fingindo estar surpreso.

- Desculpe,desculpe,desculpe! - ela se ergueu e com uma mão na cabeça, prosseguiu: - Eu não queria fazer isso... Sei lá o que deu em mim!

A jovem chacoalhou a cabeça, como se tentasse libertar-se de algo.

- Bem, parece que voltou a si... - disse o outro, dissimulado. - Vamos lá pra dentro.

Contente, pegou na mão do garoto, e de volta ao pessoal Arthur disse:

- Olha só quem ta de volta, pessoal!

- Ué, já amanheceu e nem percebemos? - largou Dionathan, confuso como todos os outros.

- Quer jantar, minha filha? - indagou a mãe de Arthur, hospitaleira como sempre.

- Não querendo ser chata, mas já sendo, eu aceito sim, senhora.

Apesar de Agnes estar toda descabelada, com os olhos um pouco inchados e um tanto empoeirada, ninguém perguntou nada.

Preferiram deixar quieto.

Gian Felipe Author e A. Henrique SR
Enviado por Gian Felipe Author em 09/12/2015
Código do texto: T5474515
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