ELE ME ODEIA - capítulo XXIII

[DANTE]:

Cheguei em casa furioso, ter levado um soco do tio de Iva não foi o pior, mas não ter reagido foi o que me tornou um covarde e em tanta revolta, lancei vidros e objetos no chão, me sentei no sofá e parei para pensar um pouco, embora eu não gostasse de pensar, porque pensar requer paciência, coisa que eu nunca tive. Posto isso, não tardei a levantar e me servir de um pouco de vinho, eu odiava vinho, mas meu pai trouxe do Canadá e eu os guardei ali todo esse tempo. Liguei o rádio e sintonizei numa música que só piorava o meu estado emotivo, dizia sobre um tal alguém que se foi a chorar lembrando de um amor que não cuidou. Comecei a viajar em meus pensamentos que ficavam mais altos do que a canção e me levavam para longe... Depois veio o sintoma do cansaço, o sono. Fui para o quarto e tomei uma ducha, sem fome, tentei dormir um pouco.

No trabalho tudo se tornava um caos, além de ter que perdurar a observação do idiota do tio de Iva, eu ainda era obrigado a assistir as gracinhas mais sem graças de Marcelo para com Iva, o traidor agora só vivia conversando com ela e me tratava como um inimigo, o que para mim não fazia diferença, com ou sem ele minha vida era a mesma. Só tentei fazer meu trabalho com calma e concentração, evitando me distrair com o que acontecia ao meu redor. Depois que todos foram embora e eu estava ali sozinho, sentado em meu canto a refletir, Paloma saiu do banheiro e ali me viu, aproximou-se de mim e eu já podia prever o que ela me diria... Falou:

- Você é mesmo um idiota, Dante, soube do que fez com Iva e pelo visto você gosta bastante de brincar com o coração das pessoas!

Nem respondi nada, a última coisa que eu desejava era dar atenção aos xingamentos de alguém, portanto, fiquei em sigilo.

- Dante, eu estou falando com você! Dante?

Perturbado, olhei para ela e tive que dizer alguma coisa:

- Tá, eu já sei, já entendi! Sou um idiota, um canalha, desgraçado... Mas alguma coisa?

Paloma se encostou na cabine e eu baixei a cabeça, passei as mãos nos cabelos e ela disse, num tom mais manso:

- Dante, olha pra mim...

Levantei devagar a cabeça e franzi o cenho, então ela continuou:

- O que realmente está se passando com você?

- Como assim?

- Você dizia que era louco por essa tal de Júlia e depois começou a provocar Iva com seus beijos... Por que está agindo assim?

Calado, meus olhos paralisaram e eu procurava dentro de mim o que eu tinha precisão de dize. Alguns instantes depois, finalmente encontrei as palavras e, um pouco perdido, eu disse:

- Eu não sei o que me faz tomar essas atiudes, Iva tentou me ajudar o máximo que pode a reconquistar Júlia e, ainda assim, quis maltratá-la, quis que pagasse com a mesma dor que senti. Mas, parando para refletir, acho que já não tinha ódio dela...

- Então o quê?

- Acho que meu coração tem medo, não quer admitir que estou gostando de Iva.

- Você está... Gostando de Iva?

- Pode ser. Sempre pedia para ela não relembrar de nada, mas eu que falhei, fiquei relembrando nosso beijo... Eu não queria, mas vinha à tona em minha mente! Até quando eu me deitava para dormir, repentinamente, imaginava Iva, nem mais pensava no quanto um dia me preocupei em ter Júlia, só lembrava de como me sentia calmo ao lado de Iva. O caso é que eu nunca quis acreditar nisso, por razão de que um dia ela me enfureceu. Mas a raiva passou... Só não o meu orgulho.

Paloma estava boquiaberta e me dava total atenção, como uma perfeita psicóloga, assim eu ia revelando as palavras escondidas nas minhas entranhas, sem tensão, nem timidez.

- Você já pensou em dizer isso para Iva?

- Não sei... Talvez não seja o que eu precise.

- Dante, Iva é completamente apaixonada por você e, se ela tentou te reaproximar de Júlia foi por amor à você, porque queria te ver feliz! Não é a toa que ela nem se preocupava em ter seu perdão.

Abri um curto sorriso, sem nenhuma concordância e emudeci. Paloma se aproximou mais de mim e com um olhar cheio de brilho, questionou-me:

- Me diz, o que você sentiu quando beijou Iva?

Franzi o cenho e dei uma risada, logo respondi:

- Algo normal.

- Algo normal? Vai, Dante, pode falar a verdade.

- Que verdade?

- Vai, pode se abrir comigo, eu não conto pra ninguém!

- Tá, eu senti uma sensação gostosa e empolgante. Satisfeita?

- Hummm...

Paloma me fitava com graça e eu disse sorriso:

- Que foi? É normal a gente sentir isso durante um beijo.

- Nem sempre, só mais quando a pessoa que beijamos mexe com o coração da gente.

- Mas ainda não estou certo do que estou sentindo, é tudo muito confuso... Também não posso te dizer que arranquei de vez Júlia da minha cabeça e estou apaixonado por Iva, porque eu estaria mentindo.

- Hhmm... Entendo, mas espero que você logo descubra que sentimento é esse dentro de você. Tente observar Iva, o que as ações dela causam em você e comparar os momentos que passou junto a ela e os que passou junto a Júlia, descobrindo quais lhe trouxeram mais paz.

Paloma punha-se de pé e colocou sua bolsa no braço, dizendo:

- Bom, já estou indo... Pense bem em tudo o que conversamos aqui.

Assenti para ela e lhe beijei na bochecha. Havíamos conversado tanto que nem vimos o tempo passar, porém, a conversa foi boa, me fez refletir mais sobre tudo e, principalmente, ajudou-me a enxergar certas coisas tão valiosas que eu vinha desprezando.

[IVA]:

Reservei todo o meu tempo passado em casa para pensar no pedido de Marcelo, eu já o conhecia há algum tempo, ele sempre andava com Dante e era uma boa pessoa, todavía, eu nunca o enxerguei além de um amigo, o que complicava minha decisão. Visto isso, foi necessário recorrer a mais um dos famosos conselhos de meu tio. Cheguei até ele, este estava preparando um desastroso omelete, e falei:

- Tio, a irmã de um amigo meu foi pedida em namoro por um cara que é super gente boa e garante que pode a fazer muito feliz, porém, ela nunca sentiu nada por ele se não amor de amigo, mas também está passando por muitas decepções amorosas e almeja viver novas alegrias. Acha que ela deveria dar uma chance a ele?

Tio Ricardo despejou o omelete no prato e ainda se queimou com o óleo. Então disse, sacudindo a mão:

- Depende.

- Do quê?

- Do que o cara realmente sinta por ela, porque ele pode muito bem estar mentindo para ela, se fazendo de bonzinho, quando pode ser que esteja só querendo se aproveitar da moça. Mas também depende do que tenha ocasionado essas decepções amorosas à moça, porque se foi um amor muito forte que ela sentia pode ser que ela não consiga o esquecer e, se aceitar o pedido de namoro, pode ser que esteja apenas querendo usar o rapaz para esquecer o outro, o que não é uma coisa boa.

- Então... O que seria mais ideal ela fazer?

- O melhor é procurar mais informações sobre esse cara, inclusive sobre seu passado, para saber se ele poderá mesmo ser bom para com ela. E também pensar bastante antes de dar a resposta.

- Entendi...

Tio Ricardo repartiu o omelete que jorrava óleo e ofereceu-me.

- Está servida?

- Hããã... Não, obrigada.

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 19/11/2015
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