ELE ME ODEIA - capítulo VIII
Conturbada com aquele beijo, empurrei meu tio com toda minha força e corri para meu quarto, tranquei a porta e me encolhi na cama agarrada ao travesseiro.
- Iva!
Meu tio gritava e ouvi seus passos subindo a escada, no que me amedrontei e imaginei que não tinha corrido para o melhor lugar, embora a porta estivesse trancada. Vi o trinco girar e sufoquei o travesseiro, surpreendentemente ele coeseguiu abrir a porta e caminhou até mim e eu gritei:
- Não!!!
Até que acordei deste pesadelo e meu tio correu para o quarto para ver o que se passava, no que eu lhe bati o travesseiro na cara.
- Ai! Calma, Iva! O que houve?
Minha respiração estava tão ofegante e meu coração tão disparado que pouco me faltava para ter um infarto.
- Sai daqui! Sai daqui!
Eu gritava com ele e este tentava me acalmar, dizendo:
- Foi só um pesadelo, calma...
Até que me dei conta de que não passara de um sonho, um terrível sonho. Recordei de quando cheguei da festa e tio Ricardo já estava roncando no sofá, com a TV ligada e subi para o quarto e acabei adormecendo. Ainda assim, sua presença estava me encomodando e me levantei da cama e desci as escadas rumo à sala. Meu tio veio logo atrás e, vendo-me muito assustada sentada no sofá, buscou um copo d'água na cozinha e me trouxe e disse:
- Toma, bebe um pouco de água para se acalmar.
O fitei, intimidada, e peguei o copo, bebendo da água. Ele se sentou no centro de vidro, de frente para mim, perguntando-me:
- Com o que você sonhou?
Segurei, trêmula, o copo cnm as duas mãos e veio-me as lembranças daquele sonho, todavía, eu já estava me acalentando, em razão de que tudo só foi um sonho e eu já havia acordado. Porém, nada à ele respondi, sendo que não seria uma boa idéia comentar sobre aquilo.
No dia seguinte, eu me sentia bem melhor em meu ambiente de trabalho, apesar de ter que aturar todo mundo falando sobre como foi a festa de Dante ao mesmo tempo. Não demorou para Paloma vir comentar para mim também.
- Foi uma pena você ter ido embora, Iva. Derrubaram o bolo de Dante na piscina e ele ficou uma fera!
- Nossa...
- E não foi só isso! Desafiaram o Ed a comer ciquenta pedaços de torta e ele vomitou nos belíssimos sapatos da Camila Chatanilda.
Eu pedi para Paloma se calar, mas ela continuava tagarelando sobre os desastres da festa, até que Dante apareceu por trás dela e falou:
- Se o seu salário fosse tão grande como a sua língua, com toda certeza você já seria dona dessa empresa.
Paloma se calou num instante e Dante se retirou para sua cabine, estava com uma aparência cansada, como todos os demais. Ele foi beber um pouco d'água no bebedouro, mas sempre se atrapalhava com os copos e eu fui ajudá-lo.
- Deixa que eu tiro.
Falei, e aquela mesma nuvem negra voltou a me cercar, eu já sabia o que aquilo significava... Uma dolorida resposta de Dante para mim!
- Você atrapalha mais do que ajuda.
Disse ele, e senti meu pavio se acender, mas desta vez o pavio foi curto e eu explodi.
- Vem cá, eu sei que você me odeia, que não me suporta, mas isso não é motivo pra você me tratar como se eu fosse um lixo! Qual é o seu problema? Quer pisar em alguém? Procura um tapete ou alguém que esteja mais afim de aturar suas malditas palavras do que eu!
Vociferei. Dante me fitava com seriedade, eu havia chamado a atenção de todos. Ele então disse:
- Se sabe que não me agrada a sua presença, então, por que fica enchendo meu saco?
Eu queria ter dito muitas outras coisas, mas o chefe poderia aparecer a qualquer momento e não me convinha ser despedida, então tentei relaxar e voltei para minha mesa, cheia de raiva. Paloma falou:
- Ele mereceu ouvir isso.
Quase na hora de sair da empresa, eu fui de fininho até um dos corredores e encontrei a faxineira. Cheguei para ela e num tom baixo, lhe disse:
- Natasha, preciso que me faça um favor...
Cochichei algo em seu ouvido e ela falou:
- Mas, senhorita Iva, eu não posso fazer isso!
- Por favor, Natasha, é o melhor jeito de eu resolver o problema.
- Bom... Está bem.
- Então você já sabe, quando ver ele entrando na sala e em seguida eu, faça o que te disse.
- E se alguém vir?
- Você é a última a sair da empresa, não se preocupe.
- Está bem.
Voltei para a cabine e o pessoal já estava indo embora, Natasha passou pela sala e eu fiz um sinal para ela, no que ela correu para o escritório do chefe e bateu com força na escrivaninha, fazendo um barulho estrondoso e depois saiu depressa da sala. Dante ouviu o bater e foi até o escritório verificar o que fora aquilo, eu também fui. Dante olhou de um lado a outro e não viu nada de anormal e eu perguntei:
- O que será que foi aquilo?
- Como eu vou saber? Deve ter sido em outro canto.
Ele se virou e viu a porta fechada, andou até ela e tentou abrir, mas não conseguiu. Forçou a maçaneta e nada... Começou a bater na porta e gritar:
- Alguém aí fora? Abram essa porta!
E eu perguntei:
- Está trancada?
- Nãããão... É que eu gosto de ficar batendo na porta assim à toa.
Ele disse. Então olhou para a porta mais uma vez e falou:
- Já sei...
- O que vai fazer?
- Vou tentar derrubar a porta.
- E você... Pode fazer isso?
- Sai da frente. Ou, se quiser, pode ficar aí mesmo.
Me afastei da porta e Dante tomou impulso e bateu contra ela com o lado do corpo, mas não conseguiu derrubá-la, bateu mais uma vez e também não conseguiu, bateu pela terceira vez e também não conseguiu.
- Não fique aí parada e me ajude aqui!
- Mas eu não tenho muita força...
- E você acha que eu não sei?
Fiquei ao lado dele e de frente para a porta, quando ele disse:
- No três... Três!!
Nós dois batemos contra a porta e ainda não conseguimos derrubá-la.
- Você bateu muito devagar!
Falou Dante e eu disse:
- Eu falei que não tinha muita força!
Em verdade, eu estava torcendo para que Dante não tivesse sucesso nas tentativas de abrir a porta, porque eu precisa ter uma boa conversa com ele. Dante voltou a bater na porta e gritar por ajuda, foi quando falei:
- Eles vão fazer a limpeza da empresa às 5:00h da manhã e...
- O quê? Você acha que eu vou esperar até amanhã para poder sair daqui?
- Não vamos conseguir arrombar a porta, ela é muito pesada.
- Ah, mas quando eu descobrir quem foi o engraçadinho que trancou essa porta...
Continua...