ELE ME ODEIA - capítulo XXVI

Enquanto Iva buscava os utencílios de socorros, desacatei sua ordem e me atrevi a entrar na casa. Iva estava na cozinha e o tio dela mesmamente, ouvi eles trocarem algumas palavras, mas permaneci ali na sala. Fiquei olhando um porta-retrato posto numa mesinha decorativa, Iva estava na foto, ao lado de um homem, que eu acreditava ser seu pai, visto que ambos tinham alguns traços semelhantes. Os dois sorriam.

- Eu disse para você esperar lá fora!

Murmurou Iva, extremamente apreensiva, trazendo-me um vidro de álcool e um tanto de algodão.

- Vai ser rápido. Seu tio nem vai precisar saber que ainda estou aqui.

Peguei os objetos das mãos de Iva, ao passo que ela olhava com tensão para a cozinha. Destampei o vidro de álcool e molhei o algodão, passando sobre o ferimento na boca.

- Ai!

Reclamei de dor e Iva pediu meu sigilo, então aguentei, dolorosamente. De repente, ela disse:

- Ah não, ele está saindo da cozinha! Rápido, se esconda.

- Onde?

Perguntei, procurando de um lado para o outro onde me enfiar. Então me agachei atrás do sofá e o desgramado parou ao pé da escada e disse para Iva:

- Vou me deitar, ver se consigo dormir. Vá você também.

- Tá, eu vou daqui a pouco.

Iva falou, mirando-me atrás do móvel, disfarçadamente. Então seu tio subiu as escadas e foi para o quarto. Me ergui e Iva disse:

- Rápido, você tem que sair logo daqui.

- Mas eu ainda estou sangrando!

- Então ande depressa!

Ela vigiava a escada e eu me sentei no sofá. Molhei mais um pedaço de algodão. Falei:

- Me ajuda aqui?

- Não sabe fazer isso sozinho?

- Minha barriga está doendo, com o soco que seu tio me deu.

Fiz uma cara de quem sentia muita dor e Iva revirou os olhos, rendendo-se mais uma vez e sentando ao meu lado, ajudando-me a secar o sangue.

- Ai...

- Fica quieto, ou vai doer mais.

Ela passava o algodão no lado de minha boca e eu mordia os lábios, porém, já nem doía tanto, mas eu adorava me fazer de dengoso.

- Devagar, Iva...

- Sua sorte foi que meu tio não estava armado.

- Aí seria covardia, eu também não estava armado... Aí!

- Shiii...

- Iva?

- O quê?

Aproximei bem meu rosto ao dela e minha boca estava bem perto da sua, meus lábios brincavam passeando e tentando tocar os dela.

- Sai, Dante...

- Seca meu ferimento...

- É o que estou tentando fazer!

- Mas com seus lábios molhados.

Me esquivei para cima de Iva, o que a fez deitar um pouco sobre o sofá e agora estava presa.

- Dante, sai...

- Cuida de mim...

Falei, tentando sentir sua boca, procurando seu beijo, mas ela tentava me afastar, com fraqueza e dizia, ofegante:

- Você é louco? Meu tio

pode descer e te ver aqui! Então vai te matar.

- Se ele me matar, você também morre, porque me ama, morre de amor por mim. Eu sei que sim.

Deslizei meus lábios no queixo de Iva e ela beijou minha boca, mordeu meus lábios cortados e ainda com um pouco de sangue, me machucando um pouco, no que gemi.

- Desculpa...

Ela disse, e me puxava para mais perto, deslizando sua mão em meu peito e depois em minha nuca. Eu já estava ficando louco, meu corpo estava suando... Quando, espantosamente, ouvimos o ranger da escada, levantei o rosto e Iva se ergueu depressa, o tio dela estava descendo as escadas. Ficamos imóveis, pasmados! Só quando ele desceu o último degrau, foi que Iva disse:

- Tio, eu posso explicar, calma...

Me levantei do sofá e falei para Iva:

- Espera, espera...

Fiquei de frente ao indivíduo e passei a mão na frente do rosto dele, então falei:

- Ele está dormindo!

Iva também se aproximou e observou-o de perto, dizendo:

- É mesmo.

- Seu tio é sonâmbulo? Puxa, Paloma vai adorar saber disso. E como será que ele volta para o quarto?

- Ele não volta. Está explicado as tantas vezes que ele amanheceu no sofá. Dante, agora você precisa ir embora.

- Tudo bem, eu vou. Percebo que você está com o coração já saindo pela boca. Mas... Eu não disse nada do que queria ter te dito...

- Amanhã conversamos, está bom assim?

- Está bem.

Disse eu, sorrindo, e me aproximei de Iva para lhe dar um beijo de despedida, beijei-a na bochecha e fui deslizando até sua boca, mas ela se afastou e disse:

- Tchau...

Ela me acompanhou até a porta, a fitei pela última vez, de um jeito que nunca havia a fitando antes e, segurando a porta, eu ainda disse-lhe:

- Promete pra mim que não vai aceitar o pedido de Marcelo.

Iva me olhou de um modo aflito, e falou:

- Amanhã conversaremos. Tchau...

Ela pensava em fechar a porta, contudo, tentei beijá-la mais uma vez, me esquivando e ela recuando.

- Só mais um beijo...

- Não... Dante!

A puxei pela cintura e arranquei-lhe um beijo apetitoso, almejando mais, querendo estar de volta dentro da casa com ela e talvez subir aquelas escadas...

- Chega.

Iva disse, apartando-se de mim e, devagarinho, foi fechando a porta.

[IVA]:

Meu Deus, aquilo parecia mais ter sido um sonho, Dante esteve na minha casa e me beijou! Na minha casa! Me beijou! Eu ainda permanecia de frente à porta, suspirando de paixão, foi quando me assustei com um barulho na cozinha e, ao me virar, vi que tio Ricardo não mais estava ali, então corri para procurá-lo e ele estava caído no pé do armário da cozinha, já despertado, e esfregava a testa com uma vermelhidão. Estava ainda inconsciente.

- Tio?

- Ai...

- O senhor está bem?

- O que eu estou fazendo aqui na cozinha?

- Eu que pergunto!

O ajudei a se levantar e ele se sentou na cadeira da mesa, enquanto eu lhe servia um copo d'água. "espero que a pancada tenha o feito esquecer de tudo o que se passou naquela noite" pensava eu, me sentando ao lado de meu tio. Após beber da água e recuperar-se da temporária amnézia d'um despertar de um sono pesado, ele fitou-me esquisitamente, e perguntou:

- E você o que faz ainda acordada?

- Eu... Eu acordei com o baque que ouvi e vim ver o que era, então encontrei o senhor aí caído.

- Mas você nem está de pijama.

- Bom... Vamos dormir? Temos que acordar cedo.

À medida que subíamos os degraus da escada, tio Ricardo falava:

- Quando eu ver aquele carrapato amanhã na empresa, vou ter uma boa conversinha com ele.

Eu sabia que quando tio Ricardo dizia "carrapato" estava referindo-se a Dante, embora ele não parecesse nada com um carrapato, talvez com um anjo Querubim ou com algo tão belo. Então me amedrontei, antevia que muitas afrontas estavam ainda por vir, posto que dia após dia tio Ricardo e Dante se esbarrariam na empresa e dessa vez já não seria a polícia que cuidaria do caso, mas sim as forças armadas do Exército.

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 23/11/2015
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