ELE ME ODEIA - capítulo XXV
[DANTE]:
Quando cheguei em casa naquela noite, tomei um banho refrescante e jantei, àquela moda solitária. A cadeira vazia em minha frente era o lugar reservado da solidão. A comida no prato era desprezada, não tinha sabor, porquanto meus pensamentos em Iva não permitiam-me reconhecer o gosto do que eu mastigava. Sem ter o que fazer, depois de tanto ter procurado por toda a casa, fui para o quarto e me lancei na cama, ainda às 19:30. Meu celular estava ao meu lado e veio-me à tona um vasto anseio de ligar para Iva. Busquei o nome dela na lista de contatos e fiz a chamada. Demorou um pouco e eu já imaginava que Iva não queria me atender, até que atendeu.
- Alô?
- Iva?
- O que você quer, Dante?
- Está chateada comigo, não é? Eu sei, mas Paloma já deve ter te contado alguma coisa.
- Contou sim, mas eu não acreditei em nada. E se fosse mesmo verdade, você mesmo teria me dito, mas nem coragem de me encarar você teve.
- Então o problema é esse?
- Hum.
- É isso que te encomoda? Tudo bem, entendi...
- Eu sinto muito, mas vou ter que desligar, tenho mais o que fazer.
Iva desligou. Posto isso, me levantei da cama, com afoiteza, peguei meu casaco no cabide e vesti. Apanhei as chaves do carro na estante da sala e abri a porta, trancando-a por fora. Lá fora fazia muito frio, o que eu já imaginava, era começo de inverno. Liguei o carro e saí rumo à casa de Iva, que ficava um pouco distante dali. Chegando lá, desci do carro e andei até a porta da casa. Toquei a campainha. Enquanto eu esperava alguém abrir a porta, ouvi a voz do tio de Iva, gritando que ia atender. A porta se abriu e a recepção não foi nada agradável, meus pés nem passaram da porta, visto que o tio de Iva já me afastava com seu olhar raivoso.
- O que você está fazendo aqui?
- Vim falar com Iva.
- Já disse que queria você bem longe dela! Suma daqui, se não quiser levar outro soco.
- Eu só apanhei porque você me pegou despreparado, mas dessa vez vai ser diferente.
- Está me provocando?
- Eu só quero falar com Iva, não vim afim de brigar com ninguém. A não ser que não me reste opção.
De repente, Iva apareceu na porta e me fitou abismada, ao passo que o tio afastava-a.
- Dante?
Disse Iva, e eu falei:
- Iva, agora estou aqui na sua frente e vou falar tudo o que penso!
- Dante, vai embora...
- Não, não vou embora sem antes falar com você.
Quando tentei me aproximar de Iva, seu tio me empurrou e disse mais uma vez para eu me ir, mas eu estava disposto a enfrentá-lo.
- Por favor, Iva, me deixa falar com você.
Falei, e novamente fui arrastado até meu carro pelo desgraçado do tio de Iva, no quando gritei:
- Marcelo não vai namorar com você! Eu não vou permitir!
O tio de Iva virou-se para ela e, intrigado, perguntou:
- Do que ele está falando?
E Iva, mirando-me, com seus olhos assustados, respondeu:
- Eu não sei, não sei do que ele está falando.
Eu já havia dado as costas, mas, virei-me repentinamente e caminhei de volta até a porta, despertando fúria no coroa que barrava a entrada.
- Já perdi minha paciência...
Ele disse, preparando o punho para me golpear, mas me esquivei e o acertei com um soco no queixo. Em sequência, fui atingindo com um soco na barriga e me encolhi de dor, recebendo mais um soco no rosto, mas recuperei-me e me pús de pé, partindo para cima do infeliz e nisso, Iva falava, em desespero:
- Parem com isso, por favor! Alguém me ajude!
O tio de Iva me empurrou contra o carro e ia me dar mais um soco, mas me desviei e ele acertou o vidro do carro, mais um prejuízo para ele, ou para mim! Repentinamente, vimos uma viatura da polícia se aproximar e parar bem ao lado, o tio de Iva virou o rosto para ela e, inconformado, perguntou:
- Você chamou a polícia?
E Iva respondeu, atônita:
- Não.
Vimos o vizinho ir até os policiais e, apontando para nós dois, ele disse:
- Ali estão, policial, eram aqueles dois ali.
Em sequência, o policial se aproximou de nós, com sua arma e cassetete na cintura, e falou:
- Nos ligaram aqui da vizinhança reclamando de que vocês dois estavam discutindo e brigando e por isso não conseguiam descansar. Qual o motivo da briga?
Me coloquei à frente para responder:
- Foi ele quem começou a briga, eu só vim falar com a sobrinha desse Diabo da Tasmânia.
O tio de Iva virou-se irado para mim e perguntou:
- Quem você chamou de Diabo da Tasmânia?
- Você, ora!
- Eu avisei para ficar longe dela!
- E por acaso você é meu pai pra ficar me dando ordens?
E já estávamos quase iniciando uma nova briga, mas o policial se colocou no meio e falou:
- Parem já com isso, se não quiserem apodrecer na cadeia!
Iva, com a doçura de sua voz e seu olhar piedoso, disse para o policial:
- Não, não será preciso! Essa briga já acabou e não vai mais acontecer, não é, tio? Dante?
Assentimos, em farsa, e o policial disse, por fim:
- É bom mesmo. Não quero ter que voltar aqui para prender os dois.
A viatura foi embora e à medida que eu analisava com a mão o ferimento em minha boca, o infeliz que me acertara, ou melhor dizendo, que eu deixei que me acertasse, em consideração de que já havia apanhado muito de mim, dizia-me:
- Isso ainda não acabou, ainda vai se ver comigo.
- Estou morrendo de medo.
Falei, em deboche, no que Iva nos fitou com reprovação e disse:
- A polícia acabou de sair daqui! Será que vai ser preciso chamá-la de novo? Vem, tio, vamos dar um jeito nesses ferimentos.
Sentindo-me excluso, no frio daquela noite e no arder das minhas feridas, olhei para Iva e perguntei:
- E eu, não mereço cuidados?
Iva me encarou com uma certa frieza, e disse:
- Com certeza deve estar se orgulhando por dentro, achando que bateu mais do que apanhou. Não deve estar tão machucado.
- É, eu admito. Mas, de qualquer forma, eu também apanhei.
- Bem feito.
- Iva, não diga isso...
- Você já causou confusão demais por aqui, é melhor que vá embora.
- Tudo bem, mas... Me dá ao menos um pouco de algodão e álcool para eu limpar os meus lábios.
Ela revirou os olhos e, com um ar de rendição, disse:
- Está bem... Mas espere aí fora.
- Ok.
Continua...