Sob Olhar das Erínias — Parte VIII

09h15m — Lan House Bem Estar

No local combinado com Lexus na noite passada, chegou Arthur, cumprimentado o dono do estabelecimento:

— E aí, Daniel!

— E aí Arthur, bom dia! — respondeu o homem alto e magro de ruivos cabelos curtos, por detrás do balcão de atendimento. — O que seria?

— Acesso.

— Quanto tempo?

— Meia-hora.

— Ok, só um minutinho...

— Uhum. — assentiu o garoto, e ao ver dois exemplares do jornal local sobre o balcão, perguntou: — Nova edição do "Fala Aí"?

— Não, não. São do mês passado. — explicou Daniel, digitando algo no seu computador. — Mas o desse mês sai semana que vem.

— Certo certo. Acho tri esses jornais locais, porque valorizam os moradores e expõe nossa cultura, e as necessidades do bairro. Como a buraqueira das ruas,o asfalto que fica só onde o ônibus passa,o posto que vive sem médico...Enfim,parabéns pela iniciativa.

— Obrigado, Arthur! Mas não fiz isso sozinho, não. Foi um trabalho em equipe!

— Deve ser uma equipe de dar orgulho.

— Pode apostar! - prosseguiu, após teclar "enter": — Liberado. Pode acessar. Qualquer coisa, "Fala Aí"!

— Hahaha! Pode deixar!

Lexus estava distraído com um clipe do "System Of Down" no You Tube, e não percebeu a aproximação de Arthur. Este, ciente disto, deu um leve soco no ombro do garoto.

— Opa!E aí Arthur! Não te vi chegar! — saudou ele, tirando os fones do ouvido, surpreso.

— Eu sei, agora sem demora, pega aí. — soltou o outro secamente, estendendo um bolinho de dinheiro.

Lexus pegou nas notas, mas não as puxou para si ainda, e, fixo em Arthur, advertiu:

— A poção mexe no livre arbítrio da pessoa. Tem certeza que quer assumir as consequências por isso?

— Rá! Desde quando se importa com o que vende?

— Nós sabemos coisas que a maioria ignora... Usar isso de forma irresponsável pode ser perigoso. Dependendo do prejuízo causado, ou que causara o lado escuro e destruidor da Deusa pode se manifestar. Se A Ceifeira se despertar, a punição vira rápida e implacável.

— Não vem com essa. Quanto mal já foi feito com as suas poções, e você ainda está aqui, hein? Sei muito bem que só lucra com os feitiços que causam algum dano.

— Meus deuses são outros. Ainda assim não escapei totalmente... — e de repente seu olhar transpareceu profunda tristeza... — Meu irmão mais novo morreu mês passado...

— Não posso dizer que lamento... — disse Arthur com um ar prepotente. — E agradeço pelo conselho, mas já tomei a minha decisão.Além disso,não queira ensinar um padre a rezar.

— Você quem sabe... — respondeu Lexus, ferido pelas palavras de Arthur. Depois de guardar o dinheiro em sua carteira, tirou de uma sacola preta um frasco negro. E antes de entregar ao cliente,completou: — Pelo menos lavei as minhas mãos... Aliás, nem sei por que tô dizendo essas coisas!

Arthur pegou a poção e ergueu-a na altura dos olhos. Aí retrucou:

— É melhor não ser tão ingênuo... Valeu!

E foi embora.

No caminho de volta para casa, Arthur foi acometido por um vendaval gélido, que inexplicavelmente encheu-o de temor. Perturbado, indagou-se:

— O que é isso?!De onde veio todo esse medo?!

De repente, o ruído de vários cascos pisoteando o solo fez-se ouvir. Prestando mais atenção, percebeu que os trotes pareciam estar cada vez mais próximos, ao que parecia, dele...

Subitamente o ar a sua volta gelou, fazendo-o encolher-se de frio. Tremendo,o rapaz,perplexo,murmurou:

— Nã-Não po-pode ser...

