ELE ME ODEIA - capítulo XXVII

[IVA]:

Passada aquela noite durável e ainda com os sintomas da emoção à flor da pele, minha chegada na empresa, naquela manhã, era cheia de expectativas. O que Dante faria? Qual seria seu comportamento para comigo depois do que aconteceu noite anterior? Eu estava tão inquieta, tão boba... E mais boba fiquei ao ver Dante passar pela porta, tão lindo, com aquele rostinho encantador e aquele seu jeito, que eu amava! Ele estava aproximando-se de mim e meu coração reagiu de imediato, em fortes batidas, espancando meu peito.

- Bom dia...

Disse, num tom pacífico, Dante, e mexeu em meus cabelos, continuando seu percurso.

- Bom dia...

Respondi em atraso, pois a voz estava presa e quase não saía de minha boca. Permaneci fitando Dante de longe, com um sorriso tolo, até que mais alguém passou por mim e me cumprimentou, era Marcelo, jogando-me um olhar prolongado, no que engoli a respiração e senti um pouco de receio. Por sorte, Marcelo passou direto, e eu me sentei, totalmente atordoada. Paloma chegou do meu lado e perguntou:

- Então, você já sabe o que vai dizer para Marcelo?

Olhei pensativa para ela e respondi:

- Sei e ao mesmo tempo não sei se sei.

- Iva, chega de ficar mentindo pra você mesma. Você nunca se sentiu um tantinho atraída por Marcelo! Sabe que sempre amou Dante e...

Me levantei e andei até o bebedouro, e Paloma ia atrás de mim. Falei para ela:

- Pára de ficar repetindo isso! Parece que você ama Dante mais do que eu!

- Ah, então admite que o ama.

- Eu não... Olha, Dante me magoou e...

- E você também o magoou.

- É, e por isso ele me odiou. Agora é minha vez de odiá-lo.

- Você odiar Dante? É mais fácil o Saci cruzar as pernas.

- Você duvida? Eu sou capaz de decipá-lo se ele aparecer na minha frente! O pego pelo pescoço e...

Nesse instante, Dante foi ao bebedouro e eu emudeci, meu queixo caiu e mais uma vez havia me hipnotizado. Dante sorriu para mim e encheu o copo d'água, voltando para sua cabine.

- Unhum... O que você dizia mesmo sobre Dante?

Interrogou-me Paloma, e eu, absorta, falei:

- O quê?

- Hum, deixa pra lá.

Em seguida, foi Marcelo ao bebedouro e despertei dos sonhos. Ele olhou-me e disse:

- Pode me ajudar aqui a tirar esse copo, linda?

Eu ia ajudá-lo, mas Dante se punha no meio e falou com Marcelo:

- Claro que te ajudo!

Notei o olhar tenebroso que Marcelo lançou sobre Dante quando este retirou um copo.

- Não, deixa que eu encho para você.

Dante encheu o copo d'água para Marcelo e disse:

- Aqui está.

Ele atiçou a água sobre a camisa de Marcelo, propositamente, e falou:

- Oh, não, me desculpe! Acabei molhando sua camisa...

Marcelo irritou-se e empurrou Dante contra a parece, vociferando:

- Por que você não vai pro quinto dos infernos?

- Não gosto de lugares quentes. A propósito, você está vindo de lá, não é?

Disse Dante, com provocação, e Paloma apartou-os e falou:

- Parem com isso, parecem mais duas crianças! A não ser que os dois pirralhos queiram levar um pé na bunda.

Eles cessaram a discussão e cada um foi para seu devido lugar, eu também fui para o meu, mas rindo por dentro do teatrinho de Dante. Pois é, achei engraçado, Dante agia de modo ousado e nem pensava nas consequências! Era um total louco.

Assim que eu ia saindo da empresa, Marcelo me parou e me chamou para o canto. Gelei. Talvez por razão de que não ainda tivesse certa do que lhe responder e torcia para que não fosse sobre isso que ele quisesse tratar.

- Iva, eu não quero parecer apressado e nem te pressionar, mas, gostaria de saber sua resposta ao meu pedido. Podíamos nos encontrar hoje à noite?

Mordi os lábios, sem saber ao certo o que dizer, entretanto, eu precisava dizer algo!

- Tudo bem...

Falei, apreensiva. Assim, marcamos o encontro num restaurante fino, às 20h:30min. daquela noite e eu nem sabia o que diria. Em casa, comecei a pensar em diversas hipóteses para não comparecer no local, visto que eu estava insegura de minha resposta e achava que um tempinho a mais para pensar seria o ideal. Pensei em ligar para Marcelo e dizer que uma dor de barriga me pegou de supetão, pensei em dizer que meu pai acabara de chegar de viagem e eu tinha que bem recebê-lo, pensei até em não dizer nada a Marcelo e deixá-lo plantado no local do encontro, a me esperar! E quando percebi, já eram 19h:45min. e eu já havia pensado muitas coisas e nada decidido. Só restou-me ir ao encontro e fosse o que Deus quisesse.

[DANTE]:

Eu estava deitado no sofá, quando o celular sobre o centro de mármore tocou. Estiquei, preguiçosamente, o braço e peguei o celular. Era Paloma.

- Alô, Dante?

- Diga, Paloma.

- Só estou ligando para dizer que Iva acabou de me ligar e disse que vai se encontrar com Marcelo agora, para dar sua resposta.

- E... Ela disse qual era a resposta?

- Não, não quis dizer de jeito nenhum. Bom, eu não sei que efeito e utilidade te terá essa informação, mas, achei que devia saber.

Posteriormente àquela notícia, me coloquei ligeiramente de pé, determinado a baldar de Iva dizer "sim", sem nenhuma ideia de como o faria, mas ciente do meu querer, e eu queria Iva, estava cada vez mais claro, mais explícito. Eu dormia pensando em seu beijo e sonhava com ela. Ficava irado se a via falando com outro, como se ela fosse minha, só minha.

Troquei de roupa e peguei a chave do carro, abri a porta e fui surpreendido por meus pais chegando de malas nas mãos e me abraçando sufocadamente. Me arrastavam para trás e iam largando as bagagens pelo meio da casa.

- Mãe? Pai? O que os fez vir?

Perguntei, e meu pai respondeu, com graça:

- O avião. Hahahaha...!

- Mas, vocês não me avisaram de que viriam.

- Queríamos que fosse surpresa.

Disse minha mãe e acrescentou:

- Também não tínhamos certeza se o avião sairia mesmo hoje. O tempo mudou de repente.

- Bom, eu estou muito feliz por vocês estarem aqui, mas tenho que...

- Venha ver o que trouxemos para você.

Minha mãe me puxou pelo braço e meu pai ia abrindo a mala, ao passo que eu olhava aflito para a porta, da qual eu ia me afastando.

- Temos tanta coisa para te contar, filho... Ah, eu e sua mãe fizemos um álbum com todas as fotos de nossos passeios turísticos.

Disse meu pai, abrindo o primeiro bolso da mala retirando o álbum.

- Veja, ess aqui foi na Austrália. Faz o maior calorão lá. Essa outra foi num parque aquático da Holanda...

- Puxa, que legal, mas eu preciso ir...

- Olha, esse aqui é o zoológico de Mahatma...

Eu tentava me alegrar com tudo aquilo, sim, era bom ter meus pais ali em casa... Mas, a qualquer momento, Iva estaria a um passo de talvez aceitar o pedido de namoro de Marcelo, e eu estava ali, preso, perturbado. E o que eu poderia fazer?

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 25/11/2015
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