ELE ME ODEIA - capítulo XVIII
Então, naquela manhã, fomos eu e meu tio no mesmo carro e para o mesmo lugar. Se eu soubesse antecipadamente do seu propósito eu teria pedido demição! Não... Eu não seria competente a me afastar de Dante... O melhor era levantar falsas sobre tio Ricardo, mas já era tarde para lamentar. Desci do carro, dei a volta e tentei impedir meu tio de abrir a porta e descer.
- Tchau, tio... Tchau!
- Deixe de brincadeira, Iva.
Ele desceu do carro, com seu uniforme maravilhoso de vigilante, e meu rosto desfaleceu. Fui caminhando na frente e me encontrei com Paloma, ela reparou minha expressão abatida e perguntou:
- Nossa, Iva, que cara é essa?
- Adivinha.
- Você viu Dante beijando outra garota!?
- Pior, meu tio vai ser o novo vigilante daqui.
- Está falando daquele seu tio que fez sua avó enlouquecer e entupiu seu avô de remédios errados?
- Paloma!
- Puxa... Então Alessandro saiu mesmo...
- Você soube o porquê?
- Dizem que Dante andou provocando demais o pobrezinho e ele não aguentou a pressão. Mas eu ainda acho que foi porque ele não conseguia manter os olhos bem abertos.
- Hhmmm...
- Pobrezinho... Se soubesse que deu lugar a um maléfico e torturador de idosos...
Olhei com reprovação para Paloma e tio Ricardo aproximou-se de nós, no que os olhinhos de Paloma brilharam e ela perguntou:
- Quem é esse?
- Ah, esse é o meu tio. Eu queria que não precisassem saber disso... Mas, fazer o que, né? É ele.
Puxei tio Ricardo pelo braço e o apresentei:
- Paloma, esse é meu tio. Meu tio, essa é Paloma.
Ele estendeu a mão para Paloma e, com um sorriso galanteador, disse:
- Prazer, Ridarco... digo, Ricardo!
- O prazer é todo meu...
- A senhorita é a melhor amiga de Iva, acertei?
- Sim... Como sabe?
- Ela fala muito sobre você e até foi jantar na sua casa ontem, não foi?
- Jantar?
Eu interrompi-os, com todo meu disfarce, e arrastei Paloma para dentro da empresa, é, foi preciso arrastá-la, pois estava pregada ao chão e seus olhos grudados em meu tio.
- Puxa... Ele é tão lindo, tão atraente, tão...
- Quem?
- Seu tio.
- Aaah... Pensei que ele fosse um maléfico e torturador...
- Quantos anos ele tem?
- Acho que 43, ou 44... Bom, dos 90 não passa!
- E ele é... Casado?
- Não, na verdade, ele nunca casou. Acho que nunca encontrou uma mulher que fosse louca o suficiente para gostar dele.
Falei sorrindo e Paloma suspirava de paixão. Meneei negativamente a cabeça e falei:
- Vocês mulheres são mesmo totais bobinhas! Ficam babando e sorrindo como tolas só ao ver um homem bonito e...
Dante chegou, com aquela camisa que eu amava vê-lo vestindo e seus olhos que combinavam tão bem com o tom de seus cabelos! E meus olhos se encheram de brilho, paralisei, fiquei boba e sorrindo como uma tola. Ele passou por mim e apertou minha cintura e sorriu, e eu, tão vermelha de vergonha, retrubuí com um outro sorriso. Paloma ficou com o queixo caído e me fitava com os olhos arregalados, mas eu estava surpresa do mesmo modo.
- Humm... Iva...
- Você viu o que ele fez, Paloma?
- Claro! Mas você não viu como ele mordeu os lábios.
- Mordeu? Digo... Deixa de bobagem.
- E eu não queria acreditar que vocês estavam se dando bem, mas isso já me convenceu.
Fomos nos sentar para iniciar o trabalho, até que tio Ricardo passou pelo corredor, chamando a atenção de Paloma e ela disse, se levantando e arrumando os cabelos:
- Eu já volto, vou... Tomar um pouco de ar.
Sorri. Mas meus pensamentos estavam em outro lugar, em outra pessoa... Eu ainda sentia o toque da mão de Dante em minha cintura e relembrava seus lábios sorrindo para mim, "preciso me concentrar no trabalho", eu repetia na mente. Num pequeno intervalo, aproveitei para beber um pouco d'água, embora eu não tivesse sede, mas Dante estava no bebedouro. Ele, como sempre, brigava com os copos e, mirando para mim - que ainda me levantava da cadeira - disse:
- Pode me dar uma ajudinha aqui, por favor?
Eu olhei de um lado para o outro e perguntei:
- Eu?
Dante assentiu e eu fui até lá. Ajudei-o a retirar o copo descartável, ao passo que ele dizia, com um sorriso inresistível:
- Eu sempre me atrapalho nessa parte.
Ele pegou o copo de minha mão e agradeceu. Mas antes de eu voltar para minha cabine, me perguntou:
- É verdade que o novo segurança da empresa é seu tio?
- É. Mas eu prefiro chamá-lo de RoboCop Enferrujado. Nunca vi alguém andar tão duro só por usar uma roupa de segurança.
(risos).
- E o que ele disse quando você chegou em casa ontem?
- Ficou furioso com a brincadeira que você fez ao celular. Tinha que ver a cara dele.
- Hahaha! Imagino...
Volta e meia Paloma regressa à cabine, com um sorriso de orelha a orelha e se senta. Fui até ela e perguntei:
- O que houve?
- Nada não...
- Hhmm... É melhor tomar cuidado com essas suas voltinhas, antes que acabem te dedurando para o chefe.
- Seu tio é tão charmoso, não é?
- ...
Paloma voltou ao trabalho e eu tive que fazer o mesmo, mas eu estava tão maravilhada que não tinha vontade de fazer nada mais, se não me inundar nos meus pensamentos felicitantes. Na hora de ir embora, quando eu saía com Paloma, tio Ricardo deixou escapar um "psiu". Eu arregalei os olhos e virei o rosto para ele e o mesmo acompanhava Paloma com um olhar de atração, depois olhei para Paloma e ela estava com um sorriso tímido e mais vermelha do que eu quando Dante tocou minha cintura. Pedi para Paloma apressar os passos e tio Ricardo me chamou, eu fui até ele e este perguntou-me:
- Aonde a senhorita vai?
- Fazer um lanche.
- Aonde?
- Ali na esquina.
- Que esquina?
- Nossa, está parecendo até que é meu pai. Não se preocupe, tio, eu não vou demorar...
- Como da última vez, não é?
Dei de ombros e ele me segurou pelo braço e sussurrou:
- Diga à sua amiga que ela tem um sorriso lindo.
Meneei negativamente a cabeça, o fitando com discórdia e falei:
- Está bem.
- É para falar mesmo.
- Tá!
Alcancei Paloma e fiz exatamente o que mandara meu tio, disse para ela:
- Você tem um sorriso lindo.
- Hã?
Fomos bater um papo na lanchonete da esquina, mas Paloma não se cansava de falar de meu tio e meus ouvidos já fumaçavam, querendo paz, sossêgo! Eu não podia crer que minha melhor amiga estava encantada com meu tio, isso era fatal! Porquanto eu a amava muito, era como uma irmã e eu não podia ter uma irmã como tia. Era a melhor explicação que eu tinha para mim mesma.
Continua...