Wiccano desde que se entendia por gente, ele sabia que tal fenômeno só poderia significar uma coisa: uma manifestação divina. De quem não tinha certeza, afinal poucos deuses provocariam tamanho desconforto na sua chegada. Mas já que fora abordado,deveria demonstrar o maior respeito possível.

Então recompôs-se, e procurou se tranquilizar.

Eis que os galopes cessaram e relinchos aterradores trovoaram detrás dele. Na mesma hora ele virou-se e, atônito, largou:

— Você?!

Imponente no seu suntuoso carro de ouro, puxado por quatro robustos cavalos negros de olhos incandescentes, encontrava-se Hades, O Senhor do Mundo dos Mortos. De físico forte, aspecto severo, e barbas e cabelos em desalinho, vestia uma túnica negra e mantos vermelhos. Firme em suas mão trazia as rédeas prateadas de seus corcéis sombrios.

Após estudar Arthur por um momento, Hades, com sua voz grave e indiferente, advertiu:

— Penses bem no caminho que trilhas. Sabes que não é desse modo que deves nos honrar. Lembra-te do que aprendera,filho de Afrodite.

— Hades Euboleus... Eu...

Boquiaberto, não sabia o que dizer. Afinal,que argumento criaria para rebater as palavras verdadeiras de um deus?Nenhum com certeza. Por isso baixou a cabeça e manteve-se calado. Jamais ousaria discutir com um Olimpiano.Muito menos com o Senhor dos Infernos,cuja presença invernal fazia-lhe bambear as pernas.Contudo,a verdade é que se ele tivesse procurado estudar Hades mais afundo,ao menos tentado compreendê-lo,na certa sentiria um grande respeito ao em vez do medo irracional que geralmente o homem possui do desconhecido.

— Não espere um terceiro aviso... — concluiu o deus, antes de bater as rédeas e partir num intenso fogaréu que espiralou do chão.

Mesmo a visão já tendo se desfeito, Arthur continuou parado no meio da rua, muito admirado. Apenas quando escutou o buzinar áspero de um carro, foi que voltou a si. Depois de sair do caminho - e ouvir poucas e boas do estressadinho no volante - atentou para o local onde o Deus estivera. Não que duvidasse do encontro,tinha certeza que estivera na presença de uma deidade,mas...seria mesmo Ele?

Todavia, quaisquer que fossem as dúvidas da aparição do Senhor do Submundo, elas imediatamente extinguiram-se no momento que notou as profundas pegadas em brasa dos cavalos de Hades.

Isso,numa rua asfaltada...

Atordoado, Arthur chegou em silêncio em casa e certificou-e de que Agnes ainda não levantara. Sua mãe era uma costureira conhecida no bairro e já estava trabalhando em seu ateliê. Já o seu amigo,Apolo,saiu mais cedo para ir trabalhar.

Sabendo que não seria incomodado por ninguém, aproveitou para visitar o Jardim Sagrado, um espaço separado do pátio através de uma cerca viva.

Ao adentrar no Jardim, o clima mudara sensivelmente para uma paz profunda, contrastando com o conflito interior que afligia sua alma. O local ainda achava-se fresco, levemente iluminado pelo céu azul, pois o sol só atingiria o Jardim perto do meio-dia. O espaço era dividido por grandes e belos cinamomos, diversas espécies de lindas flores - estas à um canto específico no terreno - e uma fileira de estátuas dos Treze Grandes Deuses do Olimpo - Zeus, o senhor dos céus; Hera, a rainha dos Imortais; Poseidon, o regente dos mares; Hades, o rei do submundo; Atenas, a sábia; Apolo, o radiante; Artemis, a caçadora; Afrodite, a deusa do amor e da beleza; Ares, deus da guerra; Hermes, o mensageiro divino; Héstia, a protetora da família; Hefaísto, o mestre da forja; e Deméter, a deusa da terra fértil. todas as esculturas estavam posicionadas lado a lado, próximos ao grande muro que delimitava todo o terreno.

O menino sentou-se num tronco enterrado no chão que usava de banco, e pôs-se a pensar.

