ELE ME ODEIA - capítulo XVI

[DANTE]:

Um dia depois, no trabalho, eu estava tomando um gole do meu café, quando vi Iva chegar e ao contrário do que eu esperava ela aparentava estar muito bem e quando Paloma foi falar com ela Iva dizia tudo tão sorridente que cheguei a suspeitar que todo aquele encontro dela com Alessandro, que eu estraguei, não passara de um sonho. No entanto, quando parei num instante para refletir, me dei conta de que o que fiz não poderia ocasionar dor nenhuma em Iva, e sim o inverso, pois sendo ela já apaixonada por mim aquilo só fortaleceu mais seu sentimento. "que burro você é, hein, Dante!" pensei, e me levantei e fui até Iva. Falei para ela:

- Olá, Iva... Então, você e Alessandro...

- Acho que ele está chateado comigo.

- Puxa, que pena... Eu pensava que vocês iam se dar tão bem!

- Tudo bem...

Ela disse, sorrindo para mim, e eu estava surpreso com sua calmaria. Continuei:

- Ele estava mesmo interessado em você... Sinto que acabei estragando tudo.

- Você não teve culpa, Alessandro que é muito bobo.

Caramba! Será que nada do que fiz a irritou? E por que um beijo meu a irritaria? Quando eu saía da empresa, às 17:00h, antes de entrar no carro, algo chamou minha total atenção... Avistei de longe Júlia, ela estava atravessando a rua. Corri atrás dela o mais rápido que pude, empurrando as pessoas e depois de quase ser atropelado por alguém, alcancei-a e a puxei pelo braço, foi no quando ela me olhou e disse:

- Dante?

- Júlia, eu preciso falar com você.

- Dante, eu já disse que não há mais nada entre nós.

- Ainda há em mim! Por que é tão difícil você acreditar?

- Foi você quem tornou tudo difícil! Eu cheguei aqui com o meu coração pronto para você, na certeza de que você também estava preparado... Mas me enganei.

- Por que não me deixa explicar tudo? Por que não me dá esta chance? Se você tem o direito de me acusar, eu também tenho o direito de me defender.

-...

- Júlia, por favor...

Ela me fitou com hesitação, mas na minha insistência rendeu-se. Disse-me:

- Vou te dar uma última chance para me convencer, mas se não conseguir... Esqueça.

- Está bem.

- Me encontre hoje às sete da noite, no parque.

- Ok...

Me despedi, sem nenhum querer, de seus olhos azuis, mas pronto para abrir completamente meu coração naquela noite, lembrando-me de todas as dicas de Iva e comprei o mais belo buquê de rosas.

Às sete da noite eu já estava no parque aguardando Júlia. "é agora ou nunca" eu repetia para mim mesmo e lá vinha Júlia, linda, me hipnotizando com seu olhar, com sua boca irresistível... Aproximou-se de mim e todas as palavras gravadas na minha mente se embaralharam e eu precisava organizá-las depressa.

- Boa noite, Júlia...

- Boa noite.

Mostrei à ela o buquê e ela, observando-o, disse:

- São lindas, mas não as aceito por enquanto.

- Não estou querendo te comprar com nenhum presente. É de todo o coração, então aceite.

- Por que você não o dar à sua noiva? Com certeza ela...

- Iva não é minha noiva! Você entendeu errado...

- Bom, vamos nos sentar logo em algum lugar e resolver de uma vez por todas isso.

Nos sentamos num banco do parque e ali Júlia me deu a oportunidade de dizer tudo o que eu almejava dizer. Mas, no andar da conversa, por diversos momentos tive a impressão de estar falando sozinho... Júlia me desprezava e se concentrava nas coisas ao redor, outrora seu celular tocava e eu tinha que pausar as palavras para que ela pudesse conversar com a amiga e, quando desligava o celular era preciso eu repetir tudo de novo e mesmo assim, seus olhos ainda me desprezavam.

- Então é isso?

Júlia perguntou, quando terminei de falar.

- É.

- Então você não só mentiu sobre o teatro como também sobre seus pais morarem na Suíça e sobre seu amigo ter deficiência visual?

