ELE ME ODEIA - capítulo XXI

[DANTE]

Pronto para mais um dia de trabalho cheguei na empresa, um pouco mais adiantado do que o normal. Naquele meio tempo, fiquei a observar de longe o comportamento de Iva, ela estava a rir constantemente, transmitindo seu bom humor aos amigos e eu já sabia porquê, era o efeito prolongado do beijo que a fazia sentir-se tão feliz. Aproximei-me dela, à medida que me recebia com os olhos e murmurei, próximo ao seu ovido:

- Seus lábios ficam tentadores com esse batom cor cereja.

Notei como Iva paralisou e arregalou os olhos, então fui até a porta da empresa, dei uma olhadinha na rua e voltei para minha mesa, onde estava Marcelo, meneando a cabeça negativamente para mim.

- Que foi?

Perguntei para ele, rindo, mas este nada disse. Na hora de sair, fui ao bebedouro tomar um pouco d'água e Marcelo me acompanhou, veio então dizendo-me:

- Cara, você não acha que está provocando demais Iva?

Olhei para ele, com gozação e falei:

- Só quero brincar um pouco com ela. Está sendo divertido, ela gosta do que eu faço, deixa ela se iludir um pouco.

Eu sorria, mas percebi que Marcelo olhava para além de mim, pasmo, no que me virei e vi Iva parada a me fitar com um olhar negro.

- Oi, Iva...

Eu disse, desmanchando aos poucos aquele sorriso sarcástico e Iva se aproximou de mim e me deu um tapa, revoltada, e vociferou:

- Você é um idiota, Dante! Um idiota! Desgraçado! Ordinário!

Ela saiu correndo e eu gritei:

- Iva!

Mas nem me dispus a ir atrás dela, com isso, me disse Marcelo:

- Bem feito, você mereceu essa.

[IVA]

Eu sentia uma raiva tão imensa dentro de mim que transbordava pelos meus olhos. Passei correndo por tio Ricardo e Paloma, que conversavam, chamando a atenção de ambos.

- Iva!

Gritou meu tio e Paloma foi ter comigo, me alcançou quando eu parei para pegar um táxi.

- Iva, o que foi? O que aconteceu?

E eu disse, a chorar:

- Dante brincou comigo, Paloma! Me enganou!

- Como assim? O que ele fez?

- Só queria me provocar, me deixar louca, para que eu me iludisse e depois ele risse da minha cara!

- Eu não acredito nisso...

Enxuguei minhas lágrimas, determinada a não mais chorar, porque a raiva era seca e profunda. Nisso, falei:

- E quer saber? Agora eu percebo como fui idiota todo esse tempo, me preocupando em consertar a vidinha amorosa de Dante! Eu quero é mais que ele se exploda e pouco me importa o que aconteça ou não entre ele e Júlia, tomara que ela nunca o perdoe! Nunca!

- Por que você não conta tudo para seu tio? Assim ele dá uma boa lição a Dante.

- Não, melhor deixar isso quieto. E agora eu já sei quem Dante realmente é, só sendo burra demais para cair novamente nas brincadeiras dele.

- Hum.

- Agora, por favor, não conta isso ao meu tio, ele pode acabar criando uma confusão maior e comprometendo todos na empresa. Deixa que eu me explico, invento qualquer coisa.

- Ok.

Em casa, sentada no sofá, desprezando a programação na TV, eu refletia sobre tudo e meus pensamentos era a minha perturbação. Tio Ricardo chegou, mas eu não estava com ânimo algum para recebê-lo na porta, o que o levou a estranhar.

- Por que você saiu correndo da empresa, Iva? Perguntei a Paloma o que foi, mas ela não me respondeu.

- Só estava com muita dor de cabeça e queria chegar depressa em casa.

- Então só foi isso? Não, não estou convencido.

- Vou deitar um pouco.

- Sem jantar?

- Estou sem fome.

Me tranquei no quarto e perdida debaixo dos lençois chorei toda minha dor, porquanto eu queria descarregá-la de mim e não ter que senti-la mais um dia, todavía, aquilo duraria toda a noite, já que me era demasiadamente grande a tristeza. A única coisa que me pacificava naquele instante era saber que nos próximos dois dias eu teria folga e não precisaria olhar para Dante.

Aproveitei o sábado livre para visitar minha avó Esmeralda, mas desta vez fui sozinha, já que meu tio estava na empresa. Chegando na casa de ajuda psiquiátrica, me avisaram de que minha avó estava a passear do outro lado e eu fui procurá-la, quando ela me viu sorriu, com seu olhar tão acolhedor e com a doçura de seu sorriso. Me alegrei e senti-me à vontade para chegar ao seu lado, ela mexeu em meus cabelos e, carinhosamente, disse:

- Amanda, querida... Quanto tempo não a vejo!

Meu olhar empalideceu e, lamentavelmente, tive de lembrá-la mais uma vez:

- Não, vó, sou Iva, Iva.

- Então, onde está Amanda? Ela não veio com você?

Não suportei a amargura e chorei ali em seus braços, enquanto era acarinhada por suas mãos frágeis.

- Por que a senhora não lembra de mim? Por quê?

De volta em casa, liguei para meu pai para matar a saudade que dele eu sentia, conversamos por horas, sobre coisas boas, eu o prevenia de discernir meu estado abatido e poupava quaisquer evidências dos maus acontecidos, então não falávamos de coisas ruins. Eu sentia muito a sua falta e gostaria que estivesse perto de mim, do mesmo modo acontecia com meu pai e por essa razão num ou noutro momento ele sugeria-me a ideia de ir morar com ele em Nova York e analisada a decepção que eu estava ali passando, faltou-me pouco para aceitar.

Passado aquele final de semana e de volta ao trabalho, eu decidi defrontar tudo de forma engenhosa e não me deixar levar nem me distrair com qualquer olhar e presença, pois eu continuava irada. Dante acabara de chegar, eu não o olhei, mas seu perfume inconfundível dizia-me que ele estava chegando. Fiz de tudo para não percebê-lo, só ouvi seus passos por trás de mim e logo se afastarem, só ouvi sua voz em conversas e durante todo o trabalho, o que era impossível evitar. Fiquei agradecida quando Paloma veio me contar como foi o encontro com meu tio e assim me apartou dos pensamentos pesados e daquelas distrações indesejáveis.

- Ele foi tão romântico e educado... Me arrependo de ter o julgado de coisas tão cruéis.

- Meu tio é boa pessoa, ele sabe como tratar uma mulher.

- E você, ainda muito furiosa com Dante?

- Não... Só tenho vontade de estrangulá-lo e arrancar seus olhos fora. Mas não tenho raiva dele, não... Jamais.

- E o que pretende fazer agora?

- Esquecê-lo, arrancar as lembranças dele de mim, sem deixar nenhum vestígio desse sentimento.

- Sabe que isso não vai ser fácil, não sabe?

- Eu sei... Mas estou disposta a este desafio e com a raiva que sinto talvez não seja tão difícil.

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 17/11/2015
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