— Não espere pelo terceiro aviso...? — murmurou ele.

O orgulho ferido num passado distante conflitava com o desejo de desprender-se do que passou. Realmente Arthur fora muito hostilizado quando criança, e pra ele sua honra havia sofrido tanto quanto ele... Sim,a vingança fazia-se necessária...Mas qual o jeito certo para isso?

A inesperada visão de Hades deixara Arthur muito confuso; com suas convicções abaladas...

— Não espere pelo terceiro aviso? — repetiu-se, pensativo, mesmo que a resposta não interferisse em nada depois. — A visão foi o único aviso que tive até agora... Do que ele tava falando? Qual foi o segundo?

"Lexus!", pensou subitamente, refletindo melhor sobre o estranho comportamento conselheiro do jovem mago negro. Então se lembrou das últimas palavras dele:"Aliás...Nem sei porquê tô dizendo essas coisas!"

Um sentimento de gratidão pela atitude do deus começou a florescer, porém tão logo seu ego ferido interveio com raiva:

— Por que Ele tá se metendo?! Eu tenho direito de agir segundo a minha consciência, segundo minha vontade própria!

Nervoso, sacudiu a cabeça para afastar os pensamentos contraditórios à sua vontade. Levantou-se, e, convicto, disse:

— Quer saber? Nada vai me deter nos meus objetivos! Sei o que quero e o que devo fazer!

Estufou o peito e empinou o nariz, e saiu do Jardim deixando um rastro de arrogância.

10h24min

Quando Agnes saiu do quarto, o cheiro de café fresco já se fazia sentir pela pequena casa. Atraída pelo agradável aroma, encontrou Arthur na cozinha passando-o.

— Bom-dia Arthur! — saudou a menina, pra em seguida fitar o relógio de parede e dizer: — Nossa, dormi bastante!

— Bom-dia, Agnes! — ele respondeu o comentário: — Hehehe! Pelo menos deve ter dormido bem, né?

— Báh, dormi feito uma pedra! — respondeu a menina, esfregando o olho.

— Quer tomar um café? Tá novinho... — inquiriu o rapaz, carregando o bule para a mesa.

— Sei. Pude sentir o cheirinho já quando saí do quarto.Só deixa eu ir no banheiro lavar o rosto e ficar mais apresentável.

— Hahaha! Tá certo, tá certo...

Enquanto a garota foi ao banheiro, Arthur correu pro seu quarto atrás da Rosa Negra. Depressa destampou o frasco e derramou-o todo no bule de café.

De repente sua mãe berrou do ateliê:

— Arthur!

— Sim, mãe? — perguntou o rapaz da cozinha, envolvendo o frasco numa folha de jornal para jogar no lixo sem deixar pistas.

— Estou indo na dona Vilma pegar uns tecidos e já venho! E quando você for com os guris no mercado, traz dezesseis cacetinhos e meia dúzia de ovos. O dinheiro tá no armário da cozinha.

— To bom! Pode deixar! — respondeu Arthur, da janela, vendo-a sair pelo portão de entrada.

Com o rosto menos inchado e sonolento Agnes ressurgiu:

— Vou pegar uma xícara, tá?

— Já tem uma aqui pra você. — replicou gentil o garoto, indicando o copo.

— Ah, obrigada. - disse a jovem, sentando-se à mesa.

Eles prepararam seus pães, Agnes serviu seu café e Arthur o seu café com leite, usando café em pó, não o do bule...

— Só peço um minuto antes de comermos, tenho que fazer um pequeno ritual. - avisou, partindo um pedaço de seu pão e colocando-o numa tigelinha, e vertendo um pouco de sua bebida num pequeno cálice.

— Ritual? Como assim? — interpelou a menina, muito intrigada.

O rapaz não respondeu a pergunta, achou melhor ficar quieto e esperar. Então ele levantou-se, ergueu suas ofertas em direção de uma vela de sete dias branca que havia num altar bem alto.

