ELE ME ODEIA - capítulo XV

Com o coração disparado, eu, dificultosamente, abri a porta do carro e despedi-me de Dante, porém, ele segurou-me pelo pulso, olhou profundamente em meus olhos e disse:

- Espere... Já que iremos esquecer tudo isso mesmo...

Ele me fez chegar mais perto e me arrancou outro beijo, eu já estava abismada e agora bem mais, pois seu beijo não parecia real, por tão bom que era e me levava à loucura, à um desejo sem medida, à um mundo distinto e distante. Quando Dante apartou dos meus lábios os seus, eu ainda quis sentí-los mais, sua boca tinha um gosto tentador, que se derretia na minha. No final, eu podia ouvir também o coração dele bater forte e perceber sua respiração ofegante... Embora aquilo estivesse sendo os céus para mim, passava-se também pela minha cabeça que poderia ser apenas um efeito da tristeza de Dante e de sua carência, mas, que importava? Era tudo o que eu sonhava, o que eu almejava, estava deveras acontecendo, eu estava sentindo! Antes de eu sair do carro, Dante murmurou para mim:

- Não fique relembrando isso, não dê importância... Nada aconteceu aqui.

Quando entrei em casa, tio Ricardo me recebeu com um taco de golfe nas mãos, pronto para bater.

- Ah!!

- Ah!!

- Iva... É você.

- Claro!

Entrei e ele fechou a porta atrás de mim e disse:

- Eu estava assistindo um filme de terror e, vendo alguém girar a maçaneta da porta à essas horas da noite... É assustador! A propósito, por que a senhorita tardou?

- Eu disse que a festa ia demorar.

Pois é, tive que mentir para meu tio e dizer que ia a uma festa na casa de Paloma, por razão de que ele não entenderia a verdade e custaria explicar. Ao me deitar na cama para dormir, me veio sem querer a lembrança daquele beijo recente, não sei o que mais me doía, se era ter que esquecer algo tão bom ou estar ajudando meu grande amor a ficar com outra pessoa. Sacudi a cabeça, me escondi debaixo dos lençóis, só para poder olvidar aquilo, mas era em vão, era impossível! Não, não podia lembrar! Eu não podia.

Semanas se passaram e eu continuamente com as minhas tentativas sem sucesso para convencer Júlia, missão que estava se tornando cada vez mais impossível e deixando-me sem mais idéias e Dante frustrado, ele mesmo voltava a ligar para júlia e do mesmo modo ela não o atendia. Certo dia, eu estava saindo da empresa e o vigia foi ao meu encontro e, como quem não queria nada, falou-me:

- Senhorita Iva, como está?

- Cansada, Alessandro.

Respondi com brincadeira e ele disse:

- Eu não quero ser atrevido, mas, estive pensando... Podíamos fazer um passeio qualquer dia desses.

- Um passeio?

- Sim, para conversármos...

- Bem...

- Por favor, diga que sim!

- Por que não? Não é? Está bem, mas hoje estou muito cansada... Pode ser outro dia?

- Claro, sem pressa.

Nos despedimos e logo em seguida Dante chegou ao meu lado e enquanto caminhávamos ele dizia:

- Acho que ele está afim de você...

- O quê? Não, claro que não!

- Não se faça de boba, Iva, até eu percebi. Ele vem te observando há dias.

Fiquei calada, não achava que Dante estivesse certo do que dizia, então ignorei.

[DANTE]:

Eu estava provando o amargo da minha dor, sendo constantemente rejeitado por Júlia, pagando pelo erro de Iva... E isso me tornava furioso, fraco, inútil! Tudo o que eu fazia e dizia, ainda que em tamanha sinceridade, Júlia via como mentiras e mais mentiras, foi daí que passei a conhecer seu lado maléfico e defeituoso.

Consumido pela repulsa, não admitia que Iva pudesse se dar bem, ela tinha que passar pela mesma dor que eu, e foi por isso que resolvi chamar o vigia para ter uma conversa. Cheguei até ele, calmo, e falei:

- Você está afim da Iva, estou certo?

E ele perguntou, com um olhar desconfiado:

- Por que quer saber isso?

- Por nada... Só acho que, se isso for mesmo verdade, eu não me iludiria no seu lugar.

- O que está dizendo?

- Não quero te aborrecer, mas, acho que Iva não gostaria de um cara como você.

- Como é?

- Bom, é o que ela vive dizendo para as amigas: que não curte caras de baixas condições financeiras e sem falar em outras coisas que ela disse sobre você...

- O que ela disse?

- Não, eu não quero te decepcionar...

- Fala de uma vez, caramba!

- Não vou falar, mas vou resumir: você é muito devagar.

Dei de ombros, com um sorriso sarcástico no rosto e com um único pensamento: "Iva, você mereceu". No dia seguinte, eu já estava ficando enjoado de tanto ver o imbecil do vigia lançar olhares para Iva e ela sorrir toda engraçadinha para ele. Depois, ouvi uma conversa dela com Paloma, falavam sobre um tal passeio no parque que Iva faria aquela tarde com Alessandro, o que mostrava que as coisas entre ambos iam bem e até poderiam dar certo. Abri bem os ouvidos para conseguir todas as informações que me fossem necessárias e recostei na cadeira, repleto de idéias.

No finalzinho da tarde, quando eu não estava trabalhando, avistei Iva e Alessandro sentados na mesinha ao ar livre da lanchonete. "puxa vida, eles estão tão contentes a conversar... Acho que eu não deveria ateapalhar..." pensei e dei uma risada. Então caminhei até a mesinha e, de surpresa, dei um beijo na bochecha de Iva, dizendo:

- Oi, linda...

Em seguida, puxei uma cadeira da mesma mesa que eles e me sentei. Iva me fitou boquiaberta e o infeliz do Alessandro nada estava a entender, porque eu me sentara no meio deles e interrompi a conversa. Nisso, cruzei os braços sobre a mesa e falei:

- Então, sobre o que conversavam?

Iva ainda me olhava perplexa e assim perguntou-me:

- Dante, o que você faz aqui?

- Sim, o que faz aqui?

Alessandro refez a pergunta e eu respondi, gentilmente:

- Sabe o que é? É que eu estava passando por aqui, de bobeira, sem rumo... Aí... Vi vocês, meus grandes e amados amigos! Mas, é claro que eu prefiro você, Iva.

Falei, olhando para Iva e desprezando os demais. Vendo eu que ela nem sabia o que dizer naquele momento, tomei a vez para falar:

- Iva, se você não fosse tão apaixonada por mim, eu acho que Alessandro teria uma chance com você. Não teria?

- Apaixonada? Por ele?

Perguntou Alessandro, fitando Iva, confuso, e eu ria da cara dele no meu interior, querendo dar-lhe um soco e jogá-lo no meio da rua. Repentinamente, Iva se levantou e disse:

- Eu... Eu preciso ir para casa agora...

Alessandro franziu o cenho, com indignação perguntou:

- Mas, já? E a nossa conversa?

- Desculpa, Alessandro, mas eu tenho que ajudar meu tio com algumas coisas... Tchau.

Iva deu de ombros e eu disse para ela:

- Espera, Iva... Deixa eu te dá só um beijo de despedida...

Ela me olhou de um jeito tímido, mas que escondia um vasto desejo. Me aproximei dela e lhe beijei bem perto da boca, quase em seus lábios...

- Tchau...

Falei e ela mordeu os lábios e foi embora. Quando me virei, Alessandro estava de queixo caído e sem palavras. Tudo o que fiz foi bater em seu ombro e dizer:

- Meu amigo... Você é devagar.

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 07/11/2015
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