ELE ME ODEIA - capítulo XXIX

Como uma escolha minha, preferi que Marcelo não me levasse de volta para casa, por motivo de que iria não ser tão agradável, visto que eu já o deixara bastante triste com minha resposta. Mesmo Marcelo tendo dito que isso não era um problema e que poderia me levar para casa, achei melhor ligar para meu tio e pedir que ele fosse me buscar. Me despedi de Marcelo e vi em seu semblante como estava estava decepcionado, mal consegui ouvir seu "tchau" por tão fracas que suaram suas palavras. Senti pena, mas ouvi dizer que este não é um sentimento tão bom.

Após falar com tio Ricardo pelo celular, caminhei até o outro lado da rua para esperá-lo. Andando pelas calçadas iluminadas e com pouco movimento, cabisbaixa, vi um carro, que não me era estranho, parar bem ao meu lado e o vidro da janela baixar. Aquele rosto que estava tão marcado em minhas lembranças, aqueles olhos verdes que se maquiavam com a negritude da noite, como um rio na escuridão, me fitavam.

- Iva!

- Dante!

Ele abriu a porta do carro e desceu para falar comigo. Parecia um pouco apreensivo, perturbado, pela maneira que me fitava.

- O que faz andando sozinha por aqui?

- Eu... Estou vindo de um...

- Encontro?

- Não...

- Eu sei, Iva, você foi se encontrar com Marcelo, não precisa mentir para mim.

- Quem te disse isso? Ah, já sei, nem precisa falar! Foi Paloma, não foi? Porque agora eu não posso contar nada mais à ela, que esta já vai correndo te contar.

- Então é verdade? Você se encontrou com Marcelo?

- Sim, é verdade.

Respondi, simplismente, disfarçando a inquietude que havia dentro de mim. Dante parecia agora mais preocupado, esfregava a nuca e olhava com aflição para os lados, depois para mim, como se esperasse que eu dissesse algum coisa.

- Eu posso te levar para casa?

- Não, melhor não.

- Por que, Iva? Só quero te fazer essa gentileza, nada de mais.

- Obrigada, mas não precisa.

- Eu insisto, me deixe te levar.

Repentinamente, um carro parou um pouco mais à frente do carro de Dante, e este também me era familiar, claro, era o carro de meu tio. Eu até arrepiei quando ele desceu e me viu conversar com Dante.

- Não pode ser, você de novo? Será que não bastou a surra que levou para aprender a manter distância de minha sobrinha?

Ele ralhou com Dante, chegando perto de mim e eu já previa uma nova discussão.

- Era só o que faltava. Talvez você não tenha percebido mas Iva já é bem grandinha e sabe o que faz. Por que fica pegando tanto no pé dela?

- Porque eu sei o tipo se cara que você é e o mal que pode fazer à ela, por isso não posso deixá-la sozinha com um vagabundo como você.

- Vagabundo? Não sou eu quem fica na porta da empresa de conversinha e xaveco, ao invés de fazer segurança.

Falou Dante, e tio Ricardo se alterou, querendo partir para cima dele, mas, tentando contê-lo, falei:

- Ah não, vocês mão vão querer brigar aqui no meio da rua, vão?

- Iva tem razão... Vamos para outro lugar.

Disse Dante e eu revirei os olhos, dizendo em seguida:

- Se os dois começarem a brigar, quem vai chamar a polícia dessa vez será eu!

Meu tio se manteu em controle e Dante fez o mesmo, mas nem passara um minuto e já estavam em xingamentos. Tio Ricardo foi quem começou:

- Trombadinha.

- Robocop enferrujado.

- Como é?

- Como é o quê?

- Tá querendo apanhar!

- Vem quente que eu tô fervendo.

E voltavam a se enfrentar e eu, mais uma vez, apartava os dois.

- Parem com isso!

Mas de nada adiantava, eles não me davam ouvidos. Impaciente e enfurecida, segurei o rosto de Dante e lhe dei um tapa, fazendo o mesmo com meu tio. Ambos se calaram e esfregaram as bochechas, fitando-me com espanto e ouvindo-me falar:

- Vocês parecem mais dois moleques bestas, brigando por nem se sabe o quê! Olhem para a vocês, vejam a idade que têm! Querem chamar atenção? Vão para o meio da rua e se joguem debaixo de um caminhão, ora! Que saco!

Vociferei, chamando a atenção de quem passava por ali. Eu tinha ficado vermelha de tanta exaltação, e só depois fui recuperando-me e voltando ao meu estado normal. Mas ainda não estava satisfeita, portanto, olhei para Dante e falei:

- Dante, peça desculpas ao meu tio.

Este me olhou com bizarria e perguntou:

- Como é?

- Faça logo o que mandei.

Dante soprou um ar de indignação e, virando-se para meu tio, disse:

- Desculpa, morcegona.

- Sem apelidar!

- Tá... Desculpa.

Olhei para tio Ricardo e este, de imediato, entendeu, no que disse:

- Ah, nem pensar! Eu não vou...

- Faça-o agora.

Ordenei, e tio Ricardo acabou se rendendo e pediu desculpas a Dante, mas, sem olhar nos olhos. Visto isso, eu falei:

- Não, é para olhar para ele e dizer.

- Tenho que dizer de novo?

- É!

- Tá bom...

Ele olhou para Dante, porém, com um olhar cruel e sorriu, um sorriso tão falso que nem cabia em sua expressão. Disse:

- Desculpe.

- Agora se abracem.

Falei, e os dois viraram-se para mim, atônitos, no quando ralhei:

- Vamos, se abracem!

Eles se esforçaram, encorajados, e se abraçaram, afastando-se um do outro, de imediato, logo depois, e limpando o corpo com as mãos, enojados. Com isso, sorri satisfeita para os dois e disse;

- Muito bem... Agora façam um juramento, dizendo que nunca mais voltarão a brigar.

- Isso é realmente necessário?

Dante perguntou e eu assenti. Então eles ergueram a mão direita e juraram. E eu já me sentia uma verdadeira heroína.

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 28/11/2015
Reeditado em 24/12/2015
Código do texto: T5463852
Classificação de conteúdo: seguro