— A ti Héstia, nas altas moradas de tudo, tanto dos deuses quanto dos homens que caminham na terra; recebeste uma estada permanente as mais altas honras: gloriosa é sua porção e seu direito. Pois sem você os mortais não fazem banquetes, onde a gente não verter devidamente em oferta a Héstia tanto o primeiro quanto o último!

Passado um tempo em silêncio e imóvel, Arthur subiu na cadeira e pôs os recipientes um de cada lado da vela.

Então retornou a mesa e num tom sereno disse:

— Pronto! Mãos à obra!

— O que você acabou de fazer? — inquiriu Agnes, espantada.

— Depois que terminarmos eu lhe explico.

— Tá bom então. — assentiu a jovem, tentando agir naturalmente.

"Héstia? Eu, hein!",pensou a menina enquanto conversavam sobre trivialidades.

Só quando já tinham terminado o café e arrumado a mesa, Arthur foi mostrar o pátio e depois a levou até o Jardim Sagrado.

Ao entrar naquele lugar, a menina ficou tão admirada com a beleza e a magia reinante que seu semblante entristecido desapareceu. O cheiro da terra úmida e a brisa fresca a fez sentir-se revigorada, mesmo ela não imaginando o porquê.

— Arthur isso aqui é um paraíso! — exclamou Agnes, contente. — Que lindo!

— Hehehe... É verdade. É um pedaço dos Campos Elíseos.

Ela não parecia prestar atenção no que ele dizia, apenas fitava a imagem de um dos deuses Olimpianos; a deusa que, pronta pra disparar, empunhava firme um arco e flecha, acompanhada dum pequeno gamo.

Como se estivesse hipnotizada, Agnes lentamente encaminhou-se a estátua dela.

— Agnes? O que houve? — quis saber o guri, intrigado com o comportamento da moça.

— Quem é essa...? — interpelou a guria, perdida nas lembranças do momento em que fora atacada por aqueles marginais cheirando a vinho, e da força surpreendente que recebera para combatê-los. Mas mais que uma força, uma presença... Uma presença poderosa ao mesmo tempo que acolhedora. Pensara que fora coisa de sua cabeça amedrontada,mas agora ante aquela bela deusa guerreira,sabia em seu íntimo,não...sentia em seu íntimo que fora real.Alguém lá olhara por ela.Alguém lá a protegera...

— Essa é a deusa Artêmis, a caçadora.

Sem desviar os olhos de Artêmis, a menina, encantada, largou:

— Eu lembro que quando fui agredida ontem, tive a impressão de ter visto uma mulher, uma guerreira igual a essa Artêmis vindo me ajudar... — enquanto falava, acariciava o rosto da estátua - Daí, no momento seguinte, me senti forte e poderosa, tanto que consegui bater naqueles desgraçados e fugir...

— Sério? — Arthur não sabia que pensar, e um medo repentino havia lhe invadido. — Por que não me contou isso antes?

Agnes voltou-se a ele e, um tanto receosa, respondeu:

— Como é que eu ia dizer isso? No mínimo ia me chamar de louca! Mas agora... não deu pra conter... Arthur, o que significa tudo isso? Esse Jardim? Todas essas coisas estranhas?

— Bem, eu ia explicar isso agora, e aqui, por isso te trouxe. — e caminhando entre as estátuas, continuou: — Minha mãe e eu praticamos a religião Wicca. Já ouviu falar?

— Wicca...? Hum... — e a menina mordeu os lábios, esforçando-se por lembrar de qualquer coisa que se referisse a dita cuja. Então,uma resposta surgiu: — Ah,não é aquele negócio de roqueiros e emos que fazem baderna na frente de igrejas?

A menina não percebeu, mas Arthur cerrou as mãos, tentando controlar uma crescente raiva daquilo que acabar de ouvir. Estava louco para surrar Agnes,por mais que soubesse não ser culpa dela possuir aquelas informações errôneas.Daí ele fechou os olhos e respirou fundo,para em seguida olhar pro alto e soltar lentamente o ar.

