ELE ME ODEIA - capítulo XIX
Em casa eu cheguei, com as boas lembranças daquele dia, lembranças do toque de Dante ainda em mim e de seus olhos tão vidrados nos meus à medida que conversava comigo. Joguei a bolsa no sofá, retirei os sapatos e os larguei no meio da sala, caminhei a cantar exultante até a cozinha e abri a geladeira, de modo que um sopro frio revestiu meu rosto e trouxe à tona o que ainda me faltava consertar, o que causei e já estava me fazendo por esquecida. Há quantos dias eu gozava das minhas conquistas e ignorava a tristeza que Dante disfarçava, mas que eu sabia que ainda existia nele e que era imensa? À vista disso, tornava os pensamentos ruins e eu já estava novamente me culpando. E era sempre assim, minha felicidade tinha que ser interrompida pelos meus erros, que motivavam meu eu a dar logo um jeito na situação, mas, o que poderia eu fazer? Se de tudo já havia tentado e de nada adiantou? "preciso pensar em algo, fazer alguma coisa..." pensava eu, enquanto sentada na mesa e ali acabei adormecendo.
- Iva... Iva...
Abri os olhos e meu tio estava na minha frente. Levantei o rosto da mesa e uma terrível dor no pescoço senti, minhas costas também doíam e, desorientada, perguntei a tio Ricardo:
- Que horas são?
E ele respondeu:
- Sete em ponto. Você dormiu na mesa?
- Acho que sim...
- Está com fome? Vou pedir uma pizza.
Eu assenti e ele telefonou para a pizzaria e enquanto a pizza não chegava, subi para tomar uma ducha e quem sabe me livrar do sono que já se adiantava. Quando saí do banho, vesti-me e já ia descer para comer a pizza, quando, repentinamente, o celular tocou. Peguei-o em cima do criado-mudo e vi o nome de Dante na tela. Meu coração acelerou e me apressei para atender...
- Alô?
- É a Iva?
- Ela mesma, pois não?
- Boa noite, Iva... Reconhece quem é?
- Dante?
- Acertou.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, não aconteceu nada, só... Me deu vontade de conversar com alguém, e o seu nome era o mais próximo da lista, então...
- Você... Quer conversar?
- Está ocupada?
- Não! Eu estava até de bobeira mesmo!
- Que bom... E tem alguém aí com você?
- Não, meu tio está lá embaixo.
- Hummm... E você está aonde?
- No meu quarto.
- Hhmmm... Também estou em casa, está o maior tédio aqui. Se ao menos meu cachorro falasse comigo... Mas ele só late.
- É, dá para ouvir (riso).
- Você saiu depressa da empresa... Eu queria ter falado com você, mas você já tinha ido embora.
- Ah, é?
Me bati de indignação, por que fui sair com tanta pressa? Eu disse, ao celular:
- Desculpa, é que Paloma estava faminta e queria que fóssemos logo para a lanchonete.
- Só mesmo a gulosa da Paloma.
- Mas, o que você queria me dizer? Era algo muito importante? Alguma...
- Não... Nada demais...
- Hummm...
Meus olhos entristeceram e meus ombros caíram, só eu para ter tanta má sorte! Dante então disse, do outro lado da linha:
- A gente poderia conversar amanhã?
Para que lamentar tanto? Eu já estava sorrindo outra vez e nem demorei para responder, falei:
- Sim, claro!
- Ok, então. Tenha uma boa noite.
- Você também.
- Tchau.
- Tchau...
Esperei ele desligar para começar a dar pulos de alegria. Estava tão feliz que até a fome havia passado! Com certeza, naquela noite, eu teria sonhos maravilhosos. Ilusão...Acabei sonhando que eu estava perdida num planeta feito de pizza e Dante era uma azeitona de olhos verdes.
Depois de acordar de um sonho tão estranho, vi que já estava atrasada e levantei-me rapidamente, foi aí que a barriga roncou e me lembrei de que nada havia comido durante a noite inteira. Me arrumei e desci para a cozinha e meu tio já estava terminando seu café.
- Você está atrasada, Iva.
- Eu sei... Por que não me acordou?
Falei, sentando-me à mesa e servindo-me. E tio Ricardo respondeu:
- Você estava num sono tão pesado que achei melhor não acordá-la.
- Pois era melhor que tivesse acordado.
Após aquele rápido café da manhã, fomos para a empresa, assim que descemos do carro Paloma ia chegando de táxi e tio Ricardo já grudou os olhos nela, no que eu lhe dei uma cotovelada, mas, era inútil... Ele esperou Paloma descer do carro e foi cumprimentá-la, assim eles foram caminhando e conversando e eu fui deixada para trás. Estava perdendo minha amiga para meu tio!
[DANTE]:
Já no finalzinho daquele dia de trabalho, quando todo mundo estava já indo embora, abandonei meu lugar e fui ao encontro de Iva. Ela estava arrumando suas coisas, quando lhe dei um susto, ela me olhou e sorriu, disse:
- Oi, Dante.
- Oi...
- Eu pensei que já tivesse ido.
- Eu disse que íamos conversar, não disse?
- É, disse.
Olhei para o lado e o tio de Iva estava na entrada da empresa e batia papo com Paloma, então falei:
- Seu tio é mesmo bem prestativo ao trabalho, não é? Vigia pra caramba.
- Mas ele vigia mesmo! Não posso me mover daqui para o banheiro que ele já prega os olhos em mim.
- Humm... Sério? Ele pega tanto assim no seu pé?
- Hum, você não viu nada.
- Hhmmm...
Com provocação, abracei de surpresa Iva por trás e ela, de imediato, ficou tensa e sua pele arrepiada por um frio de paixão. Ela então disse, num tom dengoso e ao mesmo tempo nervosa:
- Dante...
Aproximei meu rosto do ouvido dela e perguntei:
- O quê?
- O que você está fazendo?
- Você não está gostando?
Ela ficou calada por um instante, enquanto eu mordia a ponta de sua orelha e puxava seu corpo mais para perto, posto que ela ainda estava de costas para mim. Assim ela disse:
- É que... Meu tio está ali e...
Olhei para o lado e depois voltei a beijar seu pescoço, soprei em seu ouvido:
-Ele não está olhando... Está muito entretido com Paloma.
Percebi que Iva estava suspirando e muito tensa, quis provocá-la mais e comecei a beijar todo seu pescoço, com beijos molhados e ela voltou a dizer, quase sem voz:
- Dante... Meu tio vai me matar se...
Ela virou-se de frente para mim e olhou para o lado, para assegurar-se de que não estávamos sendo vistos.
- Eu não posso...
Ela falou, empurrando mansamente sua mão contra meu peito, mas eu me lancei mais para perto dela e murmurei:
- Eu sei que você quer...
Iva me fitou com um olhar cheio de desejo e aproximei minha boca da sua e lhe beijei de um jeito gostoso, deixando-a sem ar e com ânsia de beijar-me mais. Ela estava adorando, claro, mordia meus lábios e deslizava sua mão na minha nuca e apertava meus cabelos. Deixei ela se aventurar na minha boca e enlouquecer, suspirar, delirar... Até que achou melhor pararmos, antes que seu tio visse a cena.
Continua...