Me levantei revoltado do banco e vociferei:

- Sinceramente... Eu estou aqui te falando do quanto me arrependo, de como te amo, te explicando todos estes maus entendidos e você só chega à conclusão de que inventei algumas drogas de mentiras!? Será que nada mais te importa?

- Para mim já chega.

Júlia também se levantou e deu-me as costas, mas eu a segurei e falei:

- Vai fugir de novo? Não é forte suficiente pra enfrentar isso de cara?

- Me larga!

Soltei-a e, com um olhar cruel, ela completou:

- Estou farta.

Após deixá-la ir, joguei aquele buquê no chão, com toda minha raiva e voltei-me a sentar. Baixei a cabeça e passei a mão nos cabelos, havia fracassado, perdido minha última chance, sentia raiva e ao mesmo tempo tristeza. Era uma vez um final feliz.

[IVA]:

Naquele dia de trabalho, eu reconhecia Dante, mas em seu antigo estado, que eu cria que não haveria mais. Estava irritado, angustiado e eu ansiava saber o que ocorrera com ele, mas tinha medo de sua reação, então achei melhor não arriscar. Voltou a gritar com os clientes e foi lhe chamada a atenção pelo chefe e agora estava em observação. Eu só torcia para que ele se acalmasse, caso contrário, ia acabar sendo demitido e eu não queria que isso acontecesse! Quando saí da empresa, à tardinha, vi Dante entrando na lanchonte. Eu estava deveras encomodada com sua aflição e resolvi ir ter com ele. Entrei na lanchonete e Dante estava sentado à mesa, com a cabeça baixa. Me aproximei dele e perguntei:

- Posso me sentar aqui?

Dante não disse nada, somente assentiu e eu puxei a cadeira e me sentei em frente à ele. A luz alaranjada da despedida do sol atravessava a janela da lanchonete e no rádio tocava aquela romântica canção "Close to you". Observei a negritude da melancolia na face de Dante e, docemente, comecei a traduzir os versos da música:

- Por que as estrelas caem do céu, toda vez que você passa?...

E Dante ergueu aos poucos o rosto e me fitou com um fraco sorriso e um olhar ainda nublado. E eu continuei:

- Assim como eu, elas querem estar perto de você...

Dante esforçava-se para mascarar sua dor, mas estava estampada em sua face, estava jorrando de seus olhos. Novamente ele baixou a cabeça e eu, me inclinando um pouco para ele, perguntei:

- O que aconteceu, Dante?

Ele levantou a cabeça e respirou profundamente... Olhou para o lado e disse:

- Perdi a última chance de reconquistar Júlia, acabaram-se as esperanças.

- Não pense assim... Nunca é tarde demais.

- "nunca" é uma palavra que não cabe nesse contexto.

- Hhmm...

- Lembro de quando Júlia disse que o amor supera qualquer dor e perdoa qualquer erro em que haja o arrependimento... Mas, acho que ela esqueceu disso.

As palavras de Dante me tocavam como se aquela dor também fosse minha, porém, eu não podia deixar que brotasse toda esta infelicidade e, mirando os pontinhos brilhantes no céu através da janela, falei:

- Sabia que se você fechar os olhos e fizer um pedido à uma estrela, de todo o seu coração, possivelmente ele se realizará?

- Bobagem...

- É verdade!

Falei, e suguei o milk shake pelo canudinho e acabei me engasgando, no que Dante sorriu e olhou para a janela...

- Você tem que fechar os olhos.

Eu disse, e ele perguntou:

- Isso é mesmo necessário? Não posso ficar com eles abertos?

- Não, ou o pedido não se realizará!

- Tá...

Dante fechou os olhos e assim permaneceu por alguns instantes. Quando seus olhos abriram, ele me pegou de surpresa o admirando, encantada com a beleza de seu rosto, no que disfarcei e perguntei:

- Já fez o pedido?

- Já.

- Então onde está o garçon com essa pizza?

(risos).

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 08/11/2015
Reeditado em 13/11/2015
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