Um pouco mais calmo,voltou-se a garota e respondeu,seco:

— Gente que nem você, por exemplo? E tipinhos como esses aí lá entendem dessas coisas?

Agnes tomou consciência de suas vestes pretas, com desenhos tristes e de caveiras. E lembrou-se das ocasiões em que ia de noite com os amigos se embebedar nas escadarias de igrejas e falar besteira até o amanhecer.

— Ai, desculpa Arthur. Eu não queria te ofender,mas era o que eu sabia...

— Esse tipo de gente só mancha a reputação da Wicca. Usam a sagrada estrela de cinco pontas como se fosse uma bijuteria qualquer, ou a profanam atribuindo o pentagrama ao Diabo cristão... — e mais uma vez recordou-se daquela vez em que apanhou de Cristhian e dos amigos dele por causa do pentagrama. — Essa estrela simboliza o Homem Perfeito, em Equilíbrio com o Universo, que é o Círculo. Ou melhor,a Deusa.E por tudo isso e muito mais é que também pode ser usado como um poderoso amuleto de proteção de influências,digamos,malignas.

— Interessante... E esse símbolo aí que tu falô, eu conheço. Um monte de amigo meu usa.Mas e sobre a Wicca? Eu gostaria de saber mais. Explica o que ela é?

Ela estudou-a por um momento.

"Vale a pena explicar isso a ela? Ela não passa de uma comum... Bem, não irei revelar nada de relevante mesmo. E de qualquer forma, a Wicca já está bastante difamada. Creio que nada do que eu diga vá piorar as coisas. E duvido que dê muito importância ao que vai escutar. Logo esquecerá tudo...", pensou Arthur, mirando por cima do ombro.

— Pode ser, talvez assim deixe de ser tão ignorante. — a alfinetada magoou-a,mas ela não deixou-se abalar.Manteve-se firme,envolta dum ar sério,concentrado.

— Olha só, a Wicca é uma religião que vê o Poder Criador de tudo na forma de uma Deusa e um Deus. Ela representa a força feminina do Universo,enquanto Ele a força masculina.Juntos eles mantêm o Equilíbrio da Vida em todos os níveis.Do planeta Terra a uma ameba.

"Minha tradição se fundamenta em cinco conceitos: o culto a dois Deuses criadores; a crença na reencarnação; a busca pelo autoconhecimento; a sacralidade da Natureza; e o conhecimento e uso da magia, como manipulação da lei natural de modo a trazer benefícios ao homem. Contudo, com o compromisso de usá-la de maneira responsável e respeitosa."

— Aaaaa... Báh, nada a ver como o que eu disse...hehehe! — admitiu a menina, sem graça. — Tá, e todas essas estátuas de deuses gregos aqui? — questionou, olhando as imagens a sua volta. — Se você só tem dois deuses?

— Sim, só que para nós, Wiccanos, todos os deuses são diferentes faces do Deus; bem como todas as deusas são distintas faces da Grande Deusa. Portanto,podemos utilizar qualquer figura divina de qualquer cultura para nos sintonizarmos com os Deuses de forma mais específica.Mais a nível de relacionamento mesmo,já que Eles possuem milhares,infinitas formas .Mas enfim,entendeu o porquê de minha prece a Héstia,deusa do lar,agora pouco,né?

— Acho que sim. - respondeu a garota, com um sorriso.

"Acha?!", irritou-se Arthur, "Ah, deixa assim... O que eu podia esperar de criatura estúpida que nem ela...?".

— E sobre a sua força misteriosa... — retomou Arthur, andando em volta de Agnes com a mão no queixo. — A Deusa simpatizou com você, e acho que quis te ajudar... De certo você deve ter algum potencial...

— Eu? Mas qual?

— Não sei, mas é melhor começar a estudar sobre o paganismo em geral...

— Só isso? — interpelou ela, achando pouco.

"SÓ?! Ora, sua...!"

Mas antes que pulasse no pescoço da guria, lembrou-se que ela era uma comum, uma leiga. Não tinha culpa se não entendia a honra que era ser escolhida pela Grande Deusa.Mesmo não sabendo-se qual o motivo...

