ELE ME ODEIA - capítulo XXIV
Deitada na cama, eu lia uma revista, mas as palavras não eram armazenadas em minha memória, em razão de que minha mente estava turva e eu havia queimado todos os meus neorônios apenas pensando em qual seria minha resposta para Marcelo. Se eu pensava em dizer "sim" vinha-me as lembranças do rosto lindo de Dante e do beijo, que por mais que Dante tivesse me magoado eu tinha que admitir que tinha sido bom e se eu pensava em dizer "não" para Marcelo, a raiva por Dante regressava ao meu coração e ele gritava por amor, implorava por cuidados. Visto isso, o que responder, se ambas escolhas teriam tais consequências? Eu estava num mato sem cachorro.
Aconteceu que, numa tardinha, depois de sair da empresa, Paloma disse que tinha algo muito importante para me contar e assim combinamos de nos encontrar na lanchonete. Depois de eu esperá-la mais de 20min na mesa da lanchonete, ela apareceu e se sentou de frente a mim.
- Por que você demorou tanto, Paloma?
- Eu... Estava conversando com seu tio.
- Humm... E como vão as coisas entre vocês? Por que ele nunca me conta, mesmo eu insistindo tanto.
- Muito bem! Ele me deu uma caixa de chocolates deliciosos e me convidou para o cinema.
- Aposto que você preferiu mais os chocolates do que o cinema.
(risos)
- Mas, não foi para falar sobre isso que te chamei aqui. Iva, você precisa saber de algo...
- O quê?
- Ontem, na hora da saída, eu tive uma conversa com Dante e ele me revelou algo que me surpreendeu.
- Paloma, se você veio aqui me falar de Dante...
- Não, me escuta, é importante.
Revirei os olhos e respirei fundo, desprezando Paloma e brincando com o canudo dentro da taça com limonada, enquanto ela dizia:
- Revoltada com o que Dante te fez, resolvi perguntar a ele quais as razões para agir daquela forma, brincando com seus sentimentos e sabe o que ele disse?
- Não sei e nem me importa saber.
- Ele disse que foi por puro orgulho, porque não tinha coragem de admitir que... Que está gostando de você.
Ergui o olhar para Paloma, estupefata, e fiquei em silêncio por um pequeno instante. Até que, por fim, falei:
- E você ainda acreditou nisso? Sinceramente, Paloma, eu pensei que você fosse mais esperta.
- Iva, ele não estava brincando! A gente percebe quando alguém está ou não sendo sincero e Dante me parecia ser bastante verdadeiro em tudo o que dizia.
- Será que ainda não percebeu, Paloma? Dante é expert em fingir, um completo ator! E eu não te culpo por ter acreditado nas falsas palavras dele, pois eu também caí nessas mentiras, mas não cairei mais.
- Iva, eu sei que o que Dante fez te machucou demais, mas você sempre foi louca por ele, o ama demais que eu sei! Por que não acredita nele?
- E por que ele mesmo não veio aqui me dizer isso? Mas nem isso ele é capaz de fazer.
- Você sabe como Dante é, cabeça dura, cheio de orgulho e também, ele não quer mais provocar seu tio.
- Unhum, sei...
- Iva, você sempre desejou que Dante sentisse algo por você e, agora que isso está acontecendo, você vai deixar passar?
- E o que você quer que eu faça? Que eu vá correndo para os braços dele e diga "meu amor, eu já esqueci tudo aquilo, fica comigo, eu te amo demais!"?
- Bem...
- Além disso, me falta muito pouco para me livrar dessa dor.
- Como assim?
- Marcelo me pediu em namoro.
- Como é? Marcelo te pediu em namoro? Marcelo?
- Sim, Marcelo.
Repentinamente, o semblante de Paloma mudou, seus olhos estavam assustados e miravam-me com incompreensão. Ela assim perguntou-me:
- E você aceitou?
- Ainda não dei a resposta.
- Mas... Já tem mais ou menos ideia do que...