Após uma pausa para se tranquilizar, Arthur disse:

— Olha... você pode tam...

Porém ela interrompeu-o:

— Tá bem, Arthur?

— TÔ! - bradou o rapaz, usando de todas as forças que tinha pra não esbofetear a menina até amanhã.

"Nossa, o que deu nele? Eu hein...", pensou a menina, espantada.

Vendo a cara dela, Arthur recompôs-se e finalmente recomendou:

— Busque muitas informações sobre a Deusa e tente se aproximar mais Dela, através de preces e pequenos rituais.

— Hum... Tá bom... — e aproveitando do momento, ela emendou: — E já que você saca dessas coisas, sabe o significado dessa estrela aqui?

"Pelos Deuses... O que é agora?!"

E tirou de dentro do baby look uma estrela de seis pontas, presa por um corrente que trazia sempre no pescoço.

— Sim, é o Selo de Salomão. Simboliza o princípio masculino e o feminino unidos num só. Unidos na Criação.Na magia é usado em encantamentos de sabedoria,purificação,reforços dos poderes psíquicos e na conjuração de espíritos...

— Nossa que tri! — e com um sorriso orgulhoso, comentou: — Foi minha falecida vó que me deu de presente... ela era judia...

— É? Que interessante... Eu gosto do judaísmo. Mais especificamente, da vertente mística deles, a Cabala.

Arthur olhou o relógio de pulso e disse:

— Mudando de assunto, você pretende ir embora depois que sairmos daqui?

— Por que, já te enchi muito? Hehehe.

— Não, não capaz! - negou Arthur, mais que depressa. — Só perguntei isso porque daqui a pouco vão chegar uns amigos meus pra prepararmos a festa surpresa de uma outra amiga. Não quer passar o dia conosco,ajudando? Vai se divertir bastante, tenho certeza.

— Bem... não sei... É estranho. Por que este convite? Mal nos conhecemos e você age como se fôssemos velhos amigos.

— Agnes, um dos deveres de um wiccano é auxiliar o próximo, dentro de suas possibilidades, claro, mas auxiliar o próximo. Você precisa espairecer, conhecer pessoas novas, se divertir. Nisso eu posso te ajudar. Percebi que o motivo de suas lágrimas ontem não era tanto por causa daqueles infelizes. Havia outra coisa...algo que só a alegria pode combater.

Agnes ficou pensativa, talvez ele estivesse certo. Se voltasse para casa agora teria de dar explicações aos pais, que não estavam tão preocupados assim, a as amigas dela tinham seus próprios compromissos.

— É, realmente não tô muito a fim de aturar um Interrogatório em casa... Tá certo, aceito ficar aqui com vocês!

— Eba! Então vamo indo lá pra dentro, que vou ligar pro pessoal e saber se já tão chegando!

E saíram do Jardim, mas não antes de Agnes dar uma última olhada na imagem de Artêmis.

Cristhian, atordoado com o sumiço da namorada, andou e andou pelas redondezas a sua procura. Esteve na casa dela, na casa dos amigos dela, e até na dos parentes dela. Mas nem sinal da guria...

— Porra,onde ela se meteu?! — largou o jovem, aborrecido. Ao mirar a sua casa, avistou um menino maltrapilho sentado na frente do portão. Este logo o notou, e após levantar-se de um salto, partiu em disparada na sua direção.

Apresentando uma folha de caderno dobrada, o píá disse:

— Pra ti.

— Mal o outro tomara o papel, o garoto perguntou:

— Quer mandar algum recado?

— Não. Pode ir.

— Falô, então! — e o jovenzinho foi embora correndo.

No bilhete, Cristhian leu:

Hoje às duas e meia no centro de Porto Alegre No lugar de sempre.

Com uma mão na cintura, a contragosto afirmou consigo:

— Droga! Vou ter que deixar aquela vadia pra depois...

Gian Felipe Author e A. Henrique SR
Enviado por Gian Felipe Author em 30/11/2015
Código do texto: T5465160
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