- Pensei muito, muito mesmo e já me decidi, não quero alimentar mais nenhuma ilusão e nem carregar mais essa dor.
- Isso quer dizer...?
- Que vou aceitar o pedido de Marcelo.
- Iva, você não pode fazer isso!
- Ora, por que não?
- Porque... Porque Dante gosta de você!
- E?
- E você ama ele!
- Paloma, eu já me decidi e não vou voltar atrás. Hora de voltar para casa...
Me levantei e despedi-me de Paloma com um abraço, no quando ela disse por último:
- Por favor, amiga, pensa bem, porque se analisarmos direitinho, você e Dante só estão empatados.
[DANTE]:
Depois da conversa que tive com Paloma, muitos pensamentos meus mudaram, tive uma visão mais complexa da situação e mesmamente de minha imaturidade. Isso me levou a ansiar uma mudança em mim mesmo, porque eu já havia perdido Júlia bem antes de Iva me roubar aquele beijo, por causa de minhas mentiras que um dia seriam descobertas, e eu não queria enxergar isso. Além disso, também descobri em Júlia coisas amargas que eu desconhecia e isso só fez eu me afastar mais dela e querer me aproximar mais de Iva, visto que Iva me fazia mais bem, e eu não queria enxergar isso. Em mais um dia de trabalho, minhas observações continuavam, ali dentro da empresa havia uma cadeia não alimentar, mas observadora, o tio de Iva me observava, eu observava Marcelo e Marcelo observava Iva e algo me cheirava mal nessa história.
Durante o pequeno intervalo em que quem conseguiu beliscar algum lanche conseguiu e quem não conseguiu não conseguia mais, aproveitei para ir ao banheiro, foi nesse momento que Paloma me abordou de supetão e me empurrou para o corredor e segura de que ninguém passava por ali, ela falou-me em baixo tom:
- Olha, eu não estou querendo bancar a "amiguinha solidária" como Iva fez com você, mas em consideração a tudo que me revelou ontem e confiando corajosamente em você, estou lhe avisando de que, se pretende algo com Iva é melhor tomar logo alguma providência, pois Marcelo a pediu em namoro.
- O quê?
Perguntei, descrente, mas Paloma não mais me deu explicações e retornou à sua mesa. Nem mesmo eu tinha conhecimento do que eu pretendia, porém, na hora da saída, esperei Marcelo entrar no banheiro e fui ter com ele, o mesmo lavava as mãos na pia e eu apareci na porta e me encostei na parede, de braços cruzados, a fitá-lo.
- Então você pediu Iva em namoro?
Perguntei, e Marcelo me olhou, enxugou as mãos e respondeu:
- Pois é.
Dei uma risada, com um pouco de deboche, e falei:
- Você nunca sentiu nada por Iva, o que te levou a de repente inventar que está afim dela?
- Eu não inventei nada.
Me aproximei um pouco dele e coloquei as mãos nos bolsos, lançando-lhe um olhar contraditório, eu disse:
- Admita, só fez isso para me dar uma lição, não foi?
- Não, porque ao contrário de você eu não uso as pessoas. E por que você está tão encomodado com isso? Tudo o que fez foi odiar Iva. Ah, já sei... Está chateado porque agora não terá mais com quem brincar! Bom, eu sinto muito.
Marcelo sorriu de uma forma irônica e deu as costas, foi aí que o virei para mim e falei bem de frente à sua cara:
- E você acha mesmo que Iva vai querer alguma coisa com você? Ela é louca por mim, me ama.
- Eu sei. Mas há algo que você esquece de mencionar...
- O quê?
- Por mais grande que seja o amor que Iva sente por você, ela procura agora alguém que a faça feliz. Em algum momento você consegue imaginar que todo o seu ódio e mau caráter a trará alguma felicidade? Abre o olho, Iva não precisa de um ogro, ela quer um homem de verdade e você fica sobrando.
Eu senti demasiada raiva e minha mão estava coçando para dar um murro na cara de Marcelo, mas o deixei ir desta vez, só desta vez